sábado, fevereiro 21, 2015

HELDER BATISTA, ESCULTOR ENTRE GEOMETRIAS

FALECEU HOJE, 21 DE FEVEREIRO DE 2015, UM GRANDE ARTISTA PLÁSTICO, ESCULTOR EXÍMIO, INVENTOR DE NOVOS RITMOS, RESTOS DE ARQUITECTURA. FIGURAS EM RITMO DE DANÇAS LITÚRGICAS. MEDALHÍSTICA COM PRÉMIOS INTERNACIONAIS, POETA DO ESPAÇO E DO TEMPO.


Helder Ernesto Coelho Batista (Vendas Novas, 1932) foi escultor de invulgar mérito, acolhido às formas de uma modernidade experimental e diversa. Professor na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, aliado a uma especial intuição pedagógica,  de bom trato e visível reconhecimento público nos meios artísticos do país, em parte também no estrangeiro, o testemunho que nos deixa tem marcas particulares de um futuro a fazer-se. Arte em si. Arte também em géneros específicos, como a medalhística, onde desenvolveu porventura a obra mais vasta e de qualidade, premiada dentro e fora do país em várias ocasiões, de rosto português.
Artista muito trabalhador, profissional de sério recorte, Helder Batista, durante décadas (entre 57 e 2013), participou com assiduidade no espaço artístico do país, entre exposições colectivas e várias individuais, tendo desenvolvido igualmente obra pública de bom perfil.
Foi admitido nas três grandes exposições da Fundação Calouste Gulbenkian (1957,1961, 1986). E ainda XXI FIDEM; Colorado Springs, USA 87; Europália Portugal 91, Medalha Portuguesa no Século XX, Namur e Bruxelas (1991), XXIII FIDEM, Londres, Prémio Calouste Gulbenkian (1992); Contemporary Portuguese Medal Art - Budapeste; XXIV FIDEM Budapeste; Prémio Johnson para a melhor Medalha cunhada (1994); XXV FIDEM, Neuchatel (1996); Anverso e Reverso +3, Quioto, Japão, XXV FIDEM, Haia (1998); The Stanford Saltus Awards Into The Next Century, New York (1999); XXVII FIDEM, Weimar (2000), entre outras.
Helder Batista também executou várias esculturas para espaços públicos: relevo em Escola Primária de Benfica (1968), Estátua de Vasco da Gama, Vidigueira (1969); escultura em betão policromado, LNEC, Lisboa (1970); escultura em pedra para o Hospital do Funchal (1973); escultura em bronze para a Faculdade de Economia, Porto (1974); escultura em ferro, Direcção Geral dos Portos, Lisboa (1980); Monumento a Pina Manique, Casa Pia de Lisboa (1992); Monumento ao 4 de Outubro de 1910, Loures (1992); Monumento à Paz, Seixal (1994); Monumento ao Resistente Antifascista Alentejano, Montemor-o-Novo (1996); Monumento ao 25 de Abril, Oeiras (2000).

Obra de um artista persistente e renovador; intervenção pedagógica no ensino superior artístico, entre participações em actos sobre géneros de arte. A sua morte ocorreu hoje, mas o futuro conservará este vasto e inovador testemunho.



quarta-feira, fevereiro 11, 2015

A MORTE DE KAYLA SOB O ISLAMISMO RADICAL

A FÉ CEGA QUE MATA UMA JOVEM DEDICADA A AJUDAR CRIANÇAS, TENDO VIAJADO PARA A SÍRIA NUM SENTIDO HUMANITÁRIO, APONTA AO MUNDO A INVIABILIDADE  DE  LEITURAS  TÃO  ERRÁTICAS  SOBRE DEUS E  O  VALOR  DA VIDA DOS POVOS, OS QUE SE RESPEITAM ENTRE SI, OS QUE ACEITAM PARTILHAR AS COISAS, ACEITAR  AS DIFERENÇAS, ASSUMIR A COLABORAÇÃO COM OUTRAS COMUNIDADES, PRÓXIMAS OU DISTANTES.

Kayla Jean Mueller

Trata-se de mais um caso inscrito a sangue no teatro de operações alimentado pelo auto-denominado Estado Islâmico. Uma luta contra vários povos em redor, contra o próprio Ocidente, inclusive, onde se recrutam combatentes estranhamente convertidos ao islamismo, por vontade paradoxal de ALA, que significa paz, e visando também uma espécie de antigo império por todo o sul da Europa e norte de África. Os guerreiros islamitas têm exercido grande devastação nas terras que chamam a si, condenando à morte, por degolação, inúmeros reféns ou gente rebelde à sua óptica ideológica, ou pessoas raptadas em vários pontos da região, longe dela também, as quais são postas perante os países de origem em situação de resgates multimilionários, fonte de grandes poupanças para o movimento em total alucinação afirmativa e de conquista. Muitos países têm negado tais pagamentos e os islamitas filmam e divulgam por todo o mundo os rituais da degolação.
Raptada em 2013, Kayla ainda dirigiu uma carta aos pais mas nunca mais se soube do seu paradeiro. Era claramente refém do Estado Islâmico. A sua morte foi considerada por aquela entidade embrionária, entretanto condenada por quase todos os povos e na sua absurda voracidade sobre os que anatemiza sem juízo: os islamitas atribuíram a morte de Kayla aos bombardeamentos da aliança ocidental. Nada indica que esse facto tenha ocorrido incidentalmente. Kayla dedicava-se a prestar assistência a crianças órfãs ou separadas das suas famílias, o que não deveria intrigar os seus raptores. De resto, o quadro humanitário da rapariga americana, passa para uma dimensão de outra escala, devendo pertencer a áreas onde os acasos de flagelações aéreas seriam muito pouco prováveis, tendo em conta a sua orientação para ajuda a curdos no sul da Turquia ou ataques e logísticas bem mapeados nas várias acções e no seu tempo próprio.
O sorriso de Kayla fala-nos de amor, de afecto, não de ódio ou dura determinação contra os princípios que a nortearam até à idade que tinha: 26 anos.
Esperemos que um dia se possa saber dela, do seu empenho, como de outras pessoas que não emigram para a Síria para se integrar nas forças islâmicas. Há os meros observadores de aventuras travadas em más poeiras ou os jornalistas e aqueles que também aplicam a ciência à natureza e geoestratégia destes conflitos. Se ALA é grande, mensageiro da transcendência do Universo, não é com certeza tutela sem alma de uma tragédia imensurável, que o denega.


segunda-feira, fevereiro 09, 2015

CABRITA REIS, GÉNIO CONTRA O HORROR


pedro cabrita reis

                                                       
OBRA EM TOULON

Cabrita Reis é um artista de grande projecção internacional, obra plural e problemática, representado por muitos museus , colecções e coleccionadores, algo excêntrico, sábio a pensar o seu ofício, o discurso da sua arte. Jean François Chougnet nomeia-o de génio, porventura em termos de fascínio a par de profunda complexidade das aparentes ocasionalidades de alguns dos seus arranjos, instalações performativas. Há uma certa discrição no espectáculo humano e artístico de Cabrita Reis: como no cinema onde também actua, pode parecer um monstro sagrado; na relação quotidiana, e de país em país, não explora a mediatização, não viaja obra em cacilheiro, prefere o cobre e a madeira às plumas. 
Nesta fase, repare-se: obra feita de calhas de alumínio, iguais lâmpadas fluorescentes, cabo eléctrico, molduras de janelas, portas usadas. No Hotel onde se encontra instalado diz que um bom artista é «mudo».
«Em arte -- sublinha Cabrita Reis -- nada vem do zero. Cada objecto parte de uma longa história. E eu estou dentro dessa história, tal como as minhas obras, que espelham a forma como eu e elas nos posicionamos no mundo. E é o conjunto desses olhares que constrói civilização. A civilização não se baseia em ataques assassinos, como recentemente se viu em Paris. É justamente por isso que temos sempre de nos manter curiosos face à arte: é absolutamente necessário manter muito alto a criação, a liberdade e a imaginação -- contra o horror.» 

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citações a propósito de um texto de Chougnet, em encontro com Cabrita Reis em Toulon