sexta-feira, dezembro 31, 2010
GOSTO CEGO DA MODA OU LENDA DE AUSCHWITZ?
quinta-feira, dezembro 23, 2010
LUTAS E ERROS NATURAIS GRITAM MAIS MORTES
A Europa, após uma história onde grandes tragédias se produziram, gerando milhões de mortos e milhares de derrocadas do património construido, Dresden só ruínas e silencios no limite, foi reconstruída no século em que, por duas vezes, esteve à beira do abismo ou do suicídio. Foi no século passado, século XX, estranhamente uma das épocas em que as revoluções industriais e as descobertas tecnológicas chegaram mais longe, tendo o homem aflorado o vazio do espaço cósmico e viajado, várias vezes, até à Lua, que o homem pareceu capaz de representar o futuro e anunciar a utopia das emigrações entre mundos. Mas essa Europa, trazendo consigo a memória da reconstrução e os efeitos de novos arranjos sociais, entre a defesa de direitos naturais e a concepção de novas estruturas sócio-políticas, chegou ao século XXI como uma grande instalação comunitária, na perspectiva de criar um outro espaço de poder, dotado de moeda única, congregando a adesão de dezenas de países em torno do que parecia ser a coroação de uma ideia solidária, de uma partilha do bem estar e da gestão de recursos entre todos, reguladamente, respeitosamente, segundo tratados que evoluiram de fase em fase, até ao último nesta data, o tratado de Lisboa. A breve trecho, apesar da entrega de fundos aos países menos evoluídos, tendo em conta a consolidação de meios de produção e atributos circulando livremente nas trocas de todos os tipos, algo de demasiado coordenado, calibrado, cotado, entre limites disto e daquilo sem um verdadeiro aprofundamendo das virtualidades de cada região, história, cultura, criação de bens e processos de trabalho na qualidade, começou por ensombrar uma visão menos burocrática das coisas, alargou-se insidiosamente por sinais da ordem das tecnocracias. As regras vieram desabar um pouco por toda a parte, abstractamente ditadas de Bruxelas, coração da agora chamada União Europeia. A arquitectura de minúcias começou a obstruir países periféricos, como a Grécia, a Espanha, Portugal, a Irlanda enfim, com sintomas de que a pulverização económica e os desastres financeiros à escala planetária fazem parte de contaminações absurdas e de uma espécie de super-máfia que tudo pode influenciar, tudo pode distorcer, tudo pode infectar até um novo abismo cuja fractura absorvente é preciso a todo o custo evitar, invertendo as seduções que a uma espécie apocalipse vão conduzindo, sendo geradas pelos sistemas económicos enfeudados à volúpia do crescimento, da riqueza, do endividamento, de tudo, enfim, cuja natureza deveria ter sido sonhada ao contrário.
Se a imagem aqui reproduzida traduz um dos maiores desastres naturais, entre muitos outros que o próprio homem tem ajudado a convocar, outras vão surgindo, entre a fúria dos elementos e a disputa dos homens em torno de novos poderes e de novas grandezas um dia abaladas como o foram as Torres Gémeas ou a imensa fraude financeira expedida por Wall Street. A América vergou os joelhos, a esperança tão bem traduzida por Obama foi confrontada com todos os desesperos emergentes. Na Europa também, e pelos mesmos pecados, enquanto os maiores operadores da especulação de valores monetários se crisparam contra o euro, através das maiores fragilidades e poupando o poder nuclear que representam a Alemanha, a França, a Inglaterra. As assimetrias abriram fendas por todos os lados, o cataclismo lembra os outros, os naturais, que tantos milhões de mortos fizeram. Com uma orientação destas, assombrando as soberanias nacionais, os tecnocratas de Bruxelas, economistas sobretudo, não vão longe. As uniformidades que vergam regiões, países pequenos mas antigos e de culturas profundas, a um quadro sem metas proporcionais, são traçados que rasgam no mundo as maiores e mais perigosas assimetrias.
sexta-feira, dezembro 17, 2010
OUT OF CONTEXT - FOR PINA | ALAIN PLATEL
Trata-se de uma peça grandiosa, onde o corpo refloresce a cada instante, composição cénica que nos mobiliza intensamente o olhar: algo que parece surgir-nos pela primeira vez, em estado de absoluta recepção: OUT OF CONTEXT-FOR PINA. É, de facto, um decisivo encontro cheio de reencontros e por eles as marcas de Pina Bausch. Ela dizia que a liberdade característica do seu movimento vinha do imenso trabalho que nele colocava. Esta ideia é, porventura, uma linha convocada para a peça aqui referida.