quinta-feira, novembro 10, 2011

JOANA SANTOS ÀS VOLTAS COM OS BRASILEIROS

Joana Santos

Por muito que os modelos comerciais destruam a verdadeira qualidade que as novelas podem ter, ao certo sabemos, contudo, haver em Portugal uma grande quantidade de actores potenciais ou de facto bons: os audio-visuais afundam-se em horas e horas de publicidade, o cinema está a ser atacado pelos corredores comerciais, o paleio do entretenimento, o gosto do público, tudo contra a expressão de maior profundidade, o vínculo a um património universal feito de autores e de obras sublimes.
Joana Santos distinguiu-se numa recente novela da SIC. Olhar o seu rosto quando mudava em silêncio a expressão de falso júbilo para um ódio calculado era uma experiência de grande absorção e interesse intelectual. É esse talento, essa medida, essa especial mudança de registo, que devemos louvar e cultivar. A arte de representar (no caso das artes temporais) deve munir-se de meios para criar referências cada vez mais nobres. A actriz Joana Santos foi considerada ideal para o papel de Júlia Matos, papel já assumido por Sónia Braga, na novela de de Gilberto Braga. A actriz portuguesa está naturalmente entusiasmada e consta que, na relação produtiva Portugal/Brasil, frequentará aulas e orientações para o seu trabalho. É certo que não confio muito nos brasileiros, apesar do êxito das suas telenovelas, e por isso receio que a qualidade nata de Joana Santos seja inquinada por lances e maneirismos infecciosos. O Brasil é um país que amamos, bem como, em geral, os brasileiros, mas a estagnação de novelas com bandas de som estereotipadas, cenas arrastadas para suportarem canções de fundo (afinal a morderem o primeiro plano), tudo isso, as misturas decorativas, as histórias dentro da história, Ad hoc, tudo isso, enfim, vai fazendo «escola» na nossa televisão, a TVI, a SIC. Há toda uma teoria para este campo de criação que está por explorar. Quanto a servir o prato de que o público gosta, isso é um simples embuste. O gosto educa-se, faz-se evoluir, não se cristaliza em modelos fossilizados.
A maior lucidez para Joana Santos, que já fez provas convincentes.

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