segunda-feira, abril 28, 2014

VASCO GRAÇA MOURA, UM HOMEM RARO


VASCO GRAÇA MOURA

Apesar da fragilidade transferida pela doença, vinda do nada, ele resgatou até aos últimos dias a imponência conquistada: na voz da escrita, nas palavras redescobertas das traduções, nos poemas quase ocasionais que grava aqui e além e em vários livros decisivamente importantes. O que admira, nesta vida plural, de muito trabalho e forte intervenção, é a persistência, a continuidade, a iniciativa. E sobretudo as exímias traduções (Shakespeare ou Dante) que espantam de forma profunda pelo rigor, interpretação e pela qualidade de excelência.
Morreu no sábado, com 72 anos, respondendo sem recurso a poemas ou referências literárias. Homem da palavra, viu-se confrontado, nos últimos anos, com uma das mais difíceis espécies de cancro. Essa luta, como muitas outra, passou também pelo seu vertical desacordo do «famoso» acordo ortográfico da língua portuguesa, entorse incompreensível a uma língua rica, aliás bem utilizada nas grandes traduções que Vasco Graça Moura realizou e lhe fez merecer o prémio de melhor tradutor do mundo, pela escolha da Itália.
Tinha, no Centro Cultural de Belém uma posição nítida e empenhada, recebeu uma das mais significativas condecorações portuguesas.
Ele diz: «Em Portugal está a faltar muita poesia. Não eche a barriga, mas pode ajudar a encher o espírito. Tudo o que importa a uma dialéctica de opostos é importante. Pelo menos um embrião de conflito. A unanimidade é a mais banal e empobrecedora das situações.1

                             
                                                 A pena de todas as escritas

1 citado da Visão

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