quarta-feira, setembro 03, 2008

AS MÁSCARAS E O CORPO, ARTE OU DESEJO

AS TRIBOS DE OMO
fotografias de Hans Silvester



Nos confins da Etiópia, entre séculos de modernidade, Hans Sylvester dedicou seis anos a fotografar tribos ou homens, mulheres, crianças e velhos, verdadeiros génios de uma arte ancestral. A seus pés, eles tinham o rio Omo que cavalga o triângulo Etiópia, Sudão, Quénia, o grande vale de Rift que se separa lentamente de África, uma região vulcânica, enfim, que forneceu a estas comunidades uma imensa paleta de pigmentos, ocre, ocre avermelhado, verde, amarelo, branco ou cinzento. Na verdade, essa gente invulgar tem um jeito dinâmico para a pintura e usa como suporte das tintas o seu próprio corpo. Como chegam a medir dois metros de altura, não têm melhor tela para exercer a magia da sua arte. A força dessa arte pode resumir-se a três palavras: os dedos, a velocidade e a liberdade.
Desenham, por exemplo, com as mãos abertas e com as pontas das unhas, por vezes com um bocado de madeira, uma raiz, um tronco queimado. Os gestos são vivos, rápidos, espontâneos, desde a infância; tais gestos consolidam um movimento essencial que faz lembrar os grandes mestres contemporâneos, justamente quando eles têm muito para aprender e tentam, por bem, tudo esquecer.
Somente o desejo de ornamentar, de seduzir, de ser belo, um jogo e um prazer permanentes, isso lhes parece bastar, às gentes de Omo, para mergulharem os dedos na tinta e, dentro em pouco, dois ou três minutos, alcançar a expressão plástica: ela surge sobre o peito, os seios, o pubis, as pernas, tudo nada menos que as conhecidas invenções gestuais, mais ou menos contidas, de um Miró, um Picasso, um Pollock, um Tàpies, um Klee. Todas as diferenças são aqui ultrapassadas e aceites as semelhanças da vontade intrínseca, lúdica, litúrgica, entre a beleza e magia do ser.

3 comentários:

naturalissima disse...

Máscaras que não escondem olhares sublimes. Cores e formas que afastam ou chamam os antepassados, outras que nos revelam fertilidade, virgindade, feitiçaria, desejos e encantamentos.

Expressões de arte: "mais ou menos contidas, de um Miró, um Picasso, um Pollock, um Tàpies, um Klee."

Maravilhosas iamgens... de encantar.

sobrinha@sua

Justine disse...

Recebi de um amigo um slide-show com as fotos que Hans Silvester tirou ao longo de anos a esta tribo, e tudo é um fascínio: os rostos, as encenações, as pinturas, as fotos.
Obras de arte vivas

(vim até aqui via Fotodicionário do Palavra puxa Palavra...)

jawaa disse...

Como sempre, as palavras certas para nos apresentar estas fotos magníficas.
Obrigada.