terça-feira, novembro 17, 2015

MITOLOGIAS DA POLÍTICA E GOVERNOS ADIADOS





Presidente Cavaco Silva

Em Portugal, entretanto inundado por programas de televisão em regime de continuidade sobre os atentados acontecidos em Paris pela mão Daesh, as eleições legislativas já ocorreram há um mês, tendo o governo minoritário de Passos Coelho sofrido o efeito derrubante de uma moção de censura. O partido socialista, que, a seu tempo, aceitou complexas operações para apear António José Seguro (secretário geral do Partido) a fim de realizar uma linha eleitoral em que concorria àquele lugar António Costa (na altura presidente  da Câmara Municipal de Lisboa). Após um tempo infinito, entre debates e movimentos vários, António Costa ganhou largamente o lugar, arrebatando-o a Seguro. Não parece bonito, mas naquele tempo muita gente achava pouco substancial a argumentação política e de projecto da parte de José Seguro.
Só perto das eleições legislativas António Costa se pôs a caminho, registando-se nas sondagens iniciais que lhe eram muito favoráveis, na zona da maioria absoluta.
O governo da Coligação continuava  afagando um vago sucesso depois de troika e abordava a necessidade de reformas estruturais, sobretudo no aparelho central do Estado, agilizando sectores e formas de abertura a novas relações com as feridas do país. Não houve, contudo, senão um papel redigido por Paulo Portas, umas folhas que tivemos oportunidade de ler e que não tinha qualquer dote sequencial e orgânico no sentido de uma verdadeira reforma do Estado. Dir-se-ia que o autor se esquecera do assunto e apressadamente enunciara umas duas dezenas de linhas indicadoras. Ninguém se dispunha a considerar isso um projecto e reforma, nem os cortes nas contas públicas como uma via certa e de conexões funcionais para a tão almejada reforma. Só se verificaram, um pouco mais para o fim da legislatura, certas medidas pontuais, qualquer coisa como «esta medida de Janeiro passa a ser tomada em Março», «aquele nível de subsídio passa do nível x para um aumento y de 0,9%»
Este governo caíu e os seus líderes (com aliados) mostraram grande azedume. O partido Socialista, quer baixara a sua fasquia ao ponto de perder votos perante os da Coligação, tratou do caso em sucessivos golpes negociais com o Bloco de Esquerda e o Partido comunista, além do Partido Os Verdes, procurando obter uma maioria na Assembleia  da República, algo mitigada entre programas alheios e o seu próprio programa. Foi um trabalho invulgar, talvez uma experiência de todos em novas partilhas, mas os membros desses partidos não entraram ara membros do futuro governo do Partido Socialista. Um golpe de prudência perante navegações de risco e uma forma de tratarem à rectaguarda os apoios à gestão do governo (de novo negociada, em casos que fossem além dos já estabelecidos).
Alguns disseram que era golpe, outros que estava dentro das regras constitucionais, o país dividia-se ao meio. Seja como for, no primeiro embate na Assembleia, ainda era fácil prever que frutos se obtenham. E o resto ficaria a dever-se ao Presidente da República. O Presidente torcera o nariz e »desertou» até à Madeira, onde ainda se encontra à hora em que escreve. E, curiosamente, o Costa, ontem à noite na televisão, explicou o sentido da sua reforma com exemplar limpidez, tranquilo, exemplificando a mecânica dos arranjos. E hoje as pessoas andavam agitadas: porque o residente falara, de longe, num governo de gestão que comandara durante 5 meses. Cinco meses nesta hora, com a Europa que temos e as crispações que vão pelo mundo, é coisa não menos que bizarra.
Imagino que o Presidente chega hoje. Amanhã vai ouvir mais gente, bancos, sindicatos, pescadores, gestores qualificados. Por aí. Depois as forças Armadas, penso, porque Holande está em guerra com os jihadistas e não sabemos se o Partido Comunista ou a Catarina já se converteram ao islamismo radical. Será que no terceiro ou quarto dia, ainda o Presidente ouvirá o Conselho de Estado? E se eles estão infiltrados