segunda-feira, julho 22, 2013

MORRE OUTRA CIDADE CENTRO MÍTICO DO MUNDO

                                                            


«Detroit já não é o centro do mundo»

Frase lapidar na gíria daqueles que assistiram à grandeza progressiva da cidade de Detroit, nos Estados Unidos da América, centro fulcral da indústria automóvel, exemplo de um certo modo de vida e da arranjo arquitectónico das novas cidades, aliás sobrecarregadas em altura e rodeadas de guetizações e fábricas ou monumentais armazéns de estruturas monolíticas, afinal frágeis, numa ideia do descartável e de futuras substituições através da implosão.
Estas estranhas transformações ligam-se cada vez mais com os modelos económicos e a mobilidade no voraz cuidado com o dinheiro. Tim Lee, Presidente da General Motors nas operações fora da América do Norte, foi o inventor daquela sarcástica caracterização da actual cidade de Detroit. Pode haver ali um quartel general, mas a cidade já não tem força nem poder para honrar a sua história e desagrega-se de forma patética, como todos vimos há dias na televisão, numa amarga fotogenia do abandono. Ali havia brilhante vida nocturna e força económica,  mais  de um  milhão  de  habitantes,  e  agora  as  autoridades  locais  esforçam-se o mais possível para dar algum sentido aos seiscentos mil cidadãos sobrevivendo ao desemprego/emprego. É a mistificação habitual, como entre nós, mercearias pinocas multiplicadas por vários países e com sede na Holanda, por causa de uns troques dos impostos. No caso aqui noticiado, há vários Estados Americanos, e até mesmo no México, onde a mão de obra é mais barata. A Chrysler, agora parceira global da Fiat, vai desenvolver cada vez menos produtos na sua matriz e priorizar modelos já consagrados na Europa. Cá está a Europa, velha de si mesmo, com um euro mal instalado e uma Alemanha a travar tratados e outras cintilações, por agora à espera de umas eleições em Setembro. E em Detroit, a sobreviver a todo o vapor, apesar de tudo e da anunciação dos desertos pós-civilização global e do dinheiro, a Ford cola-se aos Brasileiros e aos Chineses, prioridade aos emergentes e outras utopias assim.
Diga-se ainda: e a agricultura em volta? Enquanto a agricultura não chega, muitos empresários locais mobilizam-se para adaptar os  seus negócios à nova realidade. Que realidade? Antigas empresas montadoras, produzindo peças para automóveis, enfrentam a queda da demanda por parte de outros parceiros. Um senhor Walker disse há dias que decidiu abrir a sua logística e o seu projecto à agricultura, tornando-se o «maior produtor rural do mundo.» Compram-se áreas abandonadas e abre-se uma rede de dependências a partir da futura agricultura naquela zona, com mais empregos e abastecendo de perto a decadente cidade. Diz um tal Hantz: DETROIT VAI SER A MAIOR FAZENDA URBANA DO MUNDO. 
Não importa mais nada. Oxalá ele enfrente a globalização sufocante, com dez milhões de chineses recomprando terras e enlameando tudo com um novo o arroz feito por pobres que enriquecem na conquistas das próprias arábias. E anda Portugal a julgar-se devastado e periférico quando é o maior país da Europa, com uma plataforma marítima imensa onde há de tudo, até chineses com guelras. Habituados aos serviços, os portugueses emigram para trabalhar sob gabinetes de néon e fazem agricultura biológica. Já nem lutam pela sua maior riqueza (O MAR) e, embora sábios da engenharia náutica, deixam-se governar por governos que até Sines esquecem, bem como todos os estaleiros que poderiam florescer nesta faixa de terra abandonada para os lados de Espanha, sendo afinal, olhando para o Oceano, o verdadeiro ROSTO DA EUROPA. Fernando Pessoa o disse. Mas era um poeta e não vivia na Linha.

sexta-feira, julho 05, 2013

A CRISE E O NERVOSISMO DOS COMENTADORES

CONSTANÇA
Esta senhora não é funcionária pública e parece não correr o risco de ir parar à imensa multidão dos desempregados em Portugal. Mas se é uma profissional de comunicação televisiva, agora com bastante trabalho como comentadora política, a solo ou coordenando debates, então é urgente que se contenha nesta última situação, interrompendo os participantes e metendo em cunha perguntas a despropósito. Por outro lado, embora o ecrã de televisão seja carinhoso com ela, a sua intervenção individual mostra-se nervosa, demasiado afogueada e com falhas de respiração. Sem ofensa, parece que a estação onde trabalha possam dar-lhe oportunidade de reciclar a sua formação vocal e o modo como deve ritmar e colocar tanto a voz como a qualidade gestual da sua  presença.

quinta-feira, julho 04, 2013

MAIORIA GOVERNAMENTAL OU MINORIA MORAL?



No limite mais extremo da situação precária em que Portugal se encontra, a depender do maior bom senso e cada vez menos das idiossincrasias  partidárias e pessoais,  Paulo Portas quis seguir a ruptura, esquecendo-se de atar a corda ao pescoço. Mandou apenas um bilhete como o senhor Vitor Gaspar. O PÚBLICO disse: «surgiu ontem ao país como o arauto de uma causa justa, a do crescimento que o chefe do Governo quer arruinar. Mas bastaram 24h para se perceber que as suas palavras representavam mais a imprevidência do que a sensatez, mais a irresponsabilidade do que o sentido de Estado. Feitos os estragos, Portas apresenta condições para manter o Governo, mas sabe-se que o faz mais por instinto de sobrevivência política do que por convicção.

Vitor Gaspar, Ministro das Finanças de um Governo de graves falhas, é só parte da actual crise. Deu-lhe parte de si mesmo, fiel a uma certa teocracia da austeridade. A crise foi aprofundada com a sua tecnicista prosa de uma tecnicista e pessoalíssima retirada de cena. Como se isso fosse banalmente remediável e sem ninguém reparar, Gaspar abriu a porta da gaiola, cogitou um adeus avaro e talvez tivesse pensado que a malta depressa curava a feridaSó abriu a cova europeia e paulista pronta a receber o país. E alguém disse que o rosto de terror só se desvenda ao fim de dois anos.
O primeiro ministro, sempre muito senhor de si, discursou em tom patético perante o país, disse que não se demitia, não abandonava Portugal, e desandou para Berlim, onde anunciou e lamentou o caso Portas, a má vontade contra Maria Luis Albuquerque, e voltou a Lisboa ainda a tempo de perceber que a malta do CDS não havia embandeirado em arco com a gestualíssima retirada de Portas. E recebeu o homem do Independente pela noitinha, em negociações, para remendar a situação. O país vive em suspensão, Cavaco vai ouvir os partidos (que partidos?) e José Seguro, pomposo e ingénuo, grita por eleições, quer o poder sem saber que não há poder em Portugal, e nem ouviu Medina Carreira dizer: «Eleições agora era o pior que se podia fazer.»