terça-feira, dezembro 13, 2011

EXPERIÊNCIAS QUE BUSCAM A PARTÍCULA DE DEUS


LHC, o maior e mais potente
colisionador de partículas do mundo

O homem, pelos meandros das crenças e na positividade das ciências, jamais aceitou ficar só no Universo, sem estar preso às raizes de uma criação de si e das coisas em volta, até ao infinito. As posições a este respeito têm evoluído em vários campos de investigação, sobretudo no domínio da física quântica. A organização europeia de investigação nuclear (CERN) gastou mais de 10 anos para construir o LHC, o maior e mais potente colisionador de partículas do mundo, instalado num túnel de 27 quilómetros, debaixo do chão, a cem metros de profundidade. Está situado perto de Genebra, na fronteira franco-suiça. O LHC levou década e meia a conceber e a desenvolver, a construir e a montar, estando agora a operar, com resultados na física, desde Março do ano passado.
Esta estranha máquina, perante a qual a Ficção Científica parece coisa menor, tem em vista, por aceleração nuclear e velocidades calculadas para colisão de partículas sub atómicas, procurar o que a teoria parece ter estabelecido a fim de explicar o mundo material e as suas leis: a existência de uma partícula invisível, (como que não existente)a qual foi nomeada Bosão de Higgs. Na verdade, apesar de ter sido previsto há mais de três décadas pelo físico que lhe deu o nome, para explicar esse passo fundamental que é a aquisição de massa pelas outras partículas, o Bosão de Higgs nunca foi encontrado. Nas últimas décadas, os físicos do CERN procuraram sem descanso esta partícula. Isso tem sido feito através da colisão de outras partículas no Large Electron Positron, antecessor do LHC. Com este novo dispositivo e com as experiências nele desenvolvidas, os cientistas pensam encontrar, em 2012, o Bosão de Higgs ou, como se diz popularmente, a partícula de Deus.
Hoje será comunicado ao mundo o ponto em que estão as investigações após um total de quatrocentos mil milhões de colisões, havendo, segundo se crê, indicações estimulantes. A prova da colisão que se espera obter explicará uma cadeia de fenómenos capazes de sustentarem a aquisição de massa pelas partículas conhecidas e a ordem dos desenvolvimentos físicos, no espaço e no tempo.
Para alguns cientistas, aquela partícula infinitesimal, em colisão reveladora, será a própria coisificação de Deus, mesmo invisível. A relação entre um Deus impalpável e criador de todas as coisas com esta minúscula centelha capaz de desencadear a dinâmica das outras partículas e de todas as somas cósmicas em movimento. Sendo pouco, é muito ou é Tudo. Nunca passará de um símbolo, não de uma inteligência suprema na omnisciência e omnipresença consagradas por algumas religiões. O nome e a indução da descoberta são humanos, Deus também, mas a finita humanidade passará a dispor de um jogo inicial donde extrairá melhores indicações para a formatação de um como inenarrável para esta aventura em que acabaremos por desaparecer sem alcançar a transcendência de um pai universal.
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Dados extraídos, em parte do Diário de Notícias, textos de Filomena Nave

segunda-feira, dezembro 12, 2011

OS ESCRAVOS QUE NOS HABITAM A ALMA


cemitério de escravos em Lagos

Li num jornal, por acaso, levado pelo poder de atracção das imagens. Tratava-se da descoberta, em Lagos, de um cemitério de escravos, alguns enterrados sem grande cerimónia, os que morreram antes de partir, certamente, não os outros, porque esses nunca voltavam.
Creio que os negreiros que caçavam esta gente o faziam perto da costa da Guiné, era mais perto e bem mais rendoso. Trazidos para o sul de Portugal, os escravos, presumo ser necessariamente aí que os apuravam duramente no sentido de os valorizar em termos de comércio, do outro lado do Atlântico. Não vou confirmar nada disto porque, a partir da certeza arqueológica, o resto vem de longe dentro das nossas almas reencarnadas e hoje somos de novo testemunhos de mais escravatura, outra, menos regulada e mais aterradora. África ainda ganha o vértice da maioria, mas entretanto as coisas confundiram-se entre guerras e fomes e falsas independências. Os Tuiti e os Undo, há bem pouco tempo, mostraram-no à saciedade, entre notícias escorreitas, apesar dos corpos, em dois meses, terem obstruído um rio de importante caudal. Os escravos dos escravos, delineados em etnias, ainda sentem o direito à liberdade, agora não dos exércitos brancos, agora dos seus próprios irmãos de raça. É outro tipo de escravatura, quando é.
Na velha Europa em decadência, que talvez só agora esteja a reflectir e perda dos impérios e da decisiva mão de obra da escravatura, as relações humanas perdem em cultura o que ganham através de diversos tráficos, processo entre irmãos mafiosos, para trabalhos forçados nas quintas espanholas, enviesadamente na construção civil, ou para servirem, ainda tenros, nos negócios da expurgação e venda de órgãos logo prontos para entrega nos Centros de transplante.
Na imagem em baixo, o esqueleto mostra sinais de manietamento, embora essa prisão não tenha sido feita com objecto de metal, como correntes, mas muito provavelmente com cordas. Vários esqueletos foram encontrados assim no local. A descoberta arqueológica, dizem, é importante e abre vários campos de pesquisa.
E agora? Isso é relevante?
Estaremos perto de mais um património material da humanidade, assinado pela Unesco?
Porventura.

domingo, dezembro 04, 2011

PORTUGAL: A FRONTEIRA OCIDENTAL DA EUROPA



Foi Fernando Pessoa quem antecipou o que a geografia mostrava sem eufemismos.
Ele o disse, na mensagem da sua poética: Portugal é o rosto da Europa. A grande manobra financeira que veio sobrepor-se, entre perdas, à memória histórica e geográfica da Europa, tudo sob uma moeda única, o euro, diluídas as fronteiras, concentradas as nações na ideia de União. Era um dos mais arrojados projectos no âmbito da realidade contemporânea. Mas, para além dos grandes fundadores, os tratados sucessivamente instituídos nunca foram amplamente aprovados pelas populações; e o referendo, grande instrumento democrático, escassamente usado nos vários pontos onde a voz do povo deveria assim ser consultada, teve votações negativas, acabando pateticamente por ser repetido até que a pressão política se encarregou de desfazer a teimosia «de quem mais ordena». Aquilo que pode ser, bem, o colapso do capitalismo (pelo menos na sua forma actual) veio assolar o mundo sob o peso ruinoso da globalização. Era a crise. A Europa utópica tremeu. As assimetrias aceites em solidariedade e projecto de partilha passaram a secar no quadro das evidentes fracturas de interesse e grandeza. A incompetência dos políticos tornou-se notavelmente evidente, enquanto o chamado eixo franco-alemão (donde vem esta palavra?) se sobrepôs aos órgãos estruturais da União: Sarkozy e Angela Merkel uniram os trapinhos dos respectivos interesses e calendário eleitoral, multiplicando-se em encontros supremos, assíduos, após os quais aquele bizarro casal de trabalho (sem legitimidade institucional) declarava novas ideias e novas decisões. Merkel tem vindo a abusar dos avisos aos que revelem menos ordem e menos disciplina (só financeira?), sempre a insistir, em mero disfarce, nos países da periferia, logo chamados periféricos, coisas menores, gente pobre e sem capazes métodos de vida comunitária. Falou-se em abandono da periférica Grécia, da sua saída do euro, hipótese que parecia envolver toda a periferia, criando-se duas velocidades para a mobilidade progressiva da Europa. A catástrofe começou a ser anunciada, nessa ou noutras formas, como próxima.
O
mundo agita-se, os resgates de países em dívida denegam os princípios, e a Alemanha, discordando de tudo o que pode pedir-lhe um sacrifício solidário, ajuda à perda, às contradições silenciosas, ao reforço da ideia de uma periferia minimizada e talvez dispensável. No que mostra sobrepor aos outros uma ideia centralista das fronteiras políticas e geográficas deste grande espaço, no qual uma boa parte da história universal foi fortemente influenciada pelos países mediterrânicos, a sul, e pelo lado de Portugal e Espanha, sendo o primeiro, claramente, com toda a sua importância dantes e hoje, durante quase nove séculos, a fronteira (a costa) ocidental da Europa. E isto deve começar a entrar na cabeça da chanceler da Alemanha. É deste lado que muitas coisas foram outrora pensadas e executadas, devendo passar a haver mais treino quanto à ideia de mudança. Mudar tratados não é como mudar um copo de um lado da mesa para outro lado dela, pois dessa forma tudo fica na mesma ou muito perto disso. O que importa é fazer diferente. E para isso torna-se imperativo deitar para o lixo as instituições rapaces de notificação, porque esse é que é o reino da periferia mal escondida, que nos degola na maior conspiração de sempre. E não é uma conspiração da teoria, é o rompimento da ganância e das distorcidas áreas de corrupção. Antes que a Alemanha, e a própria França, fiquem cercados de periferias sem nome, os órgãos europeus devem tomar medidas de respeito mútuo, reconhecendo que à costa ocidental da Europa (fronteira secular e aberta ao futuro, pelo Atlântico fora) é parte importante da História do espaço de civilização avançada, pós colonial, este nosso caminho de ligação entre as Américas e a União, periferia dourada, incluindo a costa voltada a sul mas pertencente à mesma coesão geográfica.
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Considerações em torno de uma recente entrevista televisiva de Pedro Bidarra, defensor desta tese