fotografia de Miguel Baganha
Desde que apareceu no firmamento das artes visuais em Lisboa, Miguel Baganha pintou e fotografou, acedendo a galerias, iniciando uma aventura hoje tão difícil e agarrando o sentido da experiência, interagindo entre o ver e o fazer em dois campos fundamentais das artes da imagem. No caso presente, há uma ironia e uma tragédia, desde a ideia que envolve utensílios do quotidiano, cruzetas, formas de plástico amolecido, em monte, e a memória de um certo belo horrível que ainda emerge das valas comuns da última Guerra Mundial, documentos de milhares de corpos nus assassinados metodicamente nas câmaras de gás. O uso daqueles materiais precários, ferramentas de plástico, não basta para cumprir a modernidade, a instalação original: é preciso, fundamentalmente, entrar com isso no domínio dos conteúdos de referência ou metáfora, o mundo da simbologia inerente à própria vida espiritual e cultural da Humanidade. Aquelas matérias e elementos, convocados assim, podem resvalar para uma prática populista, mera curiosidade de efeitos frívolos, ao contrário do que se espera na instauração da forma artística — lugar de comunicação no qual valores estéticos e conceptuais responsabilizam a mensagem como sempre aconteceu nas diversas civilizações ao longo das épocas, sentido dos sentidos inerentes à realidade humana.