fotografia de Miguel Baganha
Desde que apareceu no firmamento das artes visuais em Lisboa, Miguel Baganha pintou e fotografou, acedendo a galerias, iniciando uma aventura hoje tão difícil e agarrando o sentido da experiência, interagindo entre o ver e o fazer em dois campos fundamentais das artes da imagem. No caso presente, há uma ironia e uma tragédia, desde a ideia que envolve utensílios do quotidiano, cruzetas, formas de plástico amolecido, em monte, e a memória de um certo belo horrível que ainda emerge das valas comuns da última Guerra Mundial, documentos de milhares de corpos nus assassinados metodicamente nas câmaras de gás. O uso daqueles materiais precários, ferramentas de plástico, não basta para cumprir a modernidade, a instalação original: é preciso, fundamentalmente, entrar com isso no domínio dos conteúdos de referência ou metáfora, o mundo da simbologia inerente à própria vida espiritual e cultural da Humanidade. Aquelas matérias e elementos, convocados assim, podem resvalar para uma prática populista, mera curiosidade de efeitos frívolos, ao contrário do que se espera na instauração da forma artística — lugar de comunicação no qual valores estéticos e conceptuais responsabilizam a mensagem como sempre aconteceu nas diversas civilizações ao longo das épocas, sentido dos sentidos inerentes à realidade humana.
2 comentários:
Uma lindíssima imagem de sentido profundo como acentua o Mestre. Parabéns Miguel, não esqueça que não nos dão o que merecemos mas o que sabemos conquistar. E a frase não é minha, bem sabe.
Obrigado, Jawaa. As suas palavras são-me gratas, sobretudo porque não as recebo como mera lisonja ou discurso gratuito: sei bem que tudo o que a minha amiga diz é fruto de certa ponderação. A imagem é plena de simbolismo, sem dúvida, é metáfora,é signo daquilo que o Homem faz, para si e para o mundo, a si mesmo e ao mundo. Bom ou mau, o produto de nossa crição atinge tudo em volta, repercutindo-se a nível interior e exterior.
A frase, com que me aconselha e diz não ser sua, não sei a quem pertence, Iria, mas lembro-me de um post que fiz no Pain-Killer onde utilizei um aforismo semelhante:
«Todos temos
Não o que merecemos
Como em geral se pensa;
Mas logicamente
O que nos é próprio ter
E ser.»
Não evoco este excerto, para reclamar a autoria de tal frase mas antes celebrar o valor da sua mensagem, directriz de todos aqueles que sabem conter a presunção e apreciar o sabor da consquista.
(Ao mestre não há palavras suficientes para lhe agradecer o quanto me dá sem saber que dá.)
Agradeço-lhe, sim, a si, uma vez mais pelo gesto bonito que as suas palavras desenharam, Iria. A nossa correspondência é escassa mas saiba que a trago na lembrança muitas vezes.
Espero que tudo esteja bem consigo e família.
Um abraço,
Miguel
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