quinta-feira, agosto 30, 2012

UMA CIVILIZAÇÃO DO DESPERDÍCIO E DA BELEZA


fotografia de Miguel Baganha

Desde que apareceu no firmamento das artes visuais em Lisboa, Miguel Baganha pintou e fotografou, acedendo a galerias, iniciando uma aventura hoje tão difícil e agarrando o sentido  da experiência, interagindo entre o ver e o fazer em dois campos fundamentais das artes da imagem. No caso presente, há uma ironia e uma tragédia, desde a ideia que envolve utensílios do quotidiano, cruzetas, formas de plástico amolecido, em monte, e a memória de um certo belo horrível que ainda emerge das valas comuns da última Guerra Mundial, documentos de milhares de corpos nus assassinados metodicamente nas câmaras de gás. O uso daqueles materiais  precários,  ferramentas de plástico, não basta para cumprir a modernidade, a instalação original: é preciso, fundamentalmente, entrar com isso no domínio dos conteúdos de referência ou metáfora, o mundo da simbologia inerente à própria vida espiritual e cultural da Humanidade. Aquelas matérias e elementos, convocados assim, podem resvalar para uma prática populista, mera curiosidade de  efeitos frívolos, ao contrário do que se espera na instauração da forma artística lugar de comunicação no qual valores estéticos e conceptuais responsabilizam a mensagem como sempre aconteceu nas diversas civilizações ao longo das épocas,  sentido dos sentidos inerentes à realidade humana.

2 comentários:

jawaa disse...


Uma lindíssima imagem de sentido profundo como acentua o Mestre. Parabéns Miguel, não esqueça que não nos dão o que merecemos mas o que sabemos conquistar. E a frase não é minha, bem sabe.

Miguel Baganha disse...

Obrigado, Jawaa. As suas palavras são-me gratas, sobretudo porque não as recebo como mera lisonja ou discurso gratuito: sei bem que tudo o que a minha amiga diz é fruto de certa ponderação. A imagem é plena de simbolismo, sem dúvida, é metáfora,é signo daquilo que o Homem faz, para si e para o mundo, a si mesmo e ao mundo. Bom ou mau, o produto de nossa crição atinge tudo em volta, repercutindo-se a nível interior e exterior.

A frase, com que me aconselha e diz não ser sua, não sei a quem pertence, Iria, mas lembro-me de um post que fiz no Pain-Killer onde utilizei um aforismo semelhante:

«Todos temos
Não o que merecemos
Como em geral se pensa;
Mas logicamente
O que nos é próprio ter
E ser.»

Não evoco este excerto, para reclamar a autoria de tal frase mas antes celebrar o valor da sua mensagem, directriz de todos aqueles que sabem conter a presunção e apreciar o sabor da consquista.

(Ao mestre não há palavras suficientes para lhe agradecer o quanto me dá sem saber que dá.)

Agradeço-lhe, sim, a si, uma vez mais pelo gesto bonito que as suas palavras desenharam, Iria. A nossa correspondência é escassa mas saiba que a trago na lembrança muitas vezes.

Espero que tudo esteja bem consigo e família.

Um abraço,
Miguel