segunda-feira, outubro 21, 2013

CRÓNICA REVOGÁVEL DA CRISE SOBERBA

uma imagem que atormenta o homem
uma imagem que atormenta o fim do homem

fila de autocarros na passagem da ponte
 25 de Abril, manifestação da CGTP

19 de Outubro 2013, em Lisboa

Há cada vez mais faladores falando nas televisões sobre as lamas que elas próprias vomitam e transmitem, entre doses mamutianas de publicidade. São gente sem origem  ou sem rosto, marionetes da imprensa escrita e falada, opinadores das dúvidas actuais, embora capitalizando euros sem conta em volta dos conceitos medievais que os governantes do nosso país defendem com brio fundamentalista por causa da dívida soberana. Os faladores comentadores comentam falando acerca das sucessivas medidas cortantes que vão desabando sobre milhares e milhares de portugueses, funcionários públicos, novos e velhos, nos salários e nas pensões, tudo em massa e tudo pelas ordens olímpicas de credores encobertos, enormes, gananciosos, cuja tradicional corrente de créditos foi de súbito travada, um pouco por toda a parte, cobardemente, sob o jugo das famosas agências de cotação, claramente histéricas e nada subtis. Começou tudo onde teria de começar, nos EUA, entre fraudes financeiras indizíveis e pelo seu expansionismo negro a grande parte do mundo, já de si endividado e trocando as fronteiras pela cancerígena globalização. Os tratados que configuravam atrapalhadamente a União Europeia foram sendo esquecidos e as mãos alvas  da Alemanha e da França deram-se ao luxo de pensar e mandar por eles, os tratados, emitindo ordens, penalizações, níveis de deficit, planos "troikanos" de ajustamento austero e feitos de roubos benemértos, calculadamente. O mundo ardia sem perceber como, nós na linha de fogo, sem império, pobres antecipadamente pela ordem da Europa sobre os bens de trabalho e produção, barcos, searas, vinhos, mares, gente, terras ou culturas. Deram-nos dinheiro para restaurar patrimónios, infraestruturas, vias de rodagem, serviços, se calhar sevícias disfarçadas. E tudo recomeçou pela mão do Passos e do Gaspar e do Portas. Tinham tesouras fabricadas em Dresden, geriam cavalgaduras recentes, da JSD, JSDD, JSKD, entre outras. A linha liberal enrolou-se em voltas de lana caprina, afastando-se da coroa «grisalha», ministros do tempo de Mário Soares, antigo lider do PS e agora arauto da caverna da oposição, arredores dela, bramando palavras de apito, porque tudo é demais, até parece «delinquência». Já a esperança se esvai e a ministra das Finanças, esbelta de falas rápidas, diz que lá para diante tudo se arranjará. Logo os povos passaram a manifestar-se em oceanos de pessoas, descrendo de terem que passar fome para pagar em pouco tempo a dívida insana, com juros altíssimos, impróprios de qualquer civilidade, no conjunto somando o dobro ou o triplo da própria dívida, soberana e desalmada. Ninguém percebe nada, nem Deus.
Ora os faladores explicaram mal os casos normais de personalidades angolanas que, colocando dinheiro em Portugal, entre elas se desentenderam, accionando processos em Luanda e depois em Lisboa. As coisas andavam nas bocas do mundo dos dois países e hoje as gargantas desafinam, parecem falar de fanatismos clubistas. Rui Machete, nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros, ao falar na Rádio de Angola, adocicou o caso dos processos, que a fundo ninguém conhece, pediu desculpa por coisas mal entendidas e menores. Desabou tudo em blasfémias, o Jornal de Angola acusou os intelectuais portugueses de corrupção. E o hoje Estado Independente compra milhões de coisas na avenida da Liberdade, em Lisboa e arredores, porque em Luanda e em toda a Angola ninguém adjectiva feio. A grande fortuna do país, onde o povo gosta de muita gente de cá que fala português como eles e da sua diáspora por cá, como a nossa por lá. Oxalá os angolanos possam nivelar melhor as diferenças entre pobres e muito ricos, pois há nesse peadaço de África poder para isso. Eduardo dos Santos falou para dizer que as coisas por aqui não iam muito bem, coisa que é do mundo inteiro, incluindo Angola, a própria América ou a China. Os Agolanos que compram e investem largamente nas lojas luxuosas de Lisboa sabem bem dos seus irmãos bem colocados que vivem em Portugal, ocupando linhas de decisão e poder notáveis, muitos dos quais já sedimentaram para o futuro uma vida aqui. Falando simples, por mim penso que se a nós não cabe emitir lições de moral, a verdade é que Angola também não tem esse direito, nem todas as mãos são alvas, sem um torrãozinho de sujidade. Ninguém tem tal coisa assim, sejamos justos. Os nossos procuradores são vítimas da grande liberdade em redor, mas esse preço é minimizado, pois eles procuram zelar pela justiça, sem distinguir generais de soldados, entre melindres difíceis de gerir. Como se reclamou para iguais personalidades em Luanda. O discurso chantagista não deve acontecer nem lá nem cá. As escritas de ambos os lados devem esquecer os euros e os dólares e os quanzas, porque qualquer dia Deus acorda desta longa e suprema ausência, zurzindo toda a gente em todos os continentes. Acabará com o petróleo e derramará dilúvios para harmonizar os restos em bonomia, uma Arca de Noé para cada pedaço de terra. Já dizia a Bíblia, que foi sobretudo falada para adormecer os meninos maus vindos do tempo neolítíco, entretanto neo-liberal. Então, Obama, acaba com isto e os teus empedernidos republicanos. Olha que vamos todos terminar como talibãs.

quinta-feira, outubro 17, 2013

É PRECISO CALAFETAR A CARAVELA PORTUGUESA




Portugal criou as mais diversas embarcações, entre as quais as caravelas, belas naves de navegar e de que todos nos lembramos. Desenhámos e modelámos em bom pinho outras peças de maior calado, as naus, grandes veleiros que transportavam tropa, mercadorias e demais dentes através dos oceanos, o Índico, o Atlântico, ligando Lisboa a África, ao Brasil e à Índia. Sofreram muito os nossos marinheiros, edificaram-se fortalezas nos pontos fulcrais da costa deste império. Para os que governavam o país, entre a corte e os soldados, o povo, os camponeses, os que andavam por fora (sem comunicações céleres) sobravam um pouco os nossos primeiros imigrantes, emigrantes, moços que por vezes viviam povoando as terras, mandado nelas, casado com mulheres de lá, morrendo longe. Afinal como agora, numa altura em que nada nos resta dessa memória, tudo se foi esquecendo, até na Escola, tudo foi dando lugar à mediania, à República e à Ditadura. A Ditadura, ao querer honrar aqueles tempos, foi sempre incompetente na escolha dos artistas e dos monumentos, apesar de subsistir para todos (os que tivessem olhos) o mosteiro dos Jerónimos e outros casos assim. Mas era só para olhar, esquecendo. E o que foi mesmo para olhar, foi a Exposição do Mundo Português, que deixou sequelas, novas fantasias, novos academismos.
Estamos enfim na Europa, enganados mais uma vez, porque esse espaço é um antigo teatro de duas Grandes Guerras (com a Alemanha como adversário principal) e nunca aqui se ganhou um verdadeiro sentido de solidariedade, sendo mais uma vez a Alemanha o motor centralista de tudo, sem que os tratados funcionem, nem o euro, nem os resgates. E por isso Portugal, a quem abateram a frota pesqueira, a marinha mercante, grande parte da agricultura e alguns outros bens da nossa tradição e da nossa natureza, sendo afinal o verdadeiro rosto que a Europa tem virado para o Oceano a ocidente, está hoje empobrecido, abandonado por novas vagas de emigrantes, o casco roto, as velas rasgadas, a carga vendida ao desbarato, sem rei nem roque, sufocando pelas assombrações do Governo, na falta do dinheiro escondido, pelas fundações e institutos ou empresas públicas. 
Um dos nossos principais políticos desta viagem dita democrática, Mário Soares, foi tudo um pouco, redentor e Primeiro Ministro e Presidente da República, está entretanto na onda dos 90 anos e continua escrevendo e «descolonizando» tudo em volta. Não sei se recebe a sua reforma de Presidente nem o subsídio do Estado para a sua Fundação. É aventureiro ainda, muito depois de ter permitido, entre Governos Provisórios, que se consentisse na trasladação violenta da população branca que se encontrava em Angola, lá deixando bens, indústrias, tudo, e a isso chamando descolonização. Vê-se, com o devido respeito que nada disso aconteceu, basta ouvir o Presidente de Angola, Eduardo dos Santos e o Jornal de Angola que nos acusa de vivermos sob o mando de elites intelectuais corruptas e um garbo intolerável de paternalismo. Esta do paternalismo era do tempo das revoluções e das guerras pela independência. Já não tem cola, é preciso inventar melhor. E se Mário Soares, que o país continua a saudar, se esqueceu da necessidade de contenção ou da fala apropriada para tratar governantes nacionais e estrangeiros? Não seria bom que os rapazes do governo, a quem ele chamou  delinquentes, palavra juridicamente irrevogável, lhe  movessem um processo por difamação ou falta de respeito. Houve mais graças destas e pela parte do mesmo autor. Eu estou em desacordo com o Governo, posso chamar-lhe os nomes que quiser em casa, mas em público e publicadamente não me atreveria, apesar do mal que já me fizeram -- porque em nada vivi acima das minhas possibilidades, asneira que apenas cobre anteriores entidades de gestão e certos grupos de casino ou empreitadas deslizantes. 
Delinquentes? E os mercados? E as empresas de anotação? E os erros da Europa, o escárnio com que nos tratam os SENHORES do Norte? Essa dicotomia e o modo como um só país manipulou os destinos da Europa, impedindo medidas, convocando reuniões, passando ao lado do Parlamento e da Comissão? Que plano é este da Troika e que júbilo os nossos amigos europeus exprimiram perante o actual Orçamento de faca e alguidar? Eu acho sinceramente que a escala mamutiana dos juros da dívida, que a tornam impagável, deviam ter tectos de concertação internacional, porque os actuais, por qualquer minuto esquizofrénico dos mercados, são de um nível de agiotagem sem nome.
Um abraço ao Dr. Mário Soares: a perspectiva da sua linguagem de hoje deve ser corrigida. Porque este Governo pode ganhar pontos de desculpa e o senhor pode perder o nosso  antigo respeito. Ou então solicite a dos Santos para nos dizer se tem conservado bem o património que milhares de portugueses tiveram de abandonar, sem preço, à avalanche de gente que foi empurrada para uma estúpida ponte aérea, sem futuro nem passado. Falo da maioria, dos verdadeiros inocentes.