terça-feira, novembro 17, 2015

MITOLOGIAS DA POLÍTICA E GOVERNOS ADIADOS





Presidente Cavaco Silva

Em Portugal, entretanto inundado por programas de televisão em regime de continuidade sobre os atentados acontecidos em Paris pela mão Daesh, as eleições legislativas já ocorreram há um mês, tendo o governo minoritário de Passos Coelho sofrido o efeito derrubante de uma moção de censura. O partido socialista, que, a seu tempo, aceitou complexas operações para apear António José Seguro (secretário geral do Partido) a fim de realizar uma linha eleitoral em que concorria àquele lugar António Costa (na altura presidente  da Câmara Municipal de Lisboa). Após um tempo infinito, entre debates e movimentos vários, António Costa ganhou largamente o lugar, arrebatando-o a Seguro. Não parece bonito, mas naquele tempo muita gente achava pouco substancial a argumentação política e de projecto da parte de José Seguro.
Só perto das eleições legislativas António Costa se pôs a caminho, registando-se nas sondagens iniciais que lhe eram muito favoráveis, na zona da maioria absoluta.
O governo da Coligação continuava  afagando um vago sucesso depois de troika e abordava a necessidade de reformas estruturais, sobretudo no aparelho central do Estado, agilizando sectores e formas de abertura a novas relações com as feridas do país. Não houve, contudo, senão um papel redigido por Paulo Portas, umas folhas que tivemos oportunidade de ler e que não tinha qualquer dote sequencial e orgânico no sentido de uma verdadeira reforma do Estado. Dir-se-ia que o autor se esquecera do assunto e apressadamente enunciara umas duas dezenas de linhas indicadoras. Ninguém se dispunha a considerar isso um projecto e reforma, nem os cortes nas contas públicas como uma via certa e de conexões funcionais para a tão almejada reforma. Só se verificaram, um pouco mais para o fim da legislatura, certas medidas pontuais, qualquer coisa como «esta medida de Janeiro passa a ser tomada em Março», «aquele nível de subsídio passa do nível x para um aumento y de 0,9%»
Este governo caíu e os seus líderes (com aliados) mostraram grande azedume. O partido Socialista, quer baixara a sua fasquia ao ponto de perder votos perante os da Coligação, tratou do caso em sucessivos golpes negociais com o Bloco de Esquerda e o Partido comunista, além do Partido Os Verdes, procurando obter uma maioria na Assembleia  da República, algo mitigada entre programas alheios e o seu próprio programa. Foi um trabalho invulgar, talvez uma experiência de todos em novas partilhas, mas os membros desses partidos não entraram ara membros do futuro governo do Partido Socialista. Um golpe de prudência perante navegações de risco e uma forma de tratarem à rectaguarda os apoios à gestão do governo (de novo negociada, em casos que fossem além dos já estabelecidos).
Alguns disseram que era golpe, outros que estava dentro das regras constitucionais, o país dividia-se ao meio. Seja como for, no primeiro embate na Assembleia, ainda era fácil prever que frutos se obtenham. E o resto ficaria a dever-se ao Presidente da República. O Presidente torcera o nariz e »desertou» até à Madeira, onde ainda se encontra à hora em que escreve. E, curiosamente, o Costa, ontem à noite na televisão, explicou o sentido da sua reforma com exemplar limpidez, tranquilo, exemplificando a mecânica dos arranjos. E hoje as pessoas andavam agitadas: porque o residente falara, de longe, num governo de gestão que comandara durante 5 meses. Cinco meses nesta hora, com a Europa que temos e as crispações que vão pelo mundo, é coisa não menos que bizarra.
Imagino que o Presidente chega hoje. Amanhã vai ouvir mais gente, bancos, sindicatos, pescadores, gestores qualificados. Por aí. Depois as forças Armadas, penso, porque Holande está em guerra com os jihadistas e não sabemos se o Partido Comunista ou a Catarina já se converteram ao islamismo radical. Será que no terceiro ou quarto dia, ainda o Presidente ouvirá o Conselho de Estado? E se eles estão infiltrados



quinta-feira, outubro 22, 2015

MAIORIAS ESTÁVEIS NO LIMITE DA COSTA FALÉSIA


Acabou um ciclo, dizem; temos de voltar e escolher as novas luminárias do novo ciclo. Em boa verdade, o país, Portugla do nosso esquecimento, está em vias de ficar mais deserto no interior, afundando o Algarve em mais betão, mais passeantes vindos de toda a Europa, Américas, Médio Oriente, Índia, China, Eritreia.

Neste mesmo Outubro de 2015, os portugueses foram chamados às urnas (não estou a falar dessas nem a chorar o 1º de Novembro). Acabou o tempo do governo de Passos Coelho e foram escaladas as eleições nacionais: gastando um tempo imenso e mal temperado de estudos, mensagens políticas, sessões de debate sereno, voltou tudo ao mesmo: o governo  de Passos, A COLIGAÇÃO, que é uma forma um pouco secreta de diluir os dois partidos implicados, não engraçou muito com demasiada exposição, descansou, planeou e tratou de algumas armadilhas, ficou a ver os austerizados passando e só se atirou ao lobo nos escassos e mal organizados debates desta fase. Deu tudo mal para aqueles que se julgavam na frente da maratona, sobretudo o partido Socialista. Com tanta fome de verdadeiro poder, os socialistas andaram em sondagens de ouro, a par do  silêncio bondoso dos coligacionistas. Chegou, enfim, a hora das arruadas das quais Passos se defendeu bem, conciliando o seu discurso de «palavras sobrepostas» com os lamentos dos pobres e algumas palavras soezes.


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E tudo acabou (para começar dias depois) com umas estranhas abadas de votos. Aqueles que já não vão em simbolismos radicais, indo votar branco, ficaram em casa e cacarejaram durante a noite do grande espectáculo, coisa que nem a Teresa Guilherme saberia gerir (o que não quer dizer que seja boa a sua gestão) nem a Cristina Ferreira gritaria melhor (o que não significa que essa apresentadora grite bem).



Os senhores da coligação, que passavam por ser os vencedores com maioria absoluta, perderam 700.000 votos (foi um modesto corte em nome da Troika) e tiveram de pousar na terra da maioria relativa. Os senhores socialistas, comandados pelo António Costa (que viera substituir democraticamente o jovem Seguro) não passaram dos 32% e perderam perante os coligados, que ficaram senhores de um osso relativizado mas razoável.
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Vieram os do Bloco de Esquerda, com as suas duas meninas Catarina e Mortágua, e fizeram-se ao bife: mais que duplicaram o seu eleitorado e como que piscaram o olho ao Costa, um caso (pensou ele) verdadeiramente histórico nestas quentes esquerdas. O BE arrecadou 19,9/% de votos. E o hirto Partido Comunista-PEV (uma outra coligaçãozita) incendiaram a memória de Jerónimo (chorando por Álvaro Cunhal) com a módica meia-tinta de 8,25 % de votação.
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Pensava eu, e outros como eu, que este resultado ainda segurava, por algum tempo, A COLIGAÇÃO PSD/CDS. Porque o partido mais votado apresentaria o seu líder ao presidente da República para que este o indigitasse à formação de governo. Situação frágil mas conhecida. O Passos foi à vida sem ser indigitado mas com o recado de estudar a formação do governo. E pensou: o meu segundo cenário vai para o Costa, embora também esteja fraco.
Fraco? Já andava a namorar o Bloco de Esquerda, para formar uma nova maioria à esquerdina, coisa que não houvera nestes cenários pós-25 de Abril. Namoraram duas vezes e foram visitar pela primeira vez a casa do Passos. Passos estava com a alma deslavada e atirou-lhes com vinte papelinhos integrando pontos para juntar aos do Costa. Ora o Costa estava mais interessado noutra vitalidade. E lá foi para enviar o roteiro geminável à coligação. Não deu em nada e o Passos cuspiu para a televisão que esta atitude não os levaria a nada e nem iria volta a reuniões com o PS. Recebeu o plano e escandalizou-se: «Isto é o programa de governo do PS, feito pelo Centeno». Acabou-se. E já o Costa vinha à televisão explicar a dinâmica mais mobilizadora do Bloco de Esquerda. Explicou os pontos acordados, contando também com a discreta presença do PC.
O locutor questionou: «Mas como é que o senhor resolve a posição desses partidos que não querem o euro, nem a Europa, nem a Nato, nem o Tratado Orçamental». Costa sorriu: «Tudo resolvido. Eles garantiram que nada reivindicam a esse respeito, guardam na gaveta, podemos confiar. Nem é o programa deles que funciona, é o nosso em justos acertos».
O entrevistador abriu muito os olhos e mandou o Costa para outra entrevista.
Cavaco sabe o que fazer porque (diz) montou quatro cenários. Um deles vai resultar. E ele pensa nos estranhos presidentes que o vêm substituir na contenda para a escolha (provável) de um idoso catedrático de direito, há mais de uma década comentador político de televisão.
Pedi ao Goucha para supervisionar este texto. Disse-me, afunilando os dedos, falta um pouco mais de sal, senhor professor... Pensei que esta salada intriguista, sonsa, em que nada inspira confiança, talvez empurre mais emigrantes para as calendas, aumentando os abstencionistas para uma ordem de 100% e grandes bolsas geridas pela Santíssima Trindade de três troikas.


segunda-feira, outubro 12, 2015

COSTA PINHEIRO, FALECIDO ENTRE O EXÍLIO E A IMIGRAÇÃO



Eu gostava dele, mesmo sem ter a certeza de o conhecer e tendo trocado um monte de palavras com os seus óculos a brilhar. Depois disse-me que as pinturas chamadas de Reis eram a lembrança da nossa História e apareciam-lhe das cartas e dos livros e dos sonhos de criança. «Não, não sou nem um imigrado nem um artista votado ao exílio. Os que emigram procuram empregos, cidades e escritórios. Eu não tenho nada disso.» 
Andávamos por ali, ás voltas, na exposição do KWY, como no livro de Herbert o Hélder, aquele que se chama OS PASSOS EM VOLTA e é uma obra prima da literatura portuguesa.

Costa Pinheiro morreu em Munique, com 83 anos. Aqui mesmo dois quadros dele dedicados a Fernando Pessoa, génio incontestável. Lembro-me do que ele disse nessa linha de desocultações: «A imaginação domina o corpo. E o corpo vive equilibrado com as emoções e os sentimentos naturais.» Fernando Pessoa podia ter dito algo assim, no seu «Livro do Desassossego».



A frase-lema de Costa Pinheiro: A imaginação é a nossa liberdade.

terça-feira, outubro 06, 2015

A MULHER QUE NOS OLHA DE FRENTE E VÊ: futebol, miudezas da fé, televisão de novelas e publicidade, política atrapalhada, a morte em casa e o império perdido

*Há vários anos que me sinto enganado no curso anunciado da nossa verdadeira história, porque nos tolhem os passos, dos anteriores até aos posteriores, e tão lento me fazem ser que só me restam imagens abaixo desta, deusa do Loge.*
Vou ao sabor do que me ocorre. 
Começo pelo passado dia 4 de Outubro, domingo, 2015: foi dia de eleições legislativas,Portugal, depois de sondagens favoráveis à coligação PSD/CDS, que governou o país sob um horrível clima de compressão, entre cortes impiedosos nos vencimentos e nas pensões, altos níveis, vagas de emigração, altas percentagens de desemprego, vagas de emigração, mitos da utopia europeia sob o rigor assimétrico da Alemanha, miséria, suicídios, greves, sobras de riqueza entre aqueles que nunca se mostram como podem ganhar 100.000 euros por mês no mesmo país onde o ordenado mínimo pouco passa dos 500 euros.
Não vou contar a miséria da queda do Império, do tempo da ditadura, dos "retornados" de África, feridos ainda hoje sem o devido ressarcimento, populações a quem tudo foi roubado, empurradas para a Metrópole através de uma ponte aérea e à mercê de hotéis, pensões, albergues, casas de família. Dizem-me ao ouvido que Portugal conseguiu um feito notável ao resgatar cerca 

                                      

750.000 cidadãos, integrando-os em  pouco tempo. Quem  me  sopra  assim  ao  ouvido é um velho amigo daquele almirante careca que desarmou toda a gente, baralhou  as  forças  armadas  já desautorizadas, trabalhou a favor de um Movi- mento que tinha a benção de Leste  mas  deveria,  em vez de arrebatar de forma totalitária  o poder, teria  sido  melhor que o  partilhasse com os outros. Falo de Angola,  onde  os  próprios  cubanos  abancaram  para  ajudar o  governo  pouco sabido  em  guerra  guerrilheira  e tinha já  os  sul-africanos  subindo  pelo terri-tório. Os cubanos   combateram,  empurraram a malta do sul e ficaram também à espera de retornar a Cuba, tratando de se pagar  com  carros, carrões  e  carri- nhos, ou fábricas quase inteiras. Vieram sem custos. Depois daquele tempo,  al- guma  oferenda  haviam  de  receber "Retornaram"  a  Portugal,   estiveram   em hotéis  pensões,  tiveram   subsídios  e receberam a boa televisão metropolitana e a política  gritada, com  arruadas, sem faltar a direita e a esquerda.

Mas não é bem disto que me apetecia escrever algumas notas:
Das eleições ocorridas no domingo, a coligação que estava no governo voltou a ganhar a maioria (por absurdo que pareça). O PS, que andou sempre mozambúzio, enleado num secretário geral muito jovem e sem verdadeiras ideias de projecto, José Seguro, acabou por se fracturar numa complexa luta por aquele lugar, António Costa contra Seguro. Perdeu Seguro mas as tendências internas do partido misturaram caldeiradas requentadas e foram para as eleições com um bom método de Costa mas ainda sem capacidade interventiva e científica. A coligação não tinha senão as ideias da espinha do peixe, o programa era esse, chupar a espinha, em perfeita estabilidade, até porque havia dinheiro emprestado pelos mercados (mais dívida) e um cus-cus de vapor económico, embora houvesse acabado a troika. Enquanto a Europa se fechava na fascinação da ordem, da regra, do poder da Alemanha, na mania dos gregos em terem ainda o seu Olimpo, o direito a escolhas, coisas menores que lhe valeram uma enorme malhada humilhante na reunião com uma espécie de mutantes da grandeza e da escassez azeda.
Ontem à noite, os canais de televisão, embora sem prescindir do futebol e dos respectivos marretas, debateram os resultados e voltaram aos dados constitucionais, chegando a propor que se escolhesse a maioria pelo aumento de votos à esquerda (mas não de deputados), ao contrário da geografia matemática que mandavam as regras e o bom senso. O PS não é da mesma esquerda que o Bloco de Esquerda e amanhã talvez apresente um papel de serviço. Senhores do Olimpo, que futuro há para nós nesta tormenta de gente insana ou neste pánico quase suicida?



                                              Mortágua em nome do BE+PS

 As diferenças são tão notórias que é impensável advogar aquela linha para essa duas áreas. Nem com o resto. E a balbúrdia instalou-se, amainou hoje, mas os resultados vão encalhar em várias assembleias de guerrilha, porventura com mais eleições a meio da legislatura. Se então reaparecer a troika, sairão do país mais 500.000 jovens sequiosos por mais dinheiro, menos campo e mais mitologia urbana , tropeçando em euros.
Devem ter todos cuidado com os refugiados, não porque eles sejam feras, mas porque são nações, por vezes pequenas nações, adoçadas o melhor possível à nossa cultura e antiga história. A Alemanha tem a RDA vazia, onde pode criar um novo mundo de mesclas, mas vai regando a terra seca da perdida solidariedade europeia e finge desconhecer que as cheias e as intempéries têm agora uma escala avassaladora, anunciando que os continentes de grandes dimensões têm afinal potencialidades para revitalizações enormes e nunca um destino de infinitos  esvaziamentos..





Portugal não é a formiga pig que anunciam os lordes do norte, e outros mais ou menos. Portugal é um país que desbravou muito mar e abriu terras ao futuro, deixando por lá marcas e gente de assinalável sentido da aventura, da busca e das trocas comerciais. Da lonjura da Ásia às pontas do Brasil, da África ocidental e oriental até à Índia, o nosso sangue e o nosso engenho ainda sobram enquanto memória e nações. O oceano rodeia toda a nossa fronteira virada a oeste e dispomos de uma área marítima (que muitos nos querem retalhar) capaz de ainda ter petróleo e que alberga, de certeza, vastos campos de investigação geológica, biológica, entre o que se desconhece nas grandes profundidades; pode assim ajudar-se a salvar quem é, incluindo a deter a degradação do planeta como o homem tem vindo gananciosamente a fazer, queimando o ar e alguns apenas pensam o país como a verdadeira"jangada de pedra" que Saramago inventou, impossivelmente eterna e imperdível.
A humanidade tem ensandecido cada vez mais, deixando-se arrastar pela invenção tecnológica e, com ela, empolar os efeitos colaterais, maléficos, da globalização.

Mas falando de coisas caseiras e quase inenarráveis:
1. Um canal português de televisão produziu, entre muitas outras, uma novela intitulada MULHERES. Era um trabalho bem feito, um pouco amassado nas repetições formais e de mobilidade. Tratava o problema da vida de vários casais e pessoas, no âmbito profissional do imobiliário, duas empresas, uma de mulheres a libertar-se do baixo jogo comercial. Curiosamente, entre os primeiros episódios, as actrizes faziam um depoimento sobre o sentido da sua entrega e qual o seu projecto de vida. Isso foi depressa abandonado. Os casos eram interessantes e rodados com simplicidade, a despeito dos problemas humanos e sociais que emergiam em certa progressividade.



Ora esta curiosa novela passou para o fundo da noite e depois, embora fosse quadricularmente bem organizada, a televisão produtora resolveu desligar tudo para a ponta da semana: ou ao sábado ou ao domingo, recordando planos anteriores obsessivamente antes do tardio genérico, aliás com publicidade no declínio mal «avisado» do retalho breve da semana. Estes abusos (do seu próprio trabalho e dos actores) são cada vez mais frequentes na televisão portuguesa, para a qual parece que ninguém aponta a necessidade de lhe restituir verdadeiros planos deontológicos e a devida legislação formal ou punitiva.
Faz rir, no entanto, saber-se hoje que a Instituição que trata da atribuição dos prémios Emy nomeou as nossas pobres MULHERES para a hipótese de receberem um daqueles galardões.

2. Este caso fez-me estudar problemas paralelos: e são brutalidades contra o bem estar e a boa comunicação de entretenimento (já que não passam disso).
Um outro canal da nossa prolixa televisão, começou por somar telenovelas em horas depois dos noticiários  da noite. Por último, a par de outras novelas de outros canais, tudo por cima de tudo -- e tudo encravado ao "segundo" por cortes gerais de publicidade -- o canal a que nos referimos já acumula cinco capítulos até cerca da uma hora da manhã, uns cortados ao meio, outros colados aos seguintes, chegando mesmo a apresentar no fim a notável novela IMPÉRIO, cortada num pequeno revisionamento e em mais duas metadinhas atravessadas pela famosa publicidade que concorre, assim proposta, para delitos domésticos de faca e alguidar. Dada a impressão em que os próprios intervenientes se embrulham na sequência programática cada vez mais, até  a actual REGRA DO JOGO (brasileira), sendo um objecto assinalável, acaba estropiada na malandragem em grande gritaria e com tanta gente em campo (por vezes) que apetece encurtar  com um  breve perfume Done contra seu próprio modo de ser.



Noutros campos, o futebol é um dos maiores factores de doença colectiva que alastra pelas televisões. E não me refiro apenas aos jogos, esses mesmos cada vez mais rebenta pedras e menos bamboleia, tudo brutal e custando milhões.  A indústria de homens para a bola chega a ser chocante nas assimetrias e no horror das maningâncias de dinheiro, honorários e muitas outras despesas.
Algo de semelhante, mais sofisticado, pago de fora, acontece com as indústrias da comunicação audo-visual ou só de som (se fosse possível refrear a montagem de «utilidades» no mesmo objecto de consumo). As redes sociais corrompem a natureza humana (quanto mais se sabe mais se insiste) e os processos comunicacionais queimam consciências, limitam os tempos de lazer ou trabalho. Cada rapariguinha, cada rapaz, além dos homúnculos a deslizar ecrãs e senhoras castigando teclas com a ponta dos dedos, têm várias máquinas como ardósias a seu lado, no banco do jardim. Enquanto dedilham uma, as outras esperam. Serão os amanhãs que cantam?

Só sobre o nosso dia a dia, na cidade, sobram casas, taxas, impostos, erros de construção e fios acumulados sobre as portas por causa das zonas e dos meos, sabe-se lá que mais entre tubos da água com cem anos, que se rompem, e esgotos incapazes de susterem as cheias vasculares, inundando de fezes e água barrenta as belezas da Avenida da Liberdade, do Marquês de cima abaixo, não é?



Lisboa nunca será assim, felizmente

terça-feira, setembro 08, 2015

O NOVO TEMPO DAS TRÁGICAS MIGRAÇÕES


  Deus ou o Horror?

Há dias, ao ver cenas indescritíveis das marchas desamparadas de ondas de imigrantes, após a retenção sem nome das pessoas na Hungria, lembrei-me de ter escrito: "Ninguém sabe se Deus existe e de que morte padece o Homem, crente do nada". A percepção das vagas humanas que se metiam em barcos de borracha e tentavam atravessar o Mediterrâneo, morrendo metade pelo caminho, concentrava-se depois nas chegadas às costas da Itália -- um monte de mulheres, crianças e homens, tropeçando nos próprios passos, a morte na alma. A grande Europa, que ainda há bem pouco tempo juntava eminências da finança e da política para julgar os «pigs» gregos, zurzindo os ministros daquele país da forma menos cortez que já se viu em situações assim, por razões colossais, capazes de assombrarem os santos, pareceu não ter-se dado conta do que estava a acontecer nas suas barbas e nem um fio de força humanitária sobrou das suas assembleias e grupos encarcerados de trabalho ou decisão. Nada parecia estar a acontecer, nem no auto-proclamado Estado Islâmico, nem nas terras queimadas da Síria, com uma guerra que produz milhares de mortos e deveria ser parada em nome da decência civilizacional. Campos de refugiados da Síria já existem há anos em varios sítios, a Jordânia que o diga, e o símbolo trágico de Yarmouk devia tirar sono a alguns senhores políticos do norte da União, padecida de si mesma, esses que desconhecem as horas e trabalho a sul e a história que alguns povos dessa zona gravaram na memória do mundo.
De súbito, por mar e por terra, mais dezenas de milhares de imigrantes surgiram de todos os lados, visando estabelecer-se no norte da Europa, nomeadamente na Alemanha. Alemanha, essa, que pediu então a solidariedade dos outros  povos  europeus,  gregos  também  --  pode imaginar-se  --  e engalanou  gente para receber os refugiados da guerra Síria, sobretudo, enquanto alguns protagonistas da fuga, bem avisados, chamavam a atenção de outros companheiros para o facto de, nas diferentes multidões, terem eventualmente viajado jihadistas activos, infiltrados  que poderão, nos países de chegada, garantir uma ideia menos pacífica do futuro, a desencadear no paraíso do euro.

Esta imagem do menino morto na praia, à qual uma revista associou o holograma de uma menina que saúda o espaço e o amor, num gesto incisivo, do coração, é hoje um dos mais trágicos símbolos das viagens em fuga, contra a guerra, a chacina e todos os totalitarismos emergentes ou sedimentados desde há muito.



Muitos povos, ao longo dos séculos, produziram diásporas imensas. Portugal é um país com mais de oito séculos de existência e sempre emigrou para longínquas partes do mundo, onde fez valer o seu direito ao trabalho e ao respeito pela sua condição. A História das Navegações Portuguesas marca o próprio desenvolvimento dos conhecimentos sobre a Terra, Continentes e Culturas. Nada disso poderá ser apagado, continuando a ensinar, mesmo na actualidade, muitas linhas de saber sobre migrações, sustentabilidade dos territórios, emigração, imigração integrada. Mas o que está a acontecer com as actuais migrações, sobretudo da Síria e das zonas onde o Estado Islâmico faz a guerra em completa barbaridade, não é um ideal de descoberta e de esperança. É particularmente um vasto impulso de fuga, sobretudo em direcção à Alemanha, na presunção de que o trabalho para todos, incluindo os direitos humanos, estarão todos ali, assegurados e sem racismo. O país vai acolher 800.000 refugiados. A catástrofe alarga-se em vários sentidos, pensa-se que até ao insuportável, e é certo que nas zonas de guerra há ainda, pelo menos, cerca de 11 milhões de pessoas esperando uma oportunidade de sair em direcção ao norte.


Não há razões, nem humanitárias, nem culturais ou religiosas, para que toda a gente acossada por alienados do poder, genocidas profissionais, tenha que rumar em direcção à Europa, apesar do déficit demográfico desta. A Europa, aliás, está a reaprender a solidariedade, porque a União com que sonhava está praticamente congelada em regras e orgãos especiais. Um melhor ajustamento dessa forma de gerir um espaço tão completo não pode depender das pressões económico-financeiras nem de ideologias mitificantes da História. Os refugiados, diferentes entre si, filhos de nações igualmente de perfis próprios, não podem ser apartados (à força do terror) do senso que desenha todo um tempo e toda uma história. A  África não se move apenas como esta parte em dura viagem. Depois disso, e pela grande realidade que sempre representou antes e depois da colonização, esse continente não tem necessariamente que se esvaziar. Além de que os países totalitários e sanguinários dessa zona devem ser levados a compreender as suas máculas, a relação entre as diversas etnias. Porque, no quadro actual, os que hoje fogem da morte, muitos dizem não compreender a razão daquilo lhes acontece, já com saudade da sua casa e das suas realidades. Um dia, muitas dessas pessoas poderão evocar o direito de regressar a tais paisagens, tendo os deveres assumidos e numa comunidade capaz de relacionar trabalho e liberdade. Os deslocados que entretanto choram os seus lugares de nascimento e de vida devem, amanhã, poder decidir de forma digna e segura a escolha aberta à vida que conceberem, sem medo, sem perdas. Infelizmente, já houve nos últimos dias sinais de desencanto, vozes que evocam as suas casas abandonadas, o dia-a-dia vivido com natural proximidade dos vizinhos, dos amigos, lugares de costumes elencados no trajecto da história a que pertenceram. "Até parece que a comunidade internacional não sabe como parar aquela guerra". O próprio presidente da Síria, só para acrescentar uma breve nota a tantas coisas ocultadas, também não sabe a forma de parar tantos males e pessoas em fúria, atrás de uma utopia sem rei nem roque. 

 

 HORAS DE PARTIR, HORAS DE CHEGAR, HORAS DE REGRESSAR

sexta-feira, agosto 14, 2015

FALECEU EM FEVEREIRO O ARTISTA VICTOR BELÉM


VICTOR BELÉM

Quase te conheci desta forma, porque assim conversámos e abrimos a alma aos encontros de outros tempos, muitas galerias e a SNBA, chacoteando um pouco os vícios da fama alheia ou o céu quase súbito das inaugurações guardadas por uma burguesia que se fechava para os sonhos dos outros -- e ainda mal se sabia que o 25 de Abril estava por perto, depois engalanado com seduções, utopias e esquisitos conflitos entre pares e ímpares. Bom foi convivermos mais tarde, por cima de algumas décadas: fazer textos, ver exposições, aplaudir as tuas e alguns livros meus, de mistura com as colagens que levei à 111.
Soube tarde da tua morte, agora mesmo, no fim de contas. Tinha bonecos teus para publicar mas prefiro esta austeridade como sinal de revolta por ninguém ter accionado as ferramentas públicas para que o país  te oferecesse a exposição tua, da tua obra, que era merecida e necessária,  anterior que foste, no sarcasmo e na ironia, a muitos triunfadores da pop, da bad, dos vários neos e minimalistas, novas representações do sagrado objectualista.
Escrevi mails, chamei por ti, mas só agora me disseram que estavas sofrendo e que havias morrido em Fevereiro. Preservaste a tua dignidade perante um Universo mandador e absurdo.
Disseram na Net que "Cascais e a cultura nacional perderam um dos maiores vultos das artes plásticas da segunda metade do século passado e início do corrente. Victor Belém (Cascais 1938-2015) destacou-se pela sua modernidade e irreverência, primeiro como artista plástico e mais recentemente com trabalhos de fotografia ficionada." Dizem ainda que te formaste na Escola António Arroio e como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. E mais, ou por isso, que trabalhaste dois anos sob a orientação de Júlio Pomar.
Depois dizem mais algumas coisas, mas poucas, porque não sabem dos teus segredos, a do papel higiénico, o da fisiologia em secagem, as bandeiras e certas instalações. Mas lembraram-se que estás representado em colecções e museus, em Portugal e no estrangeiro. Nos bons dicionários. E sem palavras sobre os corações onde permaneceste, entre o riso e a melancolia. Nem sobre os registos daquela Maternidade que os talentos da malta representou no teu ateliê. Grande ópera a apregoar o fim do Mundo e o Início do Seguinte.

segunda-feira, agosto 03, 2015

DÚVIDAS NÃO CALAM A LIBERDADE DE EXPRESSÃO


NENHUM REQUIEM À ENTRADA DESTA CITAÇÃO

ESTA CITAÇÃO ENVOLVE UM TEXTO COM O QUAL SE
PROCURA CONTEXTUALIZAR O POST SEGUINTE


                      
                                   

A TERRA ONDE VIVEMOS É ESTA, NÃO CONSTA QUE TENHA SIDO FEITA PARA DOENÇAS FINANCEIRAS NEM PARA DEMÊNCIAS SUICIDAS

sábado, agosto 01, 2015

O MUNDO VIVE EM REDE CONSPIRATIVA



Cheguei a uma cidade do sul e não vi ninguém. Terá sido outra onda de emigração? Vão e voltam os turistas, enchem os restaurantes e comem tudo o que vêm. Os moços da chamada hotelaria vão e voltam, trazem as lagostas nos  pratos. E nem ligam às pernas das raparigas, mil vezes mais ofuscantes, no desenho e na cor, do que mil lagostas ou sapateiras. Morre gente nas estradas, ou em casa, de velhice, as pensões são cortadas e no futuro serão minguadas e beneficiar da liberdade (princípio fundamental da democracia) de saltarem para o espaço privado, aquele  em que se embrutece pelo dinheiro e por ganhos que nada se relacionam com Estado Social ou ramos da solidariedade. Dizem que a Coligação (do governo em fim de festa) já afia as facas para os cortes resilientes da austera harmonia futura, permitindo que as autoridades possam colocar o país entre os dez mais competitivos do  mundo. É verdade que já somos dos mais despachados a emigrar, sem ligar à terra e a uma secular plantação de géneros hortícolas. Perdedores de barcos e de sardinhas com uma zona marítima das mais vastas do mundo, este lugar já navegou até às sete partidas desse mesmo mundo -- e quando era mais pequeno em gente, tornando-se endemicamente rico para grandes não se sabe porquê, nem os comunistas que se julgaram capazes de gerir o mundo com ordenados mínimos para todos e um remanescente em poder militar, na fome de todas as ucrânias. Viu-se. E vê-se, quando Putin tira a camisa, alarga os ombros e manobra no seu mar de recreio uma vedeta que dava para duplicar o ordenado a todos os russos, incluindo os velhinhos acamados numa serra de gelo. Mais a ocidente, a Europa ordenou o desmantelamento de milhares de embarcações, marinha mercante e frota de pesca.


Mas deixemos essa gente  distante e geneticamente austerizada. 

Li uma coisa esquisita num jornal que talvez fosse o Diário de Noticias. Via-se que o articulista (não digo o nome podem aparecer aí alguns talibãs e jihadistas). O artigo dizia logo à cabeça: «PLANO VINGATIVO DA EUROPA PARA PRIVATIZAR A GRÉCIA». Parece um capítulo da "Teoria da Conspiração". O homem diz que «no dia 12 de Julho, a Cimeira congregou os líderes da zona euro e ditou os seus termos de rendição ao primeiro ministro Alexis Tsipras, que, atemorizado com as alternativas, terá aceitado todos. Um desses termos dizia respeito à disposição dos restantes activos públicos da Grécia.1
Os líderes da zona euro exigiram que os activos públicos gregos fossem transferidos para um fundo do género Treuhand -- plataforma de venda urgente semelhante ao dispositivo utilizado após a queda do muro de Berlim para privatizar rapidamente, com grande prejuizo financeiro e com efeitos devastadores no emprego de toda a propriedade pública do Estado Alemão Oriental que se desvaneceu. 
O Treuhand grego foi indicado para ser sediado no Luxemburgo (esperem por isso!) e orientado pelo ministro das Finanças da Alemanha, Wojfgang Schauble, aliás, ele mesmo, autor do esquema. Tal operação, no caso da Alemanha Ocidental (desvanecendo a Oriental por 1 geminação integral) foi acompanhada pela Colossal Conspiração investimentos maciços em infraestruturas por parte da Alemanha Ocidental e por transferências sociais em larga escala para a população do lado Oriental. Estas situações não são comparáveis ao método imposto à Grécia, mas de todo em todo bem diferente. No caso desta eventualidade passar a facto histórico, o que se sabe é que a Grécia não receberá nenhum benefício correspondente e de qualquer espécie.
Seja como for, o actual ministro das Finanças grego, há duas semanas, fez por diluir certos desastres ocasionados pelo método e conseguiu que o Treuhand se centralizasse em Atenas. Por estranho que pareça, este político logrou achar para o efeito alguns abrandamentos dos credores, a chamada troika da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacioal.1

citado de um artigo de Yanis Varoufakis (ex-ministro das Finanças do actual governo Grego)

Mas que havemos de pensar de tudo isto? Ainda que a Grécia possa ser um companheiro difícil, isso não pode significar o tratamento dos seus representantes a que assistimos no tal dia 12. Não há nenhuma Europa em regime de União (que não pode ser só financeira) que seja sustentável daquela forma e do modo como os seus orgãos funcionam de momento. Todos se voltam para a Alemanha e para o seu fogoso Ministro das Finanças. Estas personagens, horas e horas desfazendo uma soberania ou a ideia de uma solidariedade antiga, relevam de um fundo histórico que se pensou ter mudado após a derrota nazi na última Grande Guerra. O mundo tem picos e personagens que simulam a Colossal Conspiração e que emergem um pouco por toda a parte, e isso bem se vê em todo o Médio Oriente, na Ucrânia, e em grande parte do continente Africano. Morrem os emigrantes vindos da selva (selva de Poderes) e a Europa, atulhada em dinheiros assimétricos insiste num silêncio de qualquer Grande Herança: o pior é se se devora a si mesma, recebendo genéticas ímpias do sul. Não há Sul nem Norte. Cuidem que o sol continue a nascer Leste e a descansar a Oeste. Podemos ainda travar mais uma guerra Universal (não Mundial) mas depois disso não haverá mais "plano Marshall" que nos salve e as doenças do planeta terão progredido até à fuga dos restos populacionais para contentores no espaço. Calais e o Canal  da Mancha terão desaparecido. Há quem diga que os últimos sobreviventes, em coma induzido em escalas mais ou menos conhecidas consoante as rotas gravitacionais, teráo 5% de ressurreição, mas nada se saberá quanto aos que poderão sair desta galáxia e entrar noutra.



   UNIÃO EUROPEIA 2015
depois da emigração em massa dos humanos em condições de o fazer ninguém mais soube pensar o universo

segunda-feira, julho 13, 2015

TRAGÉDIA DA GRÉCIA NO CERCO DA EUROPA


Após 17 horas de negociações exacerbadas, após fábulas e cercos numa Europa cada vez mais encriptada, a Grécia conseguiu manter-se na zona euro, sob o peso de mil calhaus sisifianos. Merkel adoptou um pensar e um ser mais doce, talvez (quem sabe?) para travar os arranques destroçantes do seu ministro das finanças. Hora ideológica e de grupos batalhando às cegas.
João Ferreira da Cruz, economista, escreveu hoje no «Público» um pequeno artigo sob a designação (agora inquietante) de MAASTRICHT II:
Ontem, o dilema da zona euro era «sobreviver ou prosperar». «Com epicentro em Atenas, a catástrofe esteve iminente. Temeu-se pela solidariedade europeia, mas o euro sobreviverá com o repto lançado, em conjunto, por Juncker, Tusk, Dijsselbloem, Draghi e Schulz. No turbilhão da crise e na emergência da resposta para a Grécia, questiona-se o momento e o tempo que levará a "Concluir a União Monetária Europeia". Com objectivos claros, o documento dos cinco presidentes pretende averbar ganhos e progressos nas quatro uniões: económica, financeira, orçamental e política. Na primeira fase (1 de Junho de 2015 a 30 de Junho de 2017), recorrendo aos instrumentos disponíveis e ao bom uso dos Tratados, estimulam instituições e países da zona euro a impulsionar a competividade, a convergência estrutural para completar a União Financeira garantida por políticas orçamentais sustentáveis, com reforço da responsabilização democrática. Na segunda fase, o mais tardar até 2025, deverá ser completada a arquitectura económica e institucional, tornando o processo de convergência vinculativo, com critérios de referência comumente aceites, juridicamente assumidos e alcançados, condição para a participação na zona euro. Substantivamente, a convergência deixará de ser nominal, como se previa em Maastricht, para ser real. Urge colmatar os defeitos da arquitectura inicial do euro que gerou pesados custos, sofrimento social e graves tensões políticas dentro e entre Estados-membros. Sem referir explicitamente o Fundo Monetário Europeu nem o seguro de desemprego europeu, nem a agência para a gestão da dívida, nem a "regra de ouro" para o investimento (subtraído ao cálculo do défice), sequer o plano Junker ou a capacidade orçamental reforçada para recursos próprios, mas capaz de responder a choques assimétricos e apoiar reformas para a convergência, promovendo emprego, reduzindo assimetrias com regresso à coesão social, o relatório vai no sentido certo. O alarme da saga grega reclama aceleração no aprofundamento da UEM e não a espera por Maastricht II.»

Este relato desapaixonado, técnico, mostra a complexidade do processo. Mas não mostra a tensão nacionalista das populações, quase toda nas costas dos quais foi implementado o euro e a estrutura da União, nome que nem sequer se pode convocar agora, com toda a abertura, bom senso e o espírito pacificado. Os orgãos de gestão têm de funcionar, usando a rede que terá de ser remuniciada, agilizada e temporalmente eficaz. A meio de uma reunião deste tipo, não é crível que o ministro das Finanças Alemão e Merkel, cessem tudo para irem trocar pontos de vista a sós. Quem convoca quem? E quem apaga os egoismos nordestinos e as humilhações a sul? A tragédia grega não tece, desta vez, um mítico personagem que prefere a cegueira a viver à luz do seu transcendente pecado.




sexta-feira, julho 10, 2015

OS MUROS CEGOS E MUDOS QUE CERCAM OS POVOS


Este é o velho muro de Berlim, ainda de pé, hoje já apagado e as duas Alemanhas unificadas. Esta não foi a primeira tragédia, neste domínio, vem de longe a ideia de sequestro, de corte de vias, de aprisionamentos perante o fluxo vital de certas populações, trabalhando, afinal, do outro lado, em regime escravo.
A grande agitação que atravessa o mundo em todos os sentidos, abrindo e fechando vias de negócio, envolve vagas humanas de migrantes. Milhares de pessoas procuram furar esse hediondo muro horizontal, o Mediterrâneo, em busca de melhores condições de vida no norte da Europa. A União Europeia endurece. E apesar disso vemos uma Itália humanitária atenta aos milhares de emigrante espoliados na fonte por 80.000 euros às mãos de traficantes que os atiram, em carradas suicidas, para barcos de borracha ou embarcações sobejamente danificadas. 


Milhares de emigrantes que atravessam o Mediterrâneo até Itália, morrendo por vezes às centenas, visando, em terra, aceder ao norte, pedem alojamento, alimentação e medicamentos.                  




A ONU aborda (é uma palavra curiosa) o impacto humanitário do muro de bloqueio na Palestina - Portal Vermelho. Onde terá ficado, em fatias, o muro de Berlim, nódoa que se espalhou, como se vê por diversas áreas de conflito, e as ornamentou e se tornou símbolo? Monumento ainda, em pedaços, vozes da libertação e peso grafitado de todas as esperas que ainda nos esperam.
Em 2002, o governo israelense, liderado por Ariel Sharon, decidiu implementar a construção de uma "barreira de segurança", como ficou conhecido em Israel o muro segregador, alegando o objectivo de impedir ataques de palestinos contra israelitas. Um exemplo "benemérito" dos judeus outrora torturados e mortos pelo império Hitleriano.



Vem a propósito assinalar esta imagem dos muros no século XXI: aqui vemos, simplesmente, não  os judeus a caminho das câmaras mortíferas, mas simples palestinos aguardando junto de um dos portões do muro israelita. E há muito para dizer na faixa de Gaza, a tal zona que mais parece um campo de concentração e que o Estado Islâmico tem em vista assaltar, degolando os chefes.
O problema foi também assumido pelo sombrio governo da Hungria: o país pediu autorização à União Europeia (e esta concedeu) para a realização de um muro de bloqueio, contra as vagas emigrantes, obra apenas com quatro metros de altura e 175 kms de comprimento. Será que isto vai acontecer nas costas do norte, do sul e do ocidente? Não pedimos nada disso e a Grécia solicitou um acordo onde algumas escolhas soberanas favorecessem a sua dieta.



Não é difícil perceber quem são estes personagens e que construção tão minimalista é esta parede em módulos, sem janelas nem portas.



Seja como for, neste mundo dourado faz-me lembrar, sem apelo, aquele solitário suicida descendo em pleno espaço, de cabeça para baixo e uma perna dobrada quando do atentado às torres de Nova Iorque pela al Qaeda.

domingo, julho 05, 2015

LI E DESEJEI TER DITO ESTAS PALAVRAS

 
O exemplo de uma civilização agora desentendida na sua tradição para as concepções actuais da realidade comunitária e das democracias


Miguel Sousa Tavares escreveu a propósito da situação na Grécia:

«Faço minha a pergunta de Martin Wolf no Financial Times: se eu fosse grego, como votaria amanhã? A pergunta não tem uma resposta boa porque ninguém sabe o que se seguirá, quer ganhe o sim quer  ganhe o não. Ninguém sabe o que fará o errático Governo grego, que tão depressa faz discursos inflamados contra os credores, como logo a seguir aceita todas as suas exigências. E ninguém sabe até onde irá a vontade primitiva dos credores, pois só isso os move: do ponto de vista negocial, eles já colocaram à Grécia de joelhos, com excepção de uns míseros pontos de diferença no IVA para  as ilhas e mais uns cortes em algumas pensões de reforma. Mas, pior ainda, ninguém sabe ao certo o que esta gente quer fazer da Europa. Ou mesmo se a querem.  


A Europa que eu vi formar-se e abrir as portas a Portugal era dirigida por gente como Willy Brandt, Helmut Schmidt, François Mitterrand, Olof Palme, Harold Wilson, James Callaghan, Bettino Craxi, Felipe González, Mário Soares. Todos eles tinham uma ideia de Europa onde se espalhavam os melhores valores da civilização europeia, como um todo, e oculta da grande finança para expulsar do euro os que só enfraquecem a moeda; há quem pense que se trata antes de uma vendetta histórica da direita sobre décadas de predomíno intelectual e político da esquerda e uma oportunidade imperdível de aplicar a sua agenda em termos irreversíveis. Mas provavelmente é tudo menos grandioso do que isso: apenas uma terrível combinação entre ignorância e insensibilidade. Fixemos os seus nomes para memória futura: Merkel, Schäuble, Dijsselbloem, Lagarde, Junker, Rajoy, Passos Coelho, e alguns outros personagens menores.»
                   

e então há quem pergunte
QUEM É ESTA GENTE?


segunda-feira, maio 25, 2015

ESCRAVATURA E COBARDIA NO MUNDO GLOBAL


os novos olhares

Há  35,8  milhões   de escravos  em  todo  o  mundo, globalizado  em   nome  da  eficácia,  da mobilidade e da fortuna. No ano passado verificou-se, na soma dos desastres, 29 milhões de escravos  modernos.  Os  homens  transformam-se  cada  vez  mais  em  seres  híbridos,  que nascem aqui e além, experimentando muito cedo a fome de outras paragens, os  paraísos  de betão, informatizados, ainda capazes de encher cidades e  reformatar os  postos de  trabalho que restam depois do avanço meio  cego  a  robotização e o desinteresse pelos espaços quase desertos e contudo perfeitamente adequados a enquadrar populações humanas e a invenção de  novos  alimentos  para  o  corpo  e  o  espírito. O  exclusivismo  das  selvas  de  gente  feia, desordenada  nos  modos  e  nos  vícios,  menos  reprodutiva,  menos  culta,   esquizofrénica, gritando nos concertos de ruídos medonhos, heroicamente metais, que vão co os tímpanos e favorecendo  a  infinita  mastigação  dos   produtos  psicóticos,  que  um  professor  sem  fala acabou  de indicar  na televisão que deviam ser dados à liberdade  (felicidade) de  cada  qual, porque ninguém tem o direito de andar triste.


imigração para a Europa


                                                           a África para os africanos
                                           
Pertenço a uma geração que andou por África, dizia-se que a defender as Colónias, neste caso portuguesas, Angola e Moçambique, sobretudo. Durou tudo 14 anos e num enorme espaço onde a escravatura já acabara há muito. Havia lá famílias com mais de cem anos de fixacção, por isso com direitos em nada vindos da corrupção ou da ocupação. Embalados pelos intelectuais dos anos 60 e por uma América que já intervira em muitos sítios do mundo, ajudara na Segunda Guerra Mundial, contra uma Alemanha ensandecida por Hitler e que hoje, poderosa, praticamente dá ordens na Europa, sem abrir as concepções nem censurar a mania das grandezas dos países nórdicos, sem franquear a solidariedade e actualizar os tratados, todos deixando à Itália a «apanha» dos fugitivos da SUA África, gente que os donos dos países saídos da colonização persegue e assassina em massa. Aqueles que gritaram «África para os africanos», emigram agora para a tal famosa Europa das colonizações, sem parança nem miopia, até mesmo sem qualquer desejo de combater ao lado dos senhores do Estado Islâmico, que se dão ao luxo de «reconquistar» terras e abater preciosidades arquitectónicas e escultóricas da História humana. É um autoproclamado Estado, usando tácticas de homens bomba, todo o género de armas e facas dedegolar gente raptada, vestida como os presos de Guatamano. A guerra imperialista decorre há tempo, valores históricos e artísticos derrubados, milhares de vítimas, mais de um milhão de refugiados. Que África é a esta?

                                                               
O quadro das vítimas

Milhões de pessoas voam para toda a parte, cruzando-se no espaço e procurando ver outras gentes, explorá-las ou arranjar por lá outros empregos, todos técnicos, bem pagos, dentro de casas  «inteligentes» A tecnologia das comunicações põe tudo onde se quiser, compra e vende à distância, mas ninguém se importa com os desastres principais, do Nepal às Filipinas. O planeta não é tão eterno como julgam as tribos desta nossa humanidade da fashion e outras passagens vermelhas.
Um alienígena que se confunde  com os humanos disfarçados de palhaços pergunta à saída do estádio de futebol de Guimarães:
Bom, lindo, divertido, desporto de placagens e despachos, multidões gritando de alegria, apitos, mortos, feridos -- o futebol. Cem anos? E ainda se faz assim? Quando pensam que ele termina? Quem escolhe quem?


os novos deuses
Agora vivemos no presente, aglutinação de passados e memórias. O futebol não é uma mania, é uma indústria, uma religião, uma batalha de coragem.
E os escravos? Depois de povoado (mal) o mundo que vos restam, que razão resta para raptarem trabalhadores e os prenderem a uma plantação de jagunços, beterraba ou lama com diamantes?
O senhor não sabe do que fala. As relações entre zonas da economia e da finança, onde se alimenta a indústria de produtos rapidamente alimentares, são uma conquista moderna onde o trabalho rende pouco mas é uma conquista para amanhã.
Por uma batata amanhã o senhor paga a esta gente desenquadrada um ordenado de 200 a 500 euros, coisa que não dá nem para alimentar um cão, desses de qu etato gostam e tantas vezes abandonam? Asilos de cães. Asilos de velhos. Aldeias do sonho com demografias aviltantes: um habitante, dois, uma família com uma menina que vai à escola pela madrugada e chega a casa às 20 horas da noite, última passageira de uma carrinha da Câmara Municipal que dista daqui cerca de  100 kms.Sabe que isto não é sobrevivência, nem direitos? Sabe que isto é sobejamente um crime?
As pessoas têm apego à sua terra. Trabalham na sua subsistência. É uma gente simples e esforçada.
Claro que sim, mas os que dilatam as cidades com casas vazias, de, luxo, e nem sabem as doenças que desencadeiam, a vileza da vida doméstica, os assassinatos, o excesso de jovens em bandos bebendo, mal sabendo que o mundo restante é direito seu também, lá longe, nas belas serras onde a felicidade é possível sem a canga das celas urbanas?
Já tenho pensado nisso. Há dezenas de guerras em todo o mundo e a mitificação do dinheiro, excesso de coisas e de migrações e o dinheiro todo desviado para cofres secretos debaixo do mar ou na Ilha dos Piratas. A gente indigna-se e a nossa História está cada vez mais desaprendida. (pausa) Afinal, donde veio o senhor ou lá 0 que é?





                                                           mortos à beira da estradas                                                 
                                                                     crucificações

Do outro lado do Universo, desde há um milhão de anos. Nunca intervimos na vossa evolução. Mas se uma guerra Mundial rebentar, estamos prontos para os tratar compulsivamente, sem o vosso vil metal e uma carteira electrónica com a qual viverão o dia a dia durante cem anos. Reordenaremos o território e havemos de transferir para junto de nós 25% de amostras colectivas dos humanos mais ricos e dos mais pobres.Implementaremos um apocalipse de limpeza. Podem lembrar-se a partir de agora: estamos em toda a parte, aqui, e em muitos casos dentro das vossas estruturas mentais. Desde o próximo mês metade das vossas actividades de risco e inúteis, vão começar a ser pulverizadas. Como aquela dos seiscentos milhões nas pensões. É mesquinho e carecido de invenção. Em poucos anos, tudo estará na mesma. As fontes para a Segurança Social, têm de ser várias e capazes de repetição todos os anos. A vossa classe gestora consome milhões e milhões de euros de vencimentos: uma suave fatia a cada membro, proporcionalmente, fará maravilhas todos os anos.E isso será acompanhado por outras baixas nos altos salários, nos altos lucros. Pelas nossas contas, quase sem se dar por isso, triplicarão por ano a verba de reforço da S.Social.A tal TSU pode mesmo ser abandonada no mais fundo do Mar dos Sargaços
Está visto. E bem Visto. E não nos podem ajudar na fundação do Banco de Fomento?
Claro que sim. O dinheiro não foi para lá. Está tudo às escuras, menos os gabinetes daqueles que foram nomeados para os altos cargos e JÁ GANHAM O SEU FARNEL. Também podem falar com o Francisco: ele sabe o que dizer e até sabe o que fazer. Portugal? O último habitante da última aldeia?



                                              Portugal? O último habitante desta aldeia?