terça-feira, junho 10, 2014

AS COMADRES ALFACINHAS NO PÓS-TROIKA


Alguém chegou ao limite do seu tempo, sobretudo nas horas da mentira. 17 de Maio, em 2014? Qual quê? Portugal tinha recorrido à velha manha de não prevenir leis ou orçamentos ao Tribunal Constitucional: o Presidente assina e promulga e a bicharada recorre àquele orgão de soberania, latidos e risos, urros e cuteladas: «Queiram V. Exas tomar na devida medida o nosso protesto contra certas reformas, protesto de direito através do qual assinalamos a maior dúvida sobre a constitucionalidade de cortes nos restos dos salários dos funcionários (outrora) públicos, linchamentos de reformas dos velhotes a que falta o toucinho da dupla ração, além da SES (é mais bonito assim), coisa que arrasa de novo pensionistas e outros, tendo passado de uma falsa solidariedade para uma impossível sustentabilidade.»
E assim tendo sido, «quatrocentos» anos depois, o tribunal Constitucional escreveu 150 páginas de «acordeon» para dizer que a lei proposta era inconstituicional, o que equivalia a uns 600 milhões de euros. É preciso remendar esta bronca com mais colheitas, até chegar aos 1200 milhões da mesma moeda.
Estado: «Então que chacota é esta? Mais cortes, menos dinheiro, menos toucinho, mais sustentabilidade? A gente não vai nisso. Negociamos com a troika, que ainda nos deve dinheiro, e partimos para amanhã, pedindo ainda ao juízes que nos expliquem se aquele recorte se aplica amanhã ou hoje. Como fazer com o que já se pagou em duodécimos e agora tem de se continuar à tranchada rápida.» 
Estava o país nesta fantochada (que se estava mesmo a ver desde a não prevenção) quando o António Costa (aquele da costela indiana) arrebatou do comunicador e comunicou que decidira candidatar-se a secretário geral do PS e o Mário Soares bateu palmas. Seguro, cada vez mais irritado com a falta de papel para desempenhar, disse: «nunca me demitirei».
Não se faz nada, um Congresso nem nenhuma farsa dessas. A democracia às bases. (Otelo regougou de satisfação: «Eu não disse? Que isto só ia com a verdadeira participação das bases?») E pouco depois já Seguro assegurava que era preciso mandar os estatutos do partido às malvas, começando por avaliar a vontade dos militantes e simpatizantes numas eleições primárias, coisa que ele mesmo tinha julgado impróprio para o PS, na sua representação da cultura popular do país. Começou a balbúrdia, eleições para eleições, perguntando a pseudo simpatizantes: «Ouça lá! Já alguma vez votou no Partido Socialista? * Eu cá não, não senhor...* Bom, mas isso não quer dizer que não simpatize agora com estas figuras , o José Seguro como secretário...» * «Se calhar. Assino aonde?» * Aí em baixo, onde diz CONCORDO» * E o povo assina. Não importa que aquilo não esteja nos estatutos: é preciso ganhar tempo e abater a onda de fundo que o Costa já arrasta numa enorme Surfada. Pois bem. Isto dito assim até parece leve, mas o facto é que demonstra a insanidade da nossa política e outras coisas undergrownd: uma constituição para rasgar, uma austeridade para banalizar, uma aldrabice de ditos e não ditos, a troika toda contente porque talvez se safe de pagar aos lusitos a última tranche.
Tudo isto vem daqueles monstros que os americanos inventaram para dar cabo do cinema e das mentes infantis.