terça-feira, setembro 24, 2013

PAÍS SEM DINHEIRO E OS MARRETAS DO RESGATE

                                  Passos, o nosso Primeiro


Medina, o nosso Carreira


Medina Carreira, bom arauto das análises económicas e nunca pronunciador da mais vulgar descoberta de soluções substantivas, disse ontem que não há dinheiro, Portugal não tem dinheiro, e por isso é inevitável cortar segunda ou terceira vez as pensões dos que alguma vez trabalharam, sob tutela do Estado, para o país. Um amigo meu telefonou-me e disse-me que estava à beira da falência, porque a sua pensão de professor universitário tinha sido cortada logo no início do actual processo de ajustamento e iria, com os novos cortes, ficar reduzida a 1200 euros, o que colidia com o aumento irracional da renda da casa de 100 para 1000 euros, pelo que lhe restavam uns inacreditáveis 200 euros e ninguém acreditaria, nem as Finanças nem o Primeiro Ministro, que ele, sua  mulher e filho, pudessem ter no Banco apenas 5000 euros. Vivera tempos difíceis com doenças dos velhos pais, um a seguir ao outro, situação que o obrigara, além da bondade do Serviço Nacional de Saúde, a tratar em casa tanto a sua mãe, com um cancro irreversível mesmo depois das arrasantes quimioterapias, e o pai, três anos seguidos, com o pavoroso mal de Alzheimer.
Fiquei a pensar nisto e em muitas outras coisas semelhantes, no contraditório e selvagem mundo de hoje, um mundo sem razão. O Primeiro Ministro anda a meter medo a toda a gente, porque um novo resgate não é uma harmoniosa continuação do tal ajustamento: é sobretudo uma bruta reedição daquela  austeridade mítica, forma de arrasar equilíbrios, classes e patrimónios históricos e culturais. O FMI, que não aplica à prática as suas deduções técnicas dos últimos tempos, a ideia da austeridade bruta e rápida que apenas traz autodestruição, tem troikas metódicas, laminares, sem nenhuma perspectiva do particular e do humano. Nunca resolveria os equilíbrios que salvariam o meu amigo reduzido a 200 euros. Medina também não, a ronronar com piada e a mostrar evidências, obviedades: bem diz ele que basta fazer as contas. Ele soma e sobretudo subtrai. A troika subtrai, em nome de credores sem rosto, de mercados esquizofrénicos e irracionais, de gente que empresta dinheiro e tem depois um espaço sem lei, sem medida, para exigir o pagamento em dois anos, três anos, custe o que custar. A juros paranoicos.