quarta-feira, novembro 27, 2013

FRANCISCO CONDENA CAPITALISMO QUE EXCLUI


PAPA FRANCISCO
 
Os efeitos ou defeitos da Globalização estão a verificar-se numa extensa e preocupante crise mundial, a par dos desastres principais provocados pelos homens (de todos os níveis civilizacionais) em todo o planeta Terra, paisagem anunciadora de uma espécie de apocalipse em futuro não muito longínquo, na atmosfera, nos oceanos e nos continentes. Uma medonha ideia expansionista, em todos os sectores das comunidades humanas, tem contribuído, entre guerras, para a hipertrofia das tecnologias, antigas e de ponta, armamentos devastadores, ódios entre povos, má gestão dos territórios e das suas relações que deveriam pugnar pelo equilíbrio, bom senso e harmonia. A inteligência humana, sem dúvida considerável, tem pouco a ver, infelizmente com os perfis da personalidade de cada homem, aspecto sem medida e sujeita aos mais aterradores sinais de mutação, para o crime, para a luta por posses insensatas, para ganhos em monopólios capitalistas em constante ideia de concorrência, quer legal quer ilegal, desde uma simples dose de heroína a um qualquer arsenal de armas nucleares com o poder de destruir por completo tudo o que nos foi dado, não se sabe porquê nem para quê -- menos ainda por quem.
Perante a actual situação do mundo, das várias crises em todas as latitudes, sociedades empobrecidas e grandes estruturas de produção falindo em cadência impensável, o Papa Francisco, personalidade singular e cuja ideia para o seu magistério se tem revelado aberta, dirigida à sensatez das comunidades e da própria Igreja Católica, tem elevado os níveis de intervenção e proposta quanto a uma melhor forma de encarar a vida solidária e os sistemas estruturais de organização social, moderna, contida sobre os valores de espírito e reservada relativamente aos brutais consumos, ao gigantismo do capitalismo que exclui, que gera terrorismos e assimetrias infernais.
 

A exortação evangélica «A Alegra do Evangelho», assumida pelo Papa Francisco, lembrando os termos que fundamentaram o Cristianismo e a consequente Igreja, convoca a ligação espírito e homem, define uma posição que consagra os lados positivos de um regresso às origens, lembrando mesmo o sentido da reforma protestante no século XVI. Francisco mostra claramente que as forças espirituais (na área do Bem) só podem condenar um «capitalismo que mata». E Francisco diz: «A crise mundial, que investe nas finanças e economia, põe a descoberto os seus próprios desequilíbrios e sobretudo a grave carência de uma orientação antropológica que reduz o ser humano apenas a uma das suas necessidades: o consumo.».

 
EXCERTOS de A ALEGRIA DO EVANGELHO
 
Uma economia que mata vem da exclusão e da desigualdade social. Não é possível que a morte por enregelamento dum idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na bolsa,
 
Enquanto não se eliminar a exclusão e aa desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos, será impossível desarreigar a violência. Acusam-se da violência os pobres e as populações isoladas dos meios e dos processos de relação. Mas, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agregação e de guerra encontrarão um terreno fértil para que, mais tarde ou mais cedo, se verifiquem violência ou a explosão da tensões.
 
O Bispo de Roma declara-se, por inerente competência, a permanecer aberto às sugestões tendentes a um exercício do seu ministério que o torne mais fiel ao significado que Cristo pretendeu conferir aos outros perante as necessidades e maiores privações de valores humanos e espirituais.
 
Estes dados concorrem para um acerto com a ideia, entretanto validada pelas vozes inconformistas, de que a força exercida em todo o mundo pela finança, pelas orientações económicas, pela obsessão do valor espúrio da competitividade e pela força colossal das fontes hegemónicas que especulam com o dinheiro, através de empréstimos à escala dos países, gente sem rosto, defendida atrás de agências orwellianas de notação, operando como num jogo vídeo, dão corpo às maiores vilanias travando créditos, subindo sem regras os juros, face escondida de um capitalismo do terror e da assimetria.
E sobre isso pondera Francisco:
Quando a sociedade -- local, nacional ou mundial -- abandona na periferia uma parte de si mesma, não há programas políticos, nem forças da ordem ou serviços secretos que possam garantir indefinidamente a tranquilidade.
 
Um velho a quem penhoraram a pensão que usufruía, podendo ajudar dois netos, suicidou-se, deixando um recado não se sabe a quem: os desertos são chegados.
 

sábado, novembro 23, 2013

CUIDADO, ESTÃO AÍ A VIOLÊNCIA E A DITADURA


Mário Soares, memorável Presidente da República Portuguesa, sempre recordado com respeito, reacendeu a sua força política, com mais de oitenta anos, e tem barafustado contra a situação do país e a "delinquência" do actual governo. Reunindo uma multidão de cidadãos (e muitos admiradores) na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, Soares abriu a sessão com um discurso de dez minutos no qual exprimiu a ideia de que a Nação, vergada à Troika, caminha para o abismo, está perto de entrar em violência, a qual poderá banir todo o governo sem piedade, a par do perigo iminente de se estabelecer no seu lugar uma  nova  Ditadura.
«Mário Soares considera que o actual Governo ignora o texto Constitucional, trivializando palavras alheias ao repetir que a Constituição, apesar de estar nela consagrado o direito ao trabalho, não é por isso que ela nos assegura esse valor. As privatizações, segundo o ex-presidente, são a venda do país a retalho, e os cortes das pensões põem o Estado Social em causa. Para Mário Soares, todos estes males, num gesto de acuso fulminante, devem ser anulados justiceiramente com a mera demissão do Presidente Cavaco e do Governo de Passos.
A grande bonomia de Mário Soares desfez-se assim, sem  aviso nem cortesia.
Cavaco já protegeu mais a Constituição do que o próprio Soares ou o saudoso Sampaio. As iras e as palavras vãs deste nocturno congresso pela Constituição,  Estado Social e Direitos Humanos concentraram-se no absurdo convite feito  ao actual Presidente para que se demitisse e levasse com ele o próprio Governo: assim, como na estapafúrdia quadratura do círculo, logo se percebeu que aquela radical demissão, preconizada por Soares, logo instalaria no país  um tempo sem Lei nem Roque, condimentado por um novo PREC e enterrado em bancarrota, abandonado pela Troika, reduzido a negros orçamentos de cêntimos. Há palavras sem sentido, inconstituconais, que não se devem pronunciar, sequer ao vento da metáfora e da maior onda nazarena. As revoluções não se desarmam nem armam à paulada. Violência produz insanidade e não gere nenhuma verdadeira salvação. De resto, naquela noite, na Aula Magna e a propósito da justeza de alguns combates fonéticos, não havia a menor brisa de Ditadura. Apesar dos dislates dos partidos da maioria e da oposição.
Terá Mário Soares razão, justamente numa altura complicada, em vésperas de tanta coisa nem boa nem má, coisa nenhuma, como se deduziu da luta anunciada por Pacheco Pereira? Outrora morno e de sono sábio, o político Soares grita em nome de uma vaga de fundo. Jedi vinha ajudá-lo e foi descansar com o velho profeta e ainda grande «animal político». Ele o disse: «esta é uma questão de patriotismo e de consciência. O povo, espantado, não se julga em condições de arcar com mais guerras e pede justiça, todos o sabemos.» Jedi, o génio do bem, vindo do fundo das estrelas, acalma os ânimos e fica por ali, à espera da Troika, para nos defender das receitas baseadas em feroz e eterna austeridade. Francisco, do Vaticano, também espreita e faz perguntas. Os partidos envelheceram e já está na forja um outro, para melhores e mais fecundas coligações. Mário Soares, ainda antes do fim do ano, terá de falar para o seu Partido Socialista, do qual o povo começa a desconfiar, achando-o já sem credo nem gente maior. Oremos.



CUIDADO, SOARES AVISOU-NOS: A VIOLÊNCIA ESTÁ A
CHEGAR, ABRINDO CAMINHO A UMA NOVA DITADURA

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domingo, novembro 03, 2013

AS CONTAS ORÇAMENTAIS E O ESTADO SEM CONTA

 
 O corte no dinheiro não serve qualquer projecto de reforma do Estado

 
   Após o corte

Depois da longa e atormentada viagem das facadas genocidas sobre a espantada população portuguesa, cada vez mais pobre e cada vez mais refém de uma Europa de volumosos Tratados  incumpridos e contraditórios, as pessoas das classes mínimas encolheram-se nas dívidas, entregaram à finança as casas e os bens que haviam adquirido ao abrigo das promessas de Bruxelas, aliás após a ventania das regras de abate de barcos de pesca, vinhas, fruta não calibrada e luzidia. O mar todo à nossa frente, oceano dos oceanos percorridos pela Nação até aos cinco continentes, e os barcos estilhaçados em troca não se sabe bem do quê, nem marinha mercante, nem apoio aos portos. Muitas plantações foram dizimadas em nome de um futuro cotado e melhor, dinheiro, enfim, na mão dos pobres aceitantes, sobretudo os trabalhadores da agricultu- ra, tesourada e rapidamente desabitada. Era uma espécie de reforma ou um ataque à soberania do país: porque tais medidas só podem ser tomadas caso a a caso, científica e sociologicamente. O corte, assim, assimétrico, assemelha-se a roubo, não favorece nenhuma União. Entre nós, o deserto aumentou, os pobres deixaram o chão, julgando-se ricos, e bem cedo contemplaram as mãos vazias, cada vez mais velhas e de novo vazias.
O dinheiro veio, às pazadas, mas não era para aqueles a quem a gorjeta, na avaliação por baixo das suas culturas, já definhava entre as couves meramente caseiras. E veio o alarme, a emigração, o famoso plano de ajustamento, uma espécie de estratégia para empobrecer o país e fingir que, dessa maneira, algo sobrava a fim de se pagar a dívida soberana. Os soberanos eram os Credores, de súbito agarrados a altos júris, trato de agiotagem global, redes de anotação e mando sem conversa sobre os países mais despojados. Era, e é cada vez mais, uma invenção maquiavélica, lá para os lados da América, enquanto a  Europa, gerida de esguelha, entre resgates manobristas e absurdos, nada fazia de semelhante para olhar mais de perto os triplos AAA, os CCC e o lixo. Um jogo infantil que desertifica os espaços verdes e obriga a vagas de fugas, quer do dinheiro, quer das pessoas.
Mas agora chegou o novo orçamento do Estado (em Portugal), feito pelo governo que tem andado a trabalhar para nós, esvaziando casas e algibeiras, sem conseguir objectivamente pôr ordem no déficit e retornar a um crescimento capaz de reconverter em parte os equilíbrios. Sugerindo haver já uns ténues sinais positivos na economia, vestígios, não sinais, o novo orçamento é mais do mesmo, uma fortuna sem nome obtida por cortes nos salários e nas pensões, mesmo pensões que já foram cortadas e que vão baixar em cerca de 50% do que eram. Não tem sentido, se o que retiram de outros lados mais institucionais não passa de um décimo do outro balúrdio, ou coisa parecida. Isto acontece, em boa medida, porque os Mamutes do dinheiro, desde longe, conquistaram a política e meteram-lhe uma arreata ao posto de pedra em São Bento. E nada disto foi medido a par dos efeitos colaterais: baixa-se uma pensão em mais 10%, depois do IRS e dos outros cortes, mas permite-se que os velhos e novos proprietários de prédios para arrendar possam inventar rendas que sobem sem pudor 500 ou mais por cento, igualando-se aos proventos exteriores do arrendatário. Ninguém tem de pagar os erros dos senhorios, se eles compraram casas a 8% de lucro, às vezes prédios inteiros, e não reconverteram nada disso perante as mudanças estruturais da sociedade, ficando à espera de um governo liberal que os libertasse sem responsabilidade. Os despejos (palavra que diz tudo e se associa a fezes) vão tocar a muitos, as filas já começaram, o desespero também.
Com este orçamento, os sinais ténues de crescimento vão afundar-se de novo e Portas terá de recolher aquele papel primário a que chamou projecto para a Reforma do Estado. Como é que um homem que tantas vezes escreveu com propriedade e oportunidade no Independente, hoje capaz de interessantes trocadilhos com o significado das palavras, boa dicção, cultura apreciável, nos vem entregar um mísero esbocete (também dito guião a propósito de nada) que se propõe ser dedicado à Reforma do Estado. Aquilo talvez sirva para um papel teatral, frases programáticas e ditos curtos como réplica para o futuro. Chega  a  parecer  um  exercício  liceal baseado, sem  verdadeiros capítulos  ou  geometrias de organogramas com leituras interactivas, consolidando conteúdos, funções, objectivos principais. Soltam-se os rouxinóis e uma grande percentagem do que é dito procura consolidar os ditames já assentes ali, afinal andamento do programa orçamental e de um futuro programa do governo. Nenhuma Reforma do Estado se extrai daquele documento. 
José Seguro, da oposição PS, continua a baralhar as palavras e as teimosias, porque um contraditório inteligente, de alternativas coesas a desfazer neoliberalismos duros, lentos, mastigados no baixo serviço da língua e dos contratos e da cultura, poderia abrir apelos, despertar algumas mentes e a pobre taxa de sucesso em que se encontra.