quinta-feira, outubro 17, 2013

É PRECISO CALAFETAR A CARAVELA PORTUGUESA




Portugal criou as mais diversas embarcações, entre as quais as caravelas, belas naves de navegar e de que todos nos lembramos. Desenhámos e modelámos em bom pinho outras peças de maior calado, as naus, grandes veleiros que transportavam tropa, mercadorias e demais dentes através dos oceanos, o Índico, o Atlântico, ligando Lisboa a África, ao Brasil e à Índia. Sofreram muito os nossos marinheiros, edificaram-se fortalezas nos pontos fulcrais da costa deste império. Para os que governavam o país, entre a corte e os soldados, o povo, os camponeses, os que andavam por fora (sem comunicações céleres) sobravam um pouco os nossos primeiros imigrantes, emigrantes, moços que por vezes viviam povoando as terras, mandado nelas, casado com mulheres de lá, morrendo longe. Afinal como agora, numa altura em que nada nos resta dessa memória, tudo se foi esquecendo, até na Escola, tudo foi dando lugar à mediania, à República e à Ditadura. A Ditadura, ao querer honrar aqueles tempos, foi sempre incompetente na escolha dos artistas e dos monumentos, apesar de subsistir para todos (os que tivessem olhos) o mosteiro dos Jerónimos e outros casos assim. Mas era só para olhar, esquecendo. E o que foi mesmo para olhar, foi a Exposição do Mundo Português, que deixou sequelas, novas fantasias, novos academismos.
Estamos enfim na Europa, enganados mais uma vez, porque esse espaço é um antigo teatro de duas Grandes Guerras (com a Alemanha como adversário principal) e nunca aqui se ganhou um verdadeiro sentido de solidariedade, sendo mais uma vez a Alemanha o motor centralista de tudo, sem que os tratados funcionem, nem o euro, nem os resgates. E por isso Portugal, a quem abateram a frota pesqueira, a marinha mercante, grande parte da agricultura e alguns outros bens da nossa tradição e da nossa natureza, sendo afinal o verdadeiro rosto que a Europa tem virado para o Oceano a ocidente, está hoje empobrecido, abandonado por novas vagas de emigrantes, o casco roto, as velas rasgadas, a carga vendida ao desbarato, sem rei nem roque, sufocando pelas assombrações do Governo, na falta do dinheiro escondido, pelas fundações e institutos ou empresas públicas. 
Um dos nossos principais políticos desta viagem dita democrática, Mário Soares, foi tudo um pouco, redentor e Primeiro Ministro e Presidente da República, está entretanto na onda dos 90 anos e continua escrevendo e «descolonizando» tudo em volta. Não sei se recebe a sua reforma de Presidente nem o subsídio do Estado para a sua Fundação. É aventureiro ainda, muito depois de ter permitido, entre Governos Provisórios, que se consentisse na trasladação violenta da população branca que se encontrava em Angola, lá deixando bens, indústrias, tudo, e a isso chamando descolonização. Vê-se, com o devido respeito que nada disso aconteceu, basta ouvir o Presidente de Angola, Eduardo dos Santos e o Jornal de Angola que nos acusa de vivermos sob o mando de elites intelectuais corruptas e um garbo intolerável de paternalismo. Esta do paternalismo era do tempo das revoluções e das guerras pela independência. Já não tem cola, é preciso inventar melhor. E se Mário Soares, que o país continua a saudar, se esqueceu da necessidade de contenção ou da fala apropriada para tratar governantes nacionais e estrangeiros? Não seria bom que os rapazes do governo, a quem ele chamou  delinquentes, palavra juridicamente irrevogável, lhe  movessem um processo por difamação ou falta de respeito. Houve mais graças destas e pela parte do mesmo autor. Eu estou em desacordo com o Governo, posso chamar-lhe os nomes que quiser em casa, mas em público e publicadamente não me atreveria, apesar do mal que já me fizeram -- porque em nada vivi acima das minhas possibilidades, asneira que apenas cobre anteriores entidades de gestão e certos grupos de casino ou empreitadas deslizantes. 
Delinquentes? E os mercados? E as empresas de anotação? E os erros da Europa, o escárnio com que nos tratam os SENHORES do Norte? Essa dicotomia e o modo como um só país manipulou os destinos da Europa, impedindo medidas, convocando reuniões, passando ao lado do Parlamento e da Comissão? Que plano é este da Troika e que júbilo os nossos amigos europeus exprimiram perante o actual Orçamento de faca e alguidar? Eu acho sinceramente que a escala mamutiana dos juros da dívida, que a tornam impagável, deviam ter tectos de concertação internacional, porque os actuais, por qualquer minuto esquizofrénico dos mercados, são de um nível de agiotagem sem nome.
Um abraço ao Dr. Mário Soares: a perspectiva da sua linguagem de hoje deve ser corrigida. Porque este Governo pode ganhar pontos de desculpa e o senhor pode perder o nosso  antigo respeito. Ou então solicite a dos Santos para nos dizer se tem conservado bem o património que milhares de portugueses tiveram de abandonar, sem preço, à avalanche de gente que foi empurrada para uma estúpida ponte aérea, sem futuro nem passado. Falo da maioria, dos verdadeiros inocentes.

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