segunda-feira, dezembro 12, 2011

OS ESCRAVOS QUE NOS HABITAM A ALMA


cemitério de escravos em Lagos

Li num jornal, por acaso, levado pelo poder de atracção das imagens. Tratava-se da descoberta, em Lagos, de um cemitério de escravos, alguns enterrados sem grande cerimónia, os que morreram antes de partir, certamente, não os outros, porque esses nunca voltavam.
Creio que os negreiros que caçavam esta gente o faziam perto da costa da Guiné, era mais perto e bem mais rendoso. Trazidos para o sul de Portugal, os escravos, presumo ser necessariamente aí que os apuravam duramente no sentido de os valorizar em termos de comércio, do outro lado do Atlântico. Não vou confirmar nada disto porque, a partir da certeza arqueológica, o resto vem de longe dentro das nossas almas reencarnadas e hoje somos de novo testemunhos de mais escravatura, outra, menos regulada e mais aterradora. África ainda ganha o vértice da maioria, mas entretanto as coisas confundiram-se entre guerras e fomes e falsas independências. Os Tuiti e os Undo, há bem pouco tempo, mostraram-no à saciedade, entre notícias escorreitas, apesar dos corpos, em dois meses, terem obstruído um rio de importante caudal. Os escravos dos escravos, delineados em etnias, ainda sentem o direito à liberdade, agora não dos exércitos brancos, agora dos seus próprios irmãos de raça. É outro tipo de escravatura, quando é.
Na velha Europa em decadência, que talvez só agora esteja a reflectir e perda dos impérios e da decisiva mão de obra da escravatura, as relações humanas perdem em cultura o que ganham através de diversos tráficos, processo entre irmãos mafiosos, para trabalhos forçados nas quintas espanholas, enviesadamente na construção civil, ou para servirem, ainda tenros, nos negócios da expurgação e venda de órgãos logo prontos para entrega nos Centros de transplante.
Na imagem em baixo, o esqueleto mostra sinais de manietamento, embora essa prisão não tenha sido feita com objecto de metal, como correntes, mas muito provavelmente com cordas. Vários esqueletos foram encontrados assim no local. A descoberta arqueológica, dizem, é importante e abre vários campos de pesquisa.
E agora? Isso é relevante?
Estaremos perto de mais um património material da humanidade, assinado pela Unesco?
Porventura.

1 comentário:

Miguel Baganha disse...

Porventura, sim.
Entre eufemismos e outros símbolos submersos na vergonha e nas convenções; os tempos, as vontades, as pessoas e os seus actos permanecem iguais, indiferentemente.