quinta-feira, julho 04, 2013

MAIORIA GOVERNAMENTAL OU MINORIA MORAL?



No limite mais extremo da situação precária em que Portugal se encontra, a depender do maior bom senso e cada vez menos das idiossincrasias  partidárias e pessoais,  Paulo Portas quis seguir a ruptura, esquecendo-se de atar a corda ao pescoço. Mandou apenas um bilhete como o senhor Vitor Gaspar. O PÚBLICO disse: «surgiu ontem ao país como o arauto de uma causa justa, a do crescimento que o chefe do Governo quer arruinar. Mas bastaram 24h para se perceber que as suas palavras representavam mais a imprevidência do que a sensatez, mais a irresponsabilidade do que o sentido de Estado. Feitos os estragos, Portas apresenta condições para manter o Governo, mas sabe-se que o faz mais por instinto de sobrevivência política do que por convicção.

Vitor Gaspar, Ministro das Finanças de um Governo de graves falhas, é só parte da actual crise. Deu-lhe parte de si mesmo, fiel a uma certa teocracia da austeridade. A crise foi aprofundada com a sua tecnicista prosa de uma tecnicista e pessoalíssima retirada de cena. Como se isso fosse banalmente remediável e sem ninguém reparar, Gaspar abriu a porta da gaiola, cogitou um adeus avaro e talvez tivesse pensado que a malta depressa curava a feridaSó abriu a cova europeia e paulista pronta a receber o país. E alguém disse que o rosto de terror só se desvenda ao fim de dois anos.
O primeiro ministro, sempre muito senhor de si, discursou em tom patético perante o país, disse que não se demitia, não abandonava Portugal, e desandou para Berlim, onde anunciou e lamentou o caso Portas, a má vontade contra Maria Luis Albuquerque, e voltou a Lisboa ainda a tempo de perceber que a malta do CDS não havia embandeirado em arco com a gestualíssima retirada de Portas. E recebeu o homem do Independente pela noitinha, em negociações, para remendar a situação. O país vive em suspensão, Cavaco vai ouvir os partidos (que partidos?) e José Seguro, pomposo e ingénuo, grita por eleições, quer o poder sem saber que não há poder em Portugal, e nem ouviu Medina Carreira dizer: «Eleições agora era o pior que se podia fazer.»

2 comentários:

Miguel Baganha disse...

Se fizermos um breve exercício de memória vamos constatar que a crise de hoje é a crise de ontem, apenas com uma "ligeira" diferença: tudo é mais nítido -- e, assim, o povo vê melhor, compreende melhor, sente melhor, a cada dia que passa, o buraco por onde cai e que também ajudou a cavar.

Se Fernando Pessa fosse vivo, neste Portugal cada vez mais igual a si próprio, e cada vez mais sem soluções, só lhe restaria dizer aquela velha frase que tanto o caracterizou: «E esta, hein?»

jawaa disse...

Como as asas das borboletas afectam o clima, céus!
As nossas borboletas, de passos inseguros entre portas, jovens e lindas,têm elas que emigrar, deixem as menos bonitas e menos jovens produzir alguma coisa útil - a seda de que tanto precisamos!