«Detroit já não é o centro do mundo»
Frase lapidar na gíria daqueles que assistiram à grandeza progressiva da cidade de Detroit, nos Estados Unidos da América, centro fulcral da indústria automóvel, exemplo de um certo modo de vida e da arranjo arquitectónico das novas cidades, aliás sobrecarregadas em altura e rodeadas de guetizações e fábricas ou monumentais armazéns de estruturas monolíticas, afinal frágeis, numa ideia do descartável e de futuras substituições através da implosão.
Estas estranhas transformações ligam-se cada vez mais com os modelos económicos e a mobilidade no voraz cuidado com o dinheiro. Tim Lee, Presidente da General Motors nas operações fora da América do Norte, foi o inventor daquela sarcástica caracterização da actual cidade de Detroit. Pode haver ali um quartel general, mas a cidade já não tem força nem poder para honrar a sua história e desagrega-se de forma patética, como todos vimos há dias na televisão, numa amarga fotogenia do abandono. Ali havia brilhante vida nocturna e força económica, mais de um milhão de habitantes, e agora as autoridades locais esforçam-se o mais possível para dar algum sentido aos seiscentos mil cidadãos sobrevivendo ao desemprego/emprego. É a mistificação habitual, como entre nós, mercearias pinocas multiplicadas por vários países e com sede na Holanda, por causa de uns troques dos impostos. No caso aqui noticiado, há vários Estados Americanos, e até mesmo no México, onde a mão de obra é mais barata. A Chrysler, agora parceira global da Fiat, vai desenvolver cada vez menos produtos na sua matriz e priorizar modelos já consagrados na Europa. Cá está a Europa, velha de si mesmo, com um euro mal instalado e uma Alemanha a travar tratados e outras cintilações, por agora à espera de umas eleições em Setembro. E em Detroit, a sobreviver a todo o vapor, apesar de tudo e da anunciação dos desertos pós-civilização global e do dinheiro, a Ford cola-se aos Brasileiros e aos Chineses, prioridade aos emergentes e outras utopias assim.
Diga-se ainda: e a agricultura em volta? Enquanto a agricultura não chega, muitos empresários locais mobilizam-se para adaptar os seus negócios à nova realidade. Que realidade? Antigas empresas montadoras, produzindo peças para automóveis, enfrentam a queda da demanda por parte de outros parceiros. Um senhor Walker disse há dias que decidiu abrir a sua logística e o seu projecto à agricultura, tornando-se o «maior produtor rural do mundo.» Compram-se áreas abandonadas e abre-se uma rede de dependências a partir da futura agricultura naquela zona, com mais empregos e abastecendo de perto a decadente cidade. Diz um tal Hantz: DETROIT VAI SER A MAIOR FAZENDA URBANA DO MUNDO.
Não importa mais nada. Oxalá ele enfrente a globalização sufocante, com dez milhões de chineses recomprando terras e enlameando tudo com um novo o arroz feito por pobres que enriquecem na conquistas das próprias arábias. E anda Portugal a julgar-se devastado e periférico quando é o maior país da Europa, com uma plataforma marítima imensa onde há de tudo, até chineses com guelras. Habituados aos serviços, os portugueses emigram para trabalhar sob gabinetes de néon e fazem agricultura biológica. Já nem lutam pela sua maior riqueza (O MAR) e, embora sábios da engenharia náutica, deixam-se governar por governos que até Sines esquecem, bem como todos os estaleiros que poderiam florescer nesta faixa de terra abandonada para os lados de Espanha, sendo afinal, olhando para o Oceano, o verdadeiro ROSTO DA EUROPA. Fernando Pessoa o disse. Mas era um poeta e não vivia na Linha.
1 comentário:
É verdade o que diz, amigo. Com efeito, os poetas só percebem das coisas da alma. As coisas da carne ficam para as pessoas.
De resto, gostei imenso dos «chineses com guelras».
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