quarta-feira, setembro 10, 2008

QUEM É ESTA MULHER QUE VEM COM McCAIN?


Lugar de OPINIÃO do «Diário de Notícias», secção o tempo e a memória, de Mário Soares. Sob o título «Mudança dos Republicanos», este político incansável, atento, activo, controverso mas inegavelmente lúcido, alinhou no capítulo 1 da sua crónica de 8.09.08, uma importante série de considerações sobre o «choque psicológico e do excepcional êxito da Convenção Democrática», que parece ter remobilizado o Partido Democrático dos E.U.A, considerando, nesses termos, que se esperava uma forte reacção da Convenção Republicana. Nada disso se verificou. Bush teve assim o pretexto de que precisava para não comparecer, dado que a sua presença já era vista como perigosa, tal é o nível baixíssimo da sua popularidade e a própria agitação, quase simbólica, das forças da Natureza.
McCain, candidato republicano à Presidência dos E.U.A. tinha vindo a ensaiar um distanciamento de Bush, o que era, de um ponto de vista estratégico, bem compreensível. Contudo, numa viragem surpreendente, aquele candidato mudou a sua orientação política, convidando para o cargo de vice-presidente a «quase desconhecida e ultraconservadora governadora do Alasca, Sara Palin». Mário Soares faz então diversas perguntas: se as razões do convite partiam do facto da personalidade convidada ser mulher?, se tivera importância o facto de ser gonernadora do Alasca?, se garantia o discurso electrizante apropriado às circunstâncias? Seja como for, pelo menos esse discurso foi de facto produzido, deixando em segundo plano as palavras do próprio McCain. Palavras que o articulista achou formarem um discurso «descabido, confuso e pouco convincente.
A imagem feminina da senhora Palin, antes de falar, parece capaz de adoçar a virulência republicana. Nada disso, pelo que se viu. «A senhora Palin (escreve Soares) ultrapassou, pela direita radical, as posições desastrosas de Bush e de Cheney. Um discurso que, embora muito aplaudido na Convenção, fará mais estragos, no eleitorado americano, do que se imaginava pudesse criar o Gustav. Ela foi o verdadeiro furacão que abalou a Convenção.» Com efeito, é quase certo que terá consequências sensíveis sobre muito do eleitorado moderado e flutuante, republicano ou independente, aquele mesmo eleitorado que McCain procurava captar.
Mário Soares também foi sensível ao contraste entre a senhora Palin e McCain no jogo das aparências, o desiquilíbro entre uma relativa juventude e um homem que acaba de festejar os seus 72 anos. E contudo, a senhora Palin alimenta «ideias dificilmente aceitáveis pelo eleitorado moderado (mesmo republicano) que tem vindo a afastar-se de Bush. É uma neocon radical. Reclama mais armas, mais política de força, intensificação das guerras, mais pena de morte, mais petróleo, sem a mínima preocupação com a defesa do planeta ameaçado. É religiosa fanática, contra o aborto, contra os gays, criacionista, subscreve os desvarios anticientíficos contra a teoria da evolução, unilateralista, estando convencida de que a América, com a benção de Deus, poderá governar o mundo. Ela ignora as crises, o desemprego, o déficit astronómico.» Vistas bem as coisas, e aceitando que o articulista poderá alimentar algumas subjectividades, o que parece é que esta mulher, uma vez eleita, daria à América mais quatro anos do mesmo assombro. «Um pesadelo para os E.U.A, um desastre para o Ocidente. Soares quer concluir o que é óbvio numa argumentação assim, aliás plausível: que o desastre atingiria a Europa e o Mundo. Na esteira de um clima, aguçado pelo homem, que já começou a tratar do assunto.*

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* Leitura do artigo de Mário Soares, com citações, dada a sua oportunidade

1 comentário:

Anónimo disse...

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