segunda-feira, maio 11, 2009

TELEVISÃO DE MASSAS E REVOLUÇÃO IMPOSSÍVEL


A televisão é uma das maiores descobertas do século XX e tem hoje horizontes técnico-expressivos que parecem ultrapassar a capacidade humana quanto à sua veradadeira utilização, entre formatações, efeitos especiais e diversos tratamentos temáticos. Tanto podemos ver um espaço cénico quase impensável, inteiramente virtual, como sermos confrontados com a mais pindérica forma de contextualizar certos processos de comunicação. Os maneirismos primários abundam em quase todos os programas ditos de entretenimento. A «(lei» da oferta e da procura, já de si perversa, torna-se completamente distorcida pelos programadores dos quatro canais portugueses e apêndices em função prioritária: a famosa competitividade caduca nos caducos modos de administração ou de gestão e os criadores, reduzidos ao novo riquismo aparente dos meios, tornam-se reféns de modelos pseudo-avançados, em nome das massas, da carnificina para as massas e níveis de audiência, vivendo obsecados por esses rasgos de triunfo à percentagem. Estas pessoas (consideradas acima do próprio saber elitista) não passam afinal de manipuladores da opinião pública, acabando por acreditar piamente no jogo: se os temas de violência e e intriga fazem subir as audiências, é porque os telespectadores preferem amplamente as matérias de tais produtos.
Assim falava, dizemos por analogia, um Freedman, entre outros, defendendo economias de marcado livre, sem regras «castradoras», pois só dessa troca aberta sairia um natural equilíbrio entre os agentes produtores e s consumidores, entre exportações e importações: a «lei» da oferta e da procura determinaria a dinâmica capaz de contribuir para o simétrico princípio dos vasos comunicantes. Trata-se de mais um embuste, corrente cega que levou o capitalismo de índice neo-liberal a contaminar o mundo inteiro, sob o rótulo retumbante da globalização, a jusante do fenómeno da multiplicação dos escudos pela «banqueira do povo» (Dona Branca) e em biliões e biliões de perdas rasas. O mais apto capitalismo, de preferência «sem Estado ou menos Estado», desabou estrondosamente, a gritar pelo «Pai». Porque, como é óbvio, os operadores e agentes financeiros e toda a panóplia de gigantes da Banca sempre fizeram bluf ao longo da História. Para que um mercado equilibrado e pacífico, sem fronteiras, decorra como sugeria o imaginário de algumas luminárias, seria preciso que todos os homens estivessem marcados por uma honestidade à prova de todos os riscos, não precisando de fiscais, coordenadores ou supervisores. Mas, como a História já demonstrou, o género humano não pertende ao imaginário reino dos anjos bons: aquelas criaturas, dotadas de inteligência, primam em grande medida pela desonestidade, pelo gosto do poder, numa insana ganância fixada nos valores monetários ou de propriedade, e assim se guerreiam pelo vértice da pirâmide. De resto, vivem desde há muitos séculos civilizações baseadas nessa estrutura triangular, ou seja, segundo critérios totalitários, tanto políticos como militares e religiosos, donde surgiram, quer em nome de Deus (a entidade mais totalitária que nos inspira) quer em nome da sobrevivência, sobre placas de oiro. Foi nesta perspectiva cada vez menos defensável que surgiram os grandes objectivos civilizacionais (suicidas) que delinearam, a longo prazo, o crescimento a todo o custo, em vários campos, na quase totalidade dos campos, cujos primeiros resultados já contaminaram praticamente todo o século XX e anunciam crises planetárias e sociais na actualidade e séculos futuros. Admitindo que esta alucinação demente tem ainda condições de reversibilidade, a mudança de rumo implicaria implosões deliberadas e colossais, uso inverso dos meios naturais e tecnológicos, ampla racionalização do contacto com o território, por forma a pulverizar os núcleos comunitários da vida colectiva. E o maior dos trabalhos, a verdadeira revolução, consistiria em matar as emergentes grandes guerras, com o maior pragmatismo possível, dentro de uma enorme reserva de direitos. Espero que os mitómanos saudosos dos fabulosos torcionários da História não me interpretem como arauto da utopia do mal. E que pennsem na grandeza dos meios de que dispõem num mundo cada vez mais pestífero, entra montanhas de informação ou informação feita lixo. Há um interessante video-clip britânico que retrata um mundo em destroços, em consequência do excesso, e algumas minmorias de humanos dependentes da televisão, programas in formáticos, informação em massa, lixo envolvente de tudo isso. A imagem central e ezemplar desse vídeo mostra um homem ainda novo, obeso, engolindo pela boca e pelos olhos milhões de dados informativos que se desfaziam uns aos outros e criavam o risco de fazer explodir o pobre e derradeiro homem do consumo. Essa imagem é-nos dada em directo, depois de assistirmos, com horror, à irreversível expansão da criatutra em todos os sentidos. Um crâneo solto derrama no ar a pasta do cérebro.

1 comentário:

Miguel Baganha disse...

Embora não siga as novelas com regularidade tenho uma noção real de como funciona o sistema de toda a programação televisiva. A responsabilidade por uma boa selecção de programas, não caberá inteiramente aos orgãos administrativos, uma boa fatia também desta também pertence ao público. O público ou audiência, é com efeito, o tal " barómetro " de qualidade e por ser ele a consumir é geralmente ele quem decide. Caso houvessem poucas alternativas isso poderia ser grave castrando a minoria, mas actualmente, existe um número vasto de programas bem estruturados no plano documental e recreativo nos diversos canais à nossa disposição e independentemente da dúbia qualidade intríseca que os assiste, compete ao espectador mais exigente saber escplher aquilo que melhor lhe apraz. Até porque, como é óbvio, a subjectividade deste tópico continua a ser grande bem como nos restantes conceitos de valor. Eu por cá, costumo resolver esta questão fazendo zapping até encontrar algo que esteja no meu comprimento de onda. Como diz o outro: " o comando é meu "! - e a mente também.

Este comentário vale para estes dois excelentes artigos, João.
Sem dúvida alguma, a televisão é um instrumento demasiadamente perigoso para ser gerido por manipuladores de mentalidades mesquinhas cujo objectivo maior é ser líder de audiências.

Bons zappings, mestre.
Um abraço,
Miguel