quarta-feira, janeiro 05, 2011

MORREU O PINTOR MOÇAMBICANO MALANGATANA

pintor Malangatana

pintura de Malangatana

O pintor moçambicano Malangatana morreu esta madrugada, aos 74 anos, no Hospital Pedro Hispano. O seu início de carreira pública começou há 50 anos, quando vendeu os primeiros quadros. O produto dessa venda permitiu-lhe arranjar uma casa e recolher a família em Maputo. Malangatana Valente Ngwenya nasceu a 6 de Junho de 1936, em Matalana, povoação que se situava perto da então Lourenço Marques, hoje Maputo. Meio século depois de ter aportado à vida urbana, morreu de doença grave, um grande amigo de Portugal, um dos moçambicanos mais conhecidos, um homem do mundo sempre dedicado ao trabalho artístico.
Foi pastor, aprendeu ritos e propiciações como curandeiro, tornou-se empregado doméstico. Tendo vivido com o avô paterno e estudado até à terceira classe, aos 11 anos já começara a trabalhar, porque o seu estatuto lhe permitia aceder a diversas actividades, inclusive a de cuidador de meninos.
Em boa verdade, Malangatana foi mais do que pintor, no sentido de género que subsistia à altura, há cinquanta anos. Ele fez cerâmica, tapeçaria, gravura e escultura. Como artista de um tempo de pesquisas, a sua imaginação levou-o a experimentar areia, conchas, pedras e raízes. Mas também fez poesia, assumiu a condição de actor, dançarino, músico, dinalmizador cultural, organizador de festivais, e até deputado pela FRELIM.
Seja como for, a sua vivência junto dos colonos portugueses, durante a adolescência, permitiu-lhe assimilar as questões da pintura. Augusto Cabral, biólogo e artista plástico, iniciou-o nessa arte. E mais tarde trabalhou sob orientação do arquitecto Pancho Guedes, o qual lhe disponibilizou um espaço na garagem de sua casa em Maputo e lhe comprou quadros, inflaccionando os preços.


Nesta peregrinação da vida e da arte, Malangatana mostrou-se interessado, bem cedo, em fazer uma exposição de pintura. Para espanto de Augusto Cabral, a exposição foi um sucesso.
Desde as imagens da Matalana, local de uma infância tutelada e de estudos primários, a pintura de Malangatana nunca mais parou de ter sucesso e o autor de criar círculos de amigos, em Moçambique, Portugal, no estrangeiro. O seu confronto com o mundo e o entrosamento com as raízes e povos da sua terra, viriam marcar, de forma profunda, os quadros que pintou, longamente povoados pelas massas populares, gente que nos olha, nos avalia, nos espera ou nos ouve. Tanto na pintura mural com na pintura em tela, entre aventuras de invenção plástica, forças e fraquezas humana, este homem absorveu sempre um manancial de temas a abordar e nos quais o homem, em pausa, era o centro da festa ou da perplexidade. Olhava também para os acontecimentos do mundo, tristes ou alegres, e por muito que se discuta parte dos clichés, para alguns o estilo, a verdade é que a maior parte da obra de Malangatana está cheia de paisagens humanas, dores, esperanças, da coesão comunitária também.
Malangatana sempre reiterou sentir uma grande aproximação pelos artistas portugueses, sobretudo desde os anos 70, nomeadamente durante o período em que foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Essa relação honra o pintor e os artistas de Portugal.
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N. Parte deste texto corresponde-se ou cita nota do Público

3 comentários:

Maria João Duarte disse...

Conheci Malangatana em Portimão. Vi-o pouco à vontade no Colóquio "Memórias d'África". O homem queria era pintar e estava encafuado a ouvir palestrantes. O seu discurso, pela simplicidade, era verdadeiramente encantador. Portimão perdeu uma boa oportunidade de o levar a uma escola e com as crianças, que adorava ensinar e com quem adorarva falar,para pintar uma das paredes do nosso parque escolar.
Com a sua morte, ficamos todos mais pobres.
MJRD

Miguel Baganha disse...

Teve uma vida preenchida em diversos e diferentes domínios. A sua pintura não me apraz mas a capacidade criativa e multidisciplinar de Malangatana fascina-me.

Um grande bem-haja ao homem e ao artista.

Um abraço,
Miguel

jawaa disse...

Malangatana não podia dizer mais do que pintar os seus fantasmas,a exemplo de outros, possivelmente de todos os outros.
E só se pode gostar verdadeiramente do que se conhece e compreende muito bem, as linguagens diferem. E ainda bem.