terça-feira, janeiro 17, 2012

QUE NÃO PENSAR É ESTE PENSAR TÃO ÓBVIO?

A fala é um gesto facial parcialmente engolido

O que parecia coisa assente era a de que «só consegue pensar quem é capaz de articular palavras. Diz-nos Ana Gerschenfeld: A mente humana terá surgido graças a uma capacidade inata para a linguagem falada? O psicólogo propõe uma narrativa da origem da linguagem e do pensamento radicalmente diferente do que estipula a linguística moderna. O credo que Noam Chomsky enunciou há 50 anos poderá estar a abrir brechas. A obra recente de Michael Corballis (Universidade Auckland, Nova Zelândia) intitulada The «Recursive Mind: the origins of Human Language, Thought, and Civilization» aborda, na perspectiva da psicologia experimental, comportamentos humanos ao nível da linguagem. Aí se lê que os neandertais eram tão inteligentes como nós, capazes de de pensar e comunicar e de comunicar espontaneamente, embora de forma não verbal. Aproxima os chimpanzés, em certa medida, desta condição. Corballis defende não só que as origens da linguagem humana são gestuais e não vocais, mas que o pensamento não precisa da linguagem para surgir. Isto estabelece um corte importante com a ideia defendida até há pouco, a de que sem linguagem não pode
haver pensamento, tendo este surgido por capacidades verbais inatas do homem, mercê de uma evolução recente, repentina e única na história das espécies.
Corballis, falou recentemente em Lisboa e disse que era preciso reposicionar os seres humanos modernos numa perspectiva de continuidade natural com a evolução da vida na Terra. Em entrevista publicada no Público, aquele psicólogo considerou que não é a fala que nos torna humanos. «É verdade que a linguagem é algo que apenas temos nos humanos, mas acho que não precisa de ser falada. A linguagem gestual é tanto uma linguagem como a fala.»
Existe um grande debate à volta disto, entre os especialistas que se revêem em Chomsky e os que estão mais próximos das ideias de Everett. Há quem pense, por exemplo que a estrutura recursiva da linguagem surgiu quando a escrita apareceu. (...) Jornal: Ou seja, caímos na armadilha de pensar que o nosso próprio pensamento é linguístico, porque tanto temos jeito para rotular as nossas imagens mentais? «Sim, acho que caímos nessa armadilha. Mas eu acho que o pensamento, de forma mais provável, foi sendo composto de pantominas, dessa forma de imaginar os acontecimentos como se estivessem a acontecer».

É talvez preciso começar a encarar, mais profundamente, o papel da percepção visual, pois ele activa muito antes de haver gritos organizados. Ver um animal caçável pressupõe o gesto que aponta, o gesto que mata. A imagem é mãe de muitos dos mais importantes e vários aspectos mecânicos, orgânicos e estruturais da (das) linguagem. Como seriam verbalizadas as figuras representativas da linguagem gráfica egípcia?

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