domingo, abril 08, 2012

A MORTE TRÁGICA DE DIMITRIS CHRISTOULAS

Parlamento Grego

Memória de Dimitris Christoulas

manifestações por Christoulas reprimidas

A pressão das medidas de austeridade aplicadas à Grécia, na crise do euro, passa por ser remédio do equilíbrio financeiro de um país altamente endividado para permanecer com normal legitimidade na União Europeia. O empobrecimento da população em geral tem desencadeado revolta e perturbações da ordem pública, isolando os mais despojados. O farmacêutico aposentado, Dimitris Christoulas, reagiu à situação em que acabou por se ver envolvido: chegou de Manhã à praça Sintagma, diante do Parlamento Grego, buscou sombra de uma árvore secular, pronunciou algumas palavras, e disparou contra a sua própria cabeça um revolver que empunhava. Deixou algumas palavras escritas, onde se lia sobretudo: «Quero morrer mantendo a minha dignidade, antes que me veja obrigado a procurar comida nos restos das latas do lixo». Dimitris perdera 30% da sua pensão, todos os subsídios para os remédios que tomava, tornando-se incapaz de controlar todas as contas, em particular os preços em subida brutal dos bens de consumo regulares.
A morte do aposentado, naquela quarta-feira de trevas, em Atenas, lança sobre as consciências uma sombra de revolta e uma grande perplexidade. As manifestações de pesar pela sua morte surgiram no próprio dia, em reflexão. Depois disso, a polícia teve de lutar com jovens desesperados, entre distúrbios que deixam para sempre marcas de sangue nos centros da actual ditadura financeira.

2 comentários:

jawaa disse...

Sinto um profundo respeito pela memória deste homem salvaguardando a sua dignidade de Homem e de Grego da maneira mais trágica.

Miguel Baganha disse...

Ninguém sabe a pressão a que muitas pessoas estão submetidas, por acções voluntárias ou mais ou menos involuntárias (nos dias de hoje é quase impossível vivermos em sociedade sem sermos parcialmente cúmplices) e a capacidade que cada um tem para lidar com esta inevitabilidade. Os dias são críticos e as medidas que os governos europeus impõem induzem a certos actos de desespero como "ilustra" o caso deste homem grego. A morte é um facto incontornável para o ser-humano, é verdade. E é permanente. Mas a vida não -- ela pode acabar no próximo minuto e pela nossa própria mão, literalmente. Talvez a morte seja mais forte que a vida.

Camus dizia que só exisia um problema filosófico verdadeiramente sério: «o suicídio -- julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à questão fundamental da Filosofia.

Questionar, faz parte do Homem. Perguntar, pensar, equacionar: tudo isso não está mal. O mal está em querermo-nos demasiado. Porque aquilo que está a mais é puro egoísmo. Melhor direi: excesso de egoísmo. Mas imaginar uma humanidade que se dá apenas por se dar é talvez cair numa profunda utopia. Inventamos, enfim, todos os dias uma forma de amaciar o nosso caminho para o inevitável encontro com Godot.