quinta-feira, junho 07, 2012

MORREU BRADBURY: UM FICCIONISTA DE FUTUROS

Ray Bradbury

 Morreu ontem o escritor Ray Bradbury, nascido a 22 Agosto de 1922 (Waukegan, Los Angeles). Faleceu em 6 de Junho de 2012 e foi um notável escritor no género da ficção científica: o seu registo não era apenas narrativo e as suas histórias, no género aqui referido, investiam num claro valor poético, profético, atento às tecnologias de ponta e àquelas que mal afloravam no horizonte das grandes descobertas da civilização contemporânea, gerando assim, por outro lado, um espaço intemporal onde a consciência humana se confrontava com alegorias, visões simbólicas, avisos ficcionistas que inventavam futuros. O futuro. Há assim uma ideia moral nas histórias de Bradbury, as quais são tecidas para além das nossas habituais verosimilhanças e em ordem a um certo tipo de idealidade no amanhã, algo que nos introduzia numa visão cósmica cuja infinitude envolvia de perto o próprio homem e os seus  poderes de criação ou de antecipação de outras ordens para o mundo.
 
livro Crónicas Marcianas | filme "Marcianos"

Bradbury é hoje mais conhecido pelas suas obras «Crónicas Marcianas» (1950) e pelo filme de Truffaut, de 1966, «Fahrenheit 451» baseado na obra homónima de 1953. O grau de simbolismo sarcástico faz desta obra uma profunda questionação ao valor da civilização e da cultura e às forças da denegação que procuram massificar e apagar os comportamentos aí enraizados. Numa espacialidade urbana mecanizada e asséptica, cheia de automatismos  e de normas dogmáticas, os bombeiros não se dedicam a apagar fogos, são antes uma força política e policial que usa lança-chamas para queimar na praça pública todos os livros e documentos similares que fossem encontrados. Quando esta hipérbole se visualiza no filme, e o dogmatismo embaraça o bombeiro ainda inocente, um terrível retrato das sociedades opressoras e dos preconceitos culturais nos travam num consumismo fútil. 
Mas há sempre os resistentes, os últimos seres a honrar a sua dignidade e a evolução da espécie: fugindo para as florestas, organizando-se de forma comunitária, grupos de homens e mulheres lêem em voz alta obras fundamentais salvas do holocausto e, depois de as decorarem, vão espalhar por outras memórias, oralmente, literaturas raras. A republicação era feita dessa maneira, numa longa deriva em trabalho, e por forma a salvar a memória do próprio homem.
 
Arrancados às bibliotecas clandestinas resmas de livros, um bombeiro subalterno recolhe as provas do pecado envolvido na cultura literária, arquivo de outros saberes.
As chamas reeditam assim muitos outros tormentos da cegueira dos homens e dos seus mal 
avisados poderes: os livros ardem em montanhas, um pouco por toda a parte, lembrando o fervor terrível com que a Inquisição queimava bruxas, sábios e hereges.


Bradbury terminou os seus estudos em 1938 e publica o seu primeiro livro de ficção científica em 1939, estreando-se, profissionalmente, com «Pendulum». «The Lake» é de 1944, entretanto, publica também vários contos e muitas outras obras como «Crónicas Marcianas», «O Homem Ilustrado», «Fahrenheit 451», «Something Wicked This Way Comes» ou «Death Is a Lonely Business» (1985.). A sua obra continua actual.

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