sábado, maio 18, 2013

ENTRE CORTES E EMBUSTES, PORTUGAL NEM SEQUER SE FAZ AO MAR



Primeiro Ministro, ontem, rezando ao povo


Chovia copiosamente a um mês do Verão e alguns lisboetas iam comer pipocas para cinemas em miniatura, olhando filmes cuja expansão sonora tem provocado tantas doenças dos ouvidos como cancros da mama. E eu, cidadão K, encontrei um velho amigo do tempo do décimo quarto ano da guerra "colonial". «Olá, velho amigo, só nos encontrámos duas vezes depois daquela fuga de Angola. Ah, e também na Fonte Luminosa, depois do 25 de Abril.» O velho amigo disse: «É verdade, as voltas que a vida dá. É bom encontrar-te, K. Sabes, eu já estou aposentado, juntei uma pequena poupança, mais de cem mil euros, mas agora com a crise e a ladroagem dos sistemas tive que dividir aquilo por três bancos, porque a Europa Unida já se esqueceu dos direitos e deveres humanos: dizem que só são sacrossantos os tais cem mil, qualquer cêntimo a mais pode vir a ser engolido (roubado) em maiores crises ou complexas situações dos bancos (falências, que hoje até se fingem).
Coloquei a mão sobre o ombro do meu velho amigo e disse: 
«Podes guardar metade em casa ou meter tudo num paraíso fiscal.»
«Não sou capaz. Já dividi as tranches. Como a reforma (pensão) vai sempre para o banco, e como eu até há meses confiava nos bancos, nunca contei sequer a seriedade dos depósitos. Ontem fui lá e vi um pequeno aumento na conta à ordem: era da pensão, mas quase por metade. Fui saber: o empregado, triste, disse-me que isso era o resultado dos vários cortes feitos nas pensões desde o entendimento com o plano da Troika para o plano de ajustamento. O que é isso? E ele, pesaroso: «é o plano de austeridade.» Encrespei-me: «mas a reforma de um trabalho de mais de 40 anos passa por um direito inalienável, para isso servem contratos, cálculos, a própria vigilância do Tribunal Constitucional. Quando querem adiantamentos por conta do IRS, mandam pelo correio um papelito com a conta: é um aviso de dívida que eu não contraí mas sempre é um aviso. Agora não: sou confrontado com um corte silencioso e cego, sem que ninguém tentasse saber se eu não entraria logo na falência, porque as despesas com senhorios e outros ganhadores do mesmo tipo podem provocar despejos, palavra imunda para figurar em qualquer lei, mesmo essa.»
«Oiça, meu velho amigo, há um deserto à nossa frente e eles andam a discutir se fingem que pagam mais taxas (cortes) nas pensões ou engolem mesmo as medianas pensões e reformas com mais cortes, o que lhes está à mão de semear e não tem nada de reajustamento nem de civilizado, é só mais fácil, como num casino falsificado em que se arrecadam jogo perdido a três milhões de cidadãos frequentadores». E o homem, meu velho amigo, arregalou os olhos: «então estou frito: ou mato-me ou mato parte dessa gente que manda de olhos vendados. Isto começou com o Saramago e o Nobel: cegou as pessoas de manhã, em branco, deu cabo deles todos, e depois fugiu para Lanzarote, deixando o mundo submetido aos cegos mafiosos, que violavam mulheres e roubavam tudo o que podiam.»
«Eu, K, do "Projecto K" já pertenci a uma PP e tenho as massas arrecadadas na Suiça. Ultimamente tenho sentido vergonha e trouxe algumas poupanças para Lisboa. Os debates estão cada vez mais acesos, o tempo corre, as decisões contradizem-se, o dinheiro desaparece, o governo vai assiduamente passear à Alemanha e beijar a senhora Merkel, a recessão começa a surgir um pouco por toda a parte. A Troika não sabe nada do nosso país, senão através de papéis e de relatórios básicos para medidas absurdas, sem amanhã, iguais para todos os países, a Europa praticamente desfeita do sonho inicial, nacionalismos outra vez, os países do norte doidos de sobranceria, dizendo que a malta aqui não trabalha. O sul é que gerou o mundo onde eles se acoitaram, metidos no frio e na noite, fumegando carvão até ao fim da Revolução Industrial. O fim? Talvez. Agora é só velocidade de cruzeiro e balelas de grandes grupos económicos a sugarem novas energias, novas tecnologias, para não terem concorrência e ajoujarem os clientes/contribuintes. A Síria arde e o mundo é um mundo sem razão. A ditadura das finanças abarca tudo e não abre a porta à economia e à recuperação inovada de uma perspectiva de desenvolvimento sustentado. Qualquer cidadão percebe hoje que o aumento dos prazos para pagamento de dívidas é o aumento do deserto e em Portugal, onde toda a população se acomoda miseravelmente ao litoral e às grandes cidades, com uma qualidade de vida aviltante, há muito deserto interior para preencher, revertendo propósitos e dependências. Passos já não sabe onde esgaravatar o dinheiro, porque só quer dinheiro e não ideias, projectos. Avanços. O Gaspar ensinou-o assim, trabalha sem ver o mundo e sem comparar os momentos da História, dos homens e dos dinheiros. Não basta um computador e uma teoria já falida, desempenhada por funcionários hirtos, meros contabilistas apenas com gente a seus pés.» 
O senhor K ficou pensativo: fez contas e chegou à conclusão que tinha de emigrar para a Suiça ou fazer retornar o dinheiro. Porque o plano da União de Bancos (na Europa), a revisão dos tratados, a intervenção consensual do BCE, emissão cuidada de moeda e ajudas de um fundo Orçamental Europeu, apurar funções e poderes do parlamento e da comissão, ajuizar das capacidades e neutralidades do Conselho Europeu.
Em Portugal, por outro lado, é preciso dizer ao governo, nem que seja a poder de raptos e formação forçada, que despedir quadros em nome de uma reforma da Administração que ainda não está dimensionada, é de loucos, mais aquela coisa eufemística da "requalificação". É urgente fazer ver aos nossos governantes que arranjar mil biliões de euros aqui e além não é reforma nenhuma do Estado. É preciso primeiro saber o que se quer que o Estado seja, perante a História, a Cultura e as realidades da miséria actual: isso é trabalho de  sábios (não de gestores bem pagos), incluindo as Universidades e certas Instituições técnicas. O plano da reforma só precisa de papel, canetas e computadores, além de secretários para configurarem organogramas e textos pré-legislativos. Depois, a forma final discute-se e só  então se avialiam os montantes para os diferentes sectores e projectos a médio e longo prazo, quantias para o trabalho e para os sectores de controlo e gestão de recursos. Ouve-se falar em dinheiro e parece que só com ele logo a reforma resulta: não resulta "coisíssima nenhuma". É preciso planear, inovar os planos, avaliar bem os recursos. Porque é que os nossos políticos ainda não recuperaram o conceito do mar, do oceano, e de tudo o que ele nos pode dar? O Atlântico mata a nossa periferia, por muito que a Alemanha se arranhe: o Atlântico garante-nos a CENTRALIDADE -- de nós, nos vários sentidos para as Américas e África e Europa, placa giratória de distribuição e pontos para onde exportar as nossas originalidade e competência científica e tecnológica.

O amigo do Senhor K suicidou-se hoje, perto da Assembleia da República e deixou ao país uma nota nova de 5 euros e um jantar oferecido por um restaurante solidário.  

2 comentários:

Miguel Baganha disse...

PIM!

Anónimo disse...

Passos Coelho venceu legitimamente as eleições e constituiu governo com a boa intenção de salvar Portugal e os portugueses(sons de harpa ou violino). No entanto, os anteriores governos tinham deixado o país de tanga (onde é que já ouvimos isto?)e os portugueses não queriam afinal ser salvos, queriam apenas manter o seu elevado nível de vida, subsídios e outras benesses. Quando se apercebeu da enormidade da tarefa,Passos Coelho teve de optar: ou salvava Portugal ou salvava os portugueses. Os portugueses, enfim, bem podiam ganhar a vida no estrangeiro, como haviam feito os seus avós e correu tudo muito bem pois enviavam religiosamente para Portugal as suas poupanças. O que precisava ser salvo era, isso sim, Portugal, que não podia salvar-se sozinho pois estava nas mãos de um exército preguiçoso e incompetente de funcionários públicos. O pior era a dívida, interna e externa. Nem pensar incomodar os amigos, os colegas, os padrinhos. Morder as mãos que lhe deram pão empregando-o em altos cargos diretivos de importantes empresas. Não. O mal de Portugal eram os portugueses, essa classe média mal habituada, que não quer trabalho mas sim salário, que só adoece em dias de trabalho, que é tratado quase de borla nos hospitais e quer que os filhos sejam todos doutores. O mal são os "grisalhos" e reformados, que são gananciosos com o seu emprego e as suas reformas, que bem poderiam sacrificar-se um pouco pelos filhos e netos. Essa "peste grisalha" vai saber o que é a eutanásia (rufar de tambores). O pior é essa constituição comunista, cheia de direitos e omissa dos deveres. Torturado por estes terríveis pensamentos,Passos Coelho procurou
consolo e apoio nos amigos da Europa, a começar por Durão Barroso (agora José Manuel Barroso) que trocou em tempos o Portugal de tanga pela Europa em vestido de gala. No travesseiro da confidente e conselheira, Passos Coelho ouviu o que já lhe havia passado pela cabeça: Gaspar teria de falar menos e atacar mais; Cavaco Silva, bem levado, daria um excelente Américo Tomás. E lembrou a Passos Coelho, sem piedade: as finanças portuguesas só tiveram lucro (superavit)por duas vezes desde 1910. A primeira com o "mata-frades",Afonso Costa, que transferiu os bens da Igreja para os cofres do Estado. A segunda, com Oliveira Salazar, o "ditador santo" (Hermano José Saraiva).
Mas era tudo afinal uma armadilha. Nada corre bem em Portugal, por culpa dos portugueses, que insistem em ficar com algum salário para as suas despesas vitais. A´(s) dívida(s) do Estado aumentam. Nem se avista ao longe, no muito longe do fundo do abismo, uma luzinha de esperança quanto mais o superavit!
Passos Coelho continua convencido de que pode salvar Portugal mas que se trata, afinal de uma missão suicida - para ele e para os portugueses que leva consigo no seu "Zero" kamikaze.