quinta-feira, outubro 02, 2014

MORREU O ARTISTA PLÁSTICO ESPIGA PINTO

ESPIGA PINTO

Inesperadamente, para mim, que estou isolado em Lisboa, morreu ontem, no Porto, um grande amigo e colega nas artes plásticas, Espiga Pinto. Foi penoso para mim, tão sem sentido, ele que seguia a minha obra escrita, publicada pela sua companheira Manuela Morais, conversando ou escrevendo. Desde há muito que acompanho esta obra, a sua, as figuras de grande qualidade gráfica, gente do Alentejo, até outras viragens na figuração e nos círculos e na geometria de um certo universo fantástico, salpicado de astros e de deuses ou símbolos zodiacais, tornando a ornamentalidade num jogo de pressentimentos metafísicos.
Espiga Pinto, natural de Vila Viçosa, ganhou, além de outras distinções, o Prémio da Bienal de São Paulo, no Brasil, em 1973. Tratava-se de cenografia para a Gulbenkian, A Dulcineia. Espiga Pinto foi, aliás, bolseiro daquela Fundação, em 1973 e 1974. Tanto quanto se pode avaliar, em termos curriculares, o pintor (também experimentador da escultura) realizou mais de 80 exposições individuais, participando em muitas outras de carácter colectivo. O seu trabalho foi sempre multidisciplinar, operando em pintura, escultura, desenho, medalhística, design grafico, sobretudo nas belas capas que produziu para a Ulisseia. Está representado em grande número de colecções, algumas verdadeiramente importantes, tendo recebido, por outro lado, diversos prémios, da Academia de Belas-Artes, 1987, e Prémio Coty, dos Estados Unidos, 2000, pela melhor moeda (moeda comemorativa do planeta Terra).
Foi professor de Desenho no Instituto de Artes Visuais (IADE, Lisboa, entre 1979 e 1987. Nomeado membro da Academia Nacional de Belas-Artes e sócio da Federação Internacional da Medalha.

Esta nota, sob um sentimento de perda, não passa da notícia terminal que o mundo nos vai obrigando a traçar, cada vez, com menos palavras, com menos caracteres, com mais silêncio. Espiga Pinto, apaixonado pelas coisas e temas que invadiam o seu imaginário, deixou sinais artísticos de grande valor gráfico ou pictórico. Sendo um dos mais dotados artistas do seu tempo, trabalhou muito e aparentemente numa espécie de recanto, sem trombetas nem viagens engalanadas. Aprendeu muito, no capismo, a dar rosto a vários livros, na editora Ulisseia. Um nome, afinal, de míticas partidas e românticas chegadas.




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