quinta-feira, abril 10, 2008

ARTISTAS PORTUGUESES CONTEMPORÂNEOS | Eduardo Nery


Não é possível tratar aqui a obra de Eduardo Nery como o fiz para outros autores igualmente significativos. Em quase todos eles, e apesar de algumas derivas, o caminho tem uma certa continuidade. Ora a continuidade de Nery é de diferente natureza: é como se ele, mum amplo trabalho multidisciplinar, se tivesse cindido em heterónimos. Só que, no que se refere ao poeta Fernando Pessoa, os heterónimos têm personalidades e destinos próprios, de substancial alternativa. Em Nery pintor há o geómetra, o designer e o arquitecto, para não falar numa espécie de ardiloso especulador sobre a percepção visual. Tanto nesse domínio como nas obras plásticas integradas na arquitectura, os princípios ordenadores da forma são idênticos, têm quase a mesma raiz. Apesar da qualidade dos projectos de Nery para colorir arquitectura, dinamizar empenas e fachadas, revestir interiores, entre outras propostas, a linha geral da respectiva conduta autoral inclui sempre óbvios racords entre várias sequências e diferentes problemas. É uma prova de grande importância, que não basta ilustrar em álbuns, publicações isoladas de prestígio, mas antes ser investigada e estudada em Escolas Superiores de Arte, as nossas faculdades de Belas-Artes, ainda na urgência de convencer as Universidades Portuguesas de que o país dispõe de um espírito raro, quer do ponto vista estético, quer das disciplinas que percorre e onde cria ensinando, autor a quem presto esta singela homenagem, contra a indiferença e o esquecimento, na altura em que os estudos de arte atingiram a Universidade e se impertigam de volta de títulos em inglês, no fio estendido pela novidade aqui e além, no próprio instante que podem também fazer-se com o nosso património vivo.
Digo isto, em suma, sem qualquer rasteiro macionalismo nem vertigens xenófobas.

3 comentários:

naturalissima disse...

Eduardo Nery, um dos grandes artistas Portugueses que muito aprecio.
Parece fácil "manchar" deste jeito uma tela branca! Distribuir a tinta pelo vazio do branco, criando movimentos harmónicos, momentos/sentimentos que ficam "gravados" e vivos dentro de nós.

Mais um artista que o tio meu me levou a conhecer um pouco mais.

deixo aqui um beijinho
SobrinhaDaniela

naturalissima disse...

Bela sequência aqui editada sobre este artista Português. Diferentes estilos, materiais e linguagens que utilizou com grande mestria.
Para além de uma homenagem que o tio faz neste blog, acaba por dar a conhecer melhor ao visitante a grandiosidade e versatilidade deste homem artista... que sabe olhar vendo e pensando com inteligência relacionando a coisa e o espaço, em harmonia com a cor e o movimento.
BELA OBRA!
Daniela

Rui Caetano disse...

Um bom estudo, aprendi muito aqui hoje.