O discurso desta intervenção artística (The Saatchi Galery) cai sobre nós com o fragor da sua insolência e das alegorias sem mordaça. Há figuras humanas envelhecidas, lassas ou em letargia profunda. Corpos em cadeiras de rodas, ou alinhados na prece totalitária. Os velhos sentados, rodando devagar, são por vezes reconhecíveis como líderes do nosso tempo. Nas suas cadeiras robotizadas, que nunca se tocam programaticamente, os personagens inquietantes parecem interpretar no espaço uma corografia da perfeição e do medo, a perfeição do caos, o caos da nossa alienação progressiva. Aos espectadores é conferida a faculdade de observar esta circularidade e percursos contraditórios em plongé ou articulando passos hesitantes no centro da acção, de forma garantida e sem choques: uma anunciação da tecologia directiva que também nos manieta, entre milagres de morcego, desastres impossíveis, mas tudo a inspirar o pavor de devir, dos sonhos substituídos.
No texto de Cristina Margato, enviada especial a londres para cobrir este acontecimento, podemos ler que a peça «Old Persons Home» é uma possível metáfora de um mundo político sujeito a leis e interesses pouco transparentes. Concebida por dois artistas Chineses, San Yuan e Peng Yu, obra também pode ser conotada como paródia à morte das Nações Unidas, sugerindo a forma como o Ocidente olha outros universos religiosos e culturais, como o islâmico.
Cristina Margato chama a atenção que estamos a 20 anos sobre a fatwa a Salman Rushdie, em que o radivalismo ialâmico continua a mostrar-se «incontornável ao ponto de nos questionarmos sobre a becessidade de autocencura na abordage à iconografia religiosa islâmica (como aconteceu, por exemplo, com o caso dos cartoons dinamarqueses». O sangue brota de todos os mártires de forma semelhante e o seu reenquadramento trágico não envolve problemas de fé nem de vinfança. Tal oportunidade já os judeus tiveram e ainda hoje lhes sabe a amargo, dispersos, contidos num Estado poderoso mas com um destino bem problemático. Um dia, rodeados das suas virgens oferecidas por Alá, os sobreviventes na terra acabarão por corar légrimas de sangue e de vergonha como entretanto ainda muitos cristão o fazem perante os genocídios que a sua religião cometeu, A Inquisição como uma das mais ferozes forças da cegueira, do dogma e da subversão servida em bandejas de mentira e as Cruzadas, brutalizando povos inteiros os seus lugares de recolha espiritual. *
Sem medo, The Saatchi Galery aborda alguns temas tabu no Islão. Grande parte de outras peças, para além de «Old Persons», muitas peças foram de facto concebidas por artistas da Palestina, Irão,Iraque, Egipto, Tunísica, Líbano, Síria ou Argélia. As mentes que se contariem até um fio de vingança e morte começam a pertencer a uma dimensão que nos escapa, entre espaços sufocantes, apesar de tudo com artistas clandestinos cujo desejo de testemunho passa pelo grito das palavras e das obras, aliás num respeito bem principal por tradições remotas e leituras limpas dos textos sagrados. Aí haverá sempre, por vez oculto, sofrido até à morte, o estado da conição da mulher, tema central da exposição e das reflexões civilizadas e hoje, nas suas faces odiosas, revelando seres sem dreitos, sem o benefício da honra e da sua cidadana.
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* Este texto foi reescrito sobre parte do artigo de Cristina Margato (Expresso/actual) e procura, com excertos, estabelecer a forma laegamente usada pelo autor deste blog.
1 comentário:
Com efeito, Grande-mestre,
o Desenhamento deu aqui um salto aterrador, mostrando-nos o papel importante que arte desempenha na sociedade actual.
Os fantasmas de Kader Attia, representando as mulheres Muslim em oração e alinhadas desta forma, têm algo de futurista ou alienìgena simbolizando o abjecto e o divino em simultâneo. Um ritual algo estranho, mas sedutor que parece questionar as ideologias modernas. Da religião ao nacionalismo passando pelo consumismo e relacionando-se com a sua própria identidade, percepção social, devoção e exclusão.
Numa evocação à condição humana, vulnerável e mortal, estas figuras revelam a frustração que o Homem sente por não conseguir libertar-se do passado. Um passado religioso de devoção absurda e que tanto o limita.
Será que o Homem algum dia irá ser livre?...
Um abraço, João. Até logo!
Miguel
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