O Primeiro de Maio foi considerado o dia do trabalhador. Todos os anos aumenta o número de potenciais trabalhadores, enquanto tudo se multiplica inutilmente e as cidades industriais são tomadas pela poluição até níveis impensáveis, proibitivos, contrários à vida e ao respeito pelo nosso habitat, mesmo que pensemos em termos planetários. Os grandes países que caminham para a obstrução de tudo por tudo, subindo na soma absurda das taxas de crescimento, obrigam os operários e outros agentes da produção a recorrer à mecânica dos pedais e das bicicletas à medida que os carros entopem as vias e são sujeitos às mais diversas mutações híbridas. Um capitalismo sem medida e sem balança de estabilidade foi implodido de forma global, entre estrangulamentos de toda a ordem, desemprego alucinante, falências, crises de difícil saída. Apesar das tentativas para manter no futuro um Maio florido, hoje, em Lisboa, a multidão fazia o caminho do protesto. É notório o desencaminhamento de todos, incluindo a agressão a um candidato às eleições para a Europa, desvio sem sentido na pessoa considerada, de todo sem relação com os oportunistas da crise, em termos nacionais e mundiais.
Grande turbulência por essa Europa fora, no medo por um futuro inacessível. Chovem objectos inúteis de fábricas inúteis, justamente quando mais precisávamos de planeamento justo e justifi- cado, nem demais nem demenos, um outro sistema, um novo caminho civilizacional em que os espaços comunicassem harmoniosamente entre si, produzindo a medida certa e criando a boa quadrícula da distribuição dos povos pelos territórios, sem metrópoles monstruosas e assime- trias de tudo em tudo. O crescimento não favorece o desenvolvimento, nem as cidades odiosas ajudam a aprender melhores comportamentos e um espírito criativo assente em sólidas bases éticas.
Talvez um dia, assim, o mundo se redimensionasse de forma humanista, Maio de novo florido fora da industrialização por excesso. Lembram-se do 1º de Maio de 74, em Portugal? Parecia anunciar um país novo, as mãos dadas, e afinal chegámos em 2009 a uma democracia feita de partidos apodrecidos em pântanos, o mundo em volta também.
2 comentários:
Foi a cultura do capitalismo, do consumo, que afogou os valores humanistas. Quando deveríamos ter alcançado o nível de tecnologia que nos permitiria usufruir do lazer para trabalho intelectual em função do desenvolvimento do ser, a razão do ter disparou.É preciso ter mais coisas, cada vez mais coisas, cada vez mais modernas, tudo se torna obsoleto num ápice.
Há que refazer mentalidades e novas formas de viver.
Talvez um dia, sim... se um armagedão aparecer, talvez assim se torne possível limpar toda a iniquidade da face da terra. O Homem já está de tal maneira engrenado na procura do poder e da ambição desmedida que não acredito num processo menos radical para redimensionar o mundo.
um abraço,
Miguel Baganha
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