Um amigo meu encontrou-me no café, sentou-se, pediu água lisa, e começou a tentar sair da lavandaria das europeias. «Não estou preocupado, meu caro, estou sobretudo indignado. E não é para seguir a máxima de Soares. Nem os gritos do povo, índios nas feiras, tabernas carregadas de políticos de aviário bebendo café e copos de três, beijocando quem cospe neles ou lhes devolve bafos e salivas. São todos umas tribos de abruptos, todos têm razão de coisa nenhuma, os pachecos com os seus maneirismos no poder de interrupção, capela do círculo em quadratura, maçonaria de pacote, blogues e santanas por aí, à coca, copistas das cópias das antigas eleições, muito pau, muita bandeira, slogans capitalistas, esquerdistas, direitistas, enquanto rolam ferreiras pelo Chiado abaixo, sorrindo idades e arcaísmos, devegar se vai ao longe, treta dos liceus para pequeninos. Nem devagar nem depressa. Não há longe. E lá vêm os capelães da evangelização de rua, os arautos das canetas esferográficas, lápis de cor, cadernos de cópia, panfletos ou garotadas para os velhotes esfarrapados da reforma, batuques, portas a fechar portas e a abrir portões, melna sem pá, estilo francês, la fraternité, muito discurso a fingir de jeitoso, trocadilhos, e por duas ou três razões. Ou quatro, Os sócrates não podiam deixar o trono para virem umas horas apoiar os seus candidatos, vitais moreiras acusados de burros, de falharem tudo, sim, sim, os rangéis é que estão a dar, não nas faladuras, talvez por serem quase virgens em coisas destas e terem uma voz aguda e rachada, uma escolha brilhante (dizem) das ferreiras para fazerem o papel delas, aquelas que chamaram aos sócrates cooveiros da Pátria e afirmaram, brando no laranja, que as reformas não se fazem em democracia: fazem-se depois de se suspender a democracia pelo menos durante seis meses. Tudo à bruta, num tufão de mudança, políticos atirados deste para outros continentes, nada de provedores, nem de juízes, juízes também, porque não? Um estágio, sem vencimento, na Guiné-Bissau, seria de um fulgor sem nome. Indignado, eu? Eu nem queria parar a democracia, queria varrer os partidos, tudo se recicla ao cabo de certo tempo. Em vez deles, experimentava, através de um programa de televisão, punha lá gente miúda e boa, humilde e sábia, ansiãos também, daqueles dos governos comunitários nas aldeias, mas sem etiquetas, num gran círculo sem quadratura, projecto eventualmente capaz de mitigar a nossa depressão pânica. Os actuais partidos, os grandes e velhos partidos, deveriam pagar multas imensas por cada arruada cometida, gente a comer febras, a beber vino, a esconder segredos: iriam todos descascar batatas batatas em prisão preventiva até confessarem os recentes manobrismos, reconhecendo que propaganda de rua, com brinquedos e outras acenos, não são maneira de falar às populações, a festinha balofa, os milhares de euros gastos para lavar a roupa suja, entre duas ou três palavras sobre a europa, lá onde se acomodam primas donas, delinquentes da extrema esquerda, defensres do natural equilíbrio dos mecados, tudo ao molhe e no malho, malta do dinheiro selvagem, malta que finge esquecer a lei dos mais fortes, a morte do planeta por erros colossais dos seus homenzinhos conscientes. São os xavieres de sacristia, os louçãs analistas, padres metodistas com pedra no sapato, dragas como as Irínias mais afinadas, ildas trotantes, cortantes, fundamentalistas, jerónimos dos partidos que são como condomínios fechados, homens sem cabelos brancos nem sobrancelhas façanhudas, todos reféns de mitologias doentes, de incapacidades mórbidas. Todos os nossos partidos estão em desacordo com tudo, mas em cinco minutos aceitaram o dinherrinho para as arruadas e, em mais de um ano, não foram capazes de se entender para a substituição de um senhor provedor, que acabou, doente e indignado, por resignar. E por aí se vê que nada, entre cassetes, vai muito mais longe do que malhar no freeport, manuelas malhadas pelos marinhos, bancos corruptos, banqueiros por prender, aliás entre outros da mesma casta social. E o ensino, meu caro? A ministra vem do outro mundo falar de forma tecnicista, salvadora, capaz dos maiores milagres, O ensino não tem nada a ver com tão enviesados manobrismos nem os professores precisavam de andar tanto na rua, humilhando-se. Os sindicatos têm as suas tocas de permanência, não doutrinam nem ajudam ninguém: é também gente petrificada por décadas no seu altar, não resignam nem à porrada e aceitam eleições continuamente iguais. O espectáculo dos últimos dias, repetindo até ao vómito fórmulas gastas, arcaicas, todas de feirantes no seu pior estilo, ideias nenhumas, barretes muitos, que é que eles fazem amanhã? A crise não está a servir para nada, é uma oportunidade perdida: a ideia de progresso alfacinha é a mesma, mais carros, mais condomínios fechados, mais hipermercados, mais assimetrias sociais (até ao crime), mais vencimentos inomináveis, mais imobiliário sem norte, abjecto, casas devolutas, casas a mais, cidades grandes a mais, vileza das estradas, o interior candidato a deserto, nem memória da agricultura diversificada, nem uma única ideia sobre como mudar o homem e as sociedades para um outro paradigma (como se dis agora), um projecto capaz de excluir o excesso e o lixo, os fósseis e a morte das florestas» Estou sem fôlego, amigo, disse ao meu amigo. Apreendeste tudo isso nos jornais, onde tudo não passa desse barro e dessa acidez, ficando bem longe de retornos aos primeiros grandes ciclos da vida organizada. O trânsito, na capital da Nigéria, visto do ar, perturba qualquer consciência. Mas isso, como quase tudo mais ou menos semelhante a isso, incluindo a migração para as cidades que parece continuar até à sufocação, o planeta vai calar ou apagar daqui a menos de dois séculos. Os abruptos, ao emigrarem para Sírius, serão porventura visitados por uma Nova verdade, respirando uma atmosfera de metano e acabdo submetidos a uma outra genética totalmente imprevisível. Deus ainda não sabe o que fazer com a sua criação.
sábado, junho 06, 2009
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1 comentário:
Palavras?: estão todas aqui.
Cor certa?: o branco.
Uma nova verdade?: não tenho.
Um dia especial: segunda-feira.
Porquê?: não digo.
Que vou fazer?: olhar o céu e esperar que Sírius me indique o caminho.
Um abraço?: o meu.
Quem sou?: eu, carago.
Estou?: não, fuiiiiiiiiiiiiiiii.
Miguel
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