Tenho sofrido a maior das perplexidades, quer pelos desfocados indicadores da democracia, quer pelos que, negando com o anonimato esses indicadores, vêm negar-me o direito de duvidar das avançadas competências de Filipe La Féria. Um comentarista anónimo, suponho que o mesmo por duas vezes, vem dizer-me que eu devo estar com dor de cotovelo, pois, do bom teatro que se faz em Portugal, Filipe La Féria consegue sempre superar e ter salas cheias. Este simpático anónimo conclui que fica à minha disposição (de) perceber. E acrescenta, sem a menor dúvida: que eu devia mudar o post dedicado a La Féria dizendo «AS COISAS IMPERDOÁVEIS QUE SOU CAPAZ DE FAZER por não saber o que hei-de fazer e querer assunto para colocar no blogue.
Estas admoestações, a que não tenho o hábito de responder em contraditório, são, no caso do senhor referido, susceptíveis de algum esclarecimento. Ele deveria ter lido com mais atenção o meu post sobre os espectáculos de La Féria, pois a ironia por vezes parece aumentar a negação; além do mais, o senhor anónimo, se desejasse saber se eu tenho ou não assuntos para publicar no blogue, podia pesquisar um mínimo os materiais aqui existentes e teria referências a muitos artistas, de várias áreas como o teatro, o cinema, a literatura, as artes plásticas, a par de problemas actuais, da civilização que vamos diluindo. Aquele meu correspondente anónimo diz-me ainda, a terminar, que, se eu moro em Portugal, antes de criticar o bom trabalho de qualquer cidadão, procure saber escrever e copiar aquilo que em outros (orgão) da comunicação está presente.
Este correspondente, que pensa com paixão e escreve pior, quer-me ensinar a escrever e a copiar as revistas. Sobretudo se morar em Portugal. Não vou naturalmente falar da minha identidade: embora não viva dos valores mediáticos, ninguém me pergunta se vivo em Portugal.
Caro Filipe La Féria: o senhor é dos trabalhadores do teatro (e não só) que conheço há mais tempo. Já nos encontrámos na Sociedade Nacional de Belas Artes, em boa hora, mas os nossos caminhos foram diferentes e o seu crispou-se, com coragem, em torno das produções de grande espectáculo, musicais, teatrais, na senda dos exemplos que nos chegaram cedo da América e da Europa. A minha iniciação no apreço por tal género de arte começou em Londres, com o famoso «Hair», o primeiro, o original, que arrebatou tanta gente. Mas tenho a certeza de que o artista que o senhor é, e tem progredido com meios desencadeados por si, concordará comigo que a encenação fílmica de «Música no Coração» fica muito áquem das produções da Brodway ou, citando ainda o cinema, a belíssima versão de «My Fair Lady». E agora, por certas de dúvidas que me assaltaram a propósito de algumas das suas encenações, aqui publicadas, gostaria de saber de si (ou que esclarecesse os seus admiradores) se é possível apreciar o seu esforço, muitos aspectos do seu trabalho, e discordar de outros ou achá-los menos dignos de concorrerem com as versões vistas de peças como as citadas em propostas aparecidas em Londres, EUA, Alemanha, Inglaterra, etc. Isto é possível e é possível dizê-lo publicamente, tal como o La Féria faz com a sua liberdade de as dar a ver ao público?
Para terminar, peço-lhe desculpa de me dirigir a si directamente. Mas é importante fazer cultura conferindo aos outros o direito de a aceitar mais ou menos, conforme processos, linhas estéticas, modos de fazer e representar. Eu sei que o La Féria não faz certas coisas, do ponto de vista formal, porque não tem meios para isso: trata-se de um problema endémico do país, contra o qual muitos de nós têm lutado. A prática por si ganha tem emprestado a algumas soluções interessantes ardis de sucesso visual e popular. Mas, estou certo de que concordará comigo, o ar solto, minimal e de gosto imediato, em certos epectáculos de que o público costuma gostar, ou até idolatrar, não nos retira a grandeza das melhores óperas de Wagner, sobretudo as que a televisão gravou em alta fidelidade e que tiveram audiências notáveis. Embora a televisão, socializando as obras, não seja, contudo, o meio apropriado para a formulação operática.
Caro La Féria, eu estou em desacordo, na generalidade, não na especialidade, com a sua estratégia estética, o modo de formar, os arquétipos em certas cenas ou personagens. Posso falar sobre isso jocosamente, mas não me condena por isso, pois não? Ou acha que eu devo copiar o que dizem sobre as mesmas obras as grandes revistas internacionais do espectáculo, comparando os respectivos conteúdos com os seus trabalhos?
Nas revistas portuguesas não encontro nada capaz para copiar. Presto-lhe assim o dever desta saudação, com a qual o revejo na vontade, e me afirmo no direito de tratar publicamente as minhas ideias, sabendo perfeitamente que você não aprecia anonimatos e frívolos encantamentos pelo que faz. Ver é compreender. Compreender implica análise crítica. E sem falar agora da crítica jocosa em que o nosso país era mestre.
Estas admoestações, a que não tenho o hábito de responder em contraditório, são, no caso do senhor referido, susceptíveis de algum esclarecimento. Ele deveria ter lido com mais atenção o meu post sobre os espectáculos de La Féria, pois a ironia por vezes parece aumentar a negação; além do mais, o senhor anónimo, se desejasse saber se eu tenho ou não assuntos para publicar no blogue, podia pesquisar um mínimo os materiais aqui existentes e teria referências a muitos artistas, de várias áreas como o teatro, o cinema, a literatura, as artes plásticas, a par de problemas actuais, da civilização que vamos diluindo. Aquele meu correspondente anónimo diz-me ainda, a terminar, que, se eu moro em Portugal, antes de criticar o bom trabalho de qualquer cidadão, procure saber escrever e copiar aquilo que em outros (orgão) da comunicação está presente.
Este correspondente, que pensa com paixão e escreve pior, quer-me ensinar a escrever e a copiar as revistas. Sobretudo se morar em Portugal. Não vou naturalmente falar da minha identidade: embora não viva dos valores mediáticos, ninguém me pergunta se vivo em Portugal.
Caro Filipe La Féria: o senhor é dos trabalhadores do teatro (e não só) que conheço há mais tempo. Já nos encontrámos na Sociedade Nacional de Belas Artes, em boa hora, mas os nossos caminhos foram diferentes e o seu crispou-se, com coragem, em torno das produções de grande espectáculo, musicais, teatrais, na senda dos exemplos que nos chegaram cedo da América e da Europa. A minha iniciação no apreço por tal género de arte começou em Londres, com o famoso «Hair», o primeiro, o original, que arrebatou tanta gente. Mas tenho a certeza de que o artista que o senhor é, e tem progredido com meios desencadeados por si, concordará comigo que a encenação fílmica de «Música no Coração» fica muito áquem das produções da Brodway ou, citando ainda o cinema, a belíssima versão de «My Fair Lady». E agora, por certas de dúvidas que me assaltaram a propósito de algumas das suas encenações, aqui publicadas, gostaria de saber de si (ou que esclarecesse os seus admiradores) se é possível apreciar o seu esforço, muitos aspectos do seu trabalho, e discordar de outros ou achá-los menos dignos de concorrerem com as versões vistas de peças como as citadas em propostas aparecidas em Londres, EUA, Alemanha, Inglaterra, etc. Isto é possível e é possível dizê-lo publicamente, tal como o La Féria faz com a sua liberdade de as dar a ver ao público?
Para terminar, peço-lhe desculpa de me dirigir a si directamente. Mas é importante fazer cultura conferindo aos outros o direito de a aceitar mais ou menos, conforme processos, linhas estéticas, modos de fazer e representar. Eu sei que o La Féria não faz certas coisas, do ponto de vista formal, porque não tem meios para isso: trata-se de um problema endémico do país, contra o qual muitos de nós têm lutado. A prática por si ganha tem emprestado a algumas soluções interessantes ardis de sucesso visual e popular. Mas, estou certo de que concordará comigo, o ar solto, minimal e de gosto imediato, em certos epectáculos de que o público costuma gostar, ou até idolatrar, não nos retira a grandeza das melhores óperas de Wagner, sobretudo as que a televisão gravou em alta fidelidade e que tiveram audiências notáveis. Embora a televisão, socializando as obras, não seja, contudo, o meio apropriado para a formulação operática.
Caro La Féria, eu estou em desacordo, na generalidade, não na especialidade, com a sua estratégia estética, o modo de formar, os arquétipos em certas cenas ou personagens. Posso falar sobre isso jocosamente, mas não me condena por isso, pois não? Ou acha que eu devo copiar o que dizem sobre as mesmas obras as grandes revistas internacionais do espectáculo, comparando os respectivos conteúdos com os seus trabalhos?
Nas revistas portuguesas não encontro nada capaz para copiar. Presto-lhe assim o dever desta saudação, com a qual o revejo na vontade, e me afirmo no direito de tratar publicamente as minhas ideias, sabendo perfeitamente que você não aprecia anonimatos e frívolos encantamentos pelo que faz. Ver é compreender. Compreender implica análise crítica. E sem falar agora da crítica jocosa em que o nosso país era mestre.
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