sábado, dezembro 19, 2009

ELIA KAZAN: PORQUE NÃO DEVEMOS ESQUECÊ-LO

Elia Kazan
Entre nós, como é habitual em muitos casos, o centenário do nascimento de Elia Kazan (1909)passou quase despercebido. Penso que estas datas datas, relativas sobretudo a grandes criadores do audio-visual, do teatro, das artes cuja natureza nos permite caracterizá-las com o tempo e o espaço, deveriam ser sempre assinaladas, pelo menos, na atelevisão. Não era nada difícil fazer uma notícia, falar com algum conhecedor credível, e passar entretanto algum trecho de uma das suas melhores obras, ou eventualmente filme inteiro. Mais ou menos dilatado, o momento de comunicação pública, seria sempre de boa qualidade, com a vantagem de dservir a conservação de memórias culturalmente inalienáveis. É que, Elia Kazan, emigrado muito cedo para, foi sem dúvida um dos maiores nomes de sempre do cinema. Era grego de Constantinopla, e trabalhou também para o teatro, encenando de forma notável Morte de um Caixeiro Vajante (pela escrita por Arthur Miller) e igualmente Um eléctrico Chamado Desejo (de Tennessee Williams), obra que depois realizou no cinema, com o mesmo título, e a notável exploração expressiva de um actor que não se esquece facilmente, Marlon Brando.
É importante assinalar, desde já, que Elia Kazan ganhou um enorme prestígio como director de actores. Não só os dirigia, em grandes encenações, como também os descobria, através de uma sensibilidade especial. Marlon Brando foi um desses casos, que também dirigiu em obras angukares do cinema, como também aconteceu com o mítico actor James Dean.
Dean, até pela sua prematura e trágica morte, tornou-se a marca de um certo tipo de escola, abrindo uma ilustração privilegiada da geração rebelde daquele tempo e das relações entre pais e filhos, a conquista da dignidade e o valor solitário de a salvar. Rebelde sem Causa (em Portugal distribuído com o título Fúria de Viver) deve-se ao talento de Nicolas Ray e trata-se de um filme de referência no âmbito da sua temática.
Quanto a Kazan, é curioso o seu trajecto, numa América de tantas contradições: alcançou dois óscares (como realizador) pelos filmes A Luz é para Todos (1947) e Há Lodo no Cais (1954). Depois, apesar de uma produção carregada de obras primas, a Academia afastou-o daquele mérito, o qual caberia, com fortes razões, a obras como Um Rosto na Multidão (1957) ou esse inesquecível preito de homenagem aos emigrantes da Arménia, Itália, entre outros pontos, o filme América América (1963). A sua obra é sempre marcada por uma qualidade superior na orientação dos actores, num realismo de timbre dramático avassalador, na busca de conteúdos importantes, próprios dos tempos e da condição humana. Para além destes filmes, há outros de índice igualmente superior e que têm sido injustamente esquecidos como A Voz do Desejo (1956) e O Compromisso (1969), ou esse belíssimo melodrama (com James Dean) Esplendor da Relva.
Em 1999, e apesar de todos os males de ostracismo que têm vindo a matar a memória de obras notáveis, devidas a uma recuperação saudável, mesmo para esclarecer o horror dos pecados de gula manipulada pela espectacularidade tantas vezes gratuita (e cara) das indústrias do meio, Kazan fou contemplado por Hollywood, com a atribuição de um Óscar honorário. O cineasta viria a falecer cerca de quatro anos depois.
Os que tiveram o privilégio de conhecer a obra destes homens, incluindo muitos mais depois recuperados a Leste e noutras cinematografias indissociáveis da nossa verdadeira formação, devem assumir tal memória, sobretudo partindo de professores, artistas, cineastas, escritores, actores, a fim de não nos perdermos em falsos avanços ou na perda do gosto em termos culturais, e também qualidades sociais e ideológica (formativas) de tais exemplos.

3 comentários:

Paula Raposo disse...

Obrigada pela partilha. Beijos.

jawaa disse...

Todos estes nomes preencheram a minha juventude. Ainda ouço o esplendor da paixão de Shakespeare recitado no início do filme, Nathalie Wood e Warren Beatty no seu melhor. Ela foi a heroína d emuitas adaptações de Tenessee williams e Dean foi para sempre o inadaptado do Leste do Paraíso.
Na atribuição de Óscares (como Nobel), há sempre os favorecidos e os grandes perdedores. De adaptações de Tenessee Williams, Paul Newman só recebeu um único Óscar de fim de carreira...

Miguel Baganha disse...

Esta homenagem, embora póstuma é muito merecida, Joao. De facto, há certos artistas que não podem cair no dito ostracismo: Elia Kazan é um deles.

Gostaria que os grandes génios fossem lembrados mais vezes em vida.

Um abraço.