sábado, dezembro 12, 2009

VEJA PACHECO ESCRITO POR EÇA DE QUEIROZ



contrapontos

Li hoje um curioso artigo no Diário de Notícias, «Desonestidde de Pacheco», na página A VESPA. O articulista parece ter descoberto mais uma qualidade na natureza pública de Pacheco Pereira. Lá para o fundo do blog lembro-me de ter escrito qualquer coisa sobre ele e A QUADRATURA DO CÍRCULO, ou melhor, O CÍRCULO DA QUADRATURA, que é de facto o que mais parece a dinâmica giratória e retórica sobreposta de Pacheco e Xavier. O terceiro não importa porque vai e volta, e o apresentador/moderador, de óculos redondos e barba rasa, nunca se digna a parar um dos permanentes para dar a palavra ao outro, zelando pela disciplina conunicacional, contra sobreposições e interrupções, a fim de que a emissão chegue ao telespectador com um mínimo de respeito por este oculto personagem.
Embora conhecesse intervenções deste tipo, às avessas, cheias de sinuosidades argumentativas por tudo e por nada, coisas pequenas, murmúrios em forma de boato, a precariedade do trabalho político, no governo e um pouco por toda a parte, dentro da minha cabeça a vespa agitava-se radiofonicamente, cada vez mais eléctrica e estridente. Este trauma fez-me lembrar um famoso tempo de antena radiofónico que dava pelo nome, sempre a condizer, de «Flash-Back». A audiência devia ser enorme. Pacheco Pereira só deixava de falar quando ia passear ao antigo Leste, nomeadamente à Tchechénia (diziam os jornais). Na volta, e sem falar no passeio, a pancadaria nos políticos do tempo recomeçava e Pacheco, desdobrando em redondo longos pensamentos da melhor dialéctica, comia as papas do interlocutor, o queixoso José de Magalhães. Não sei se haveria mais gente no programa, nem qual o coordenador. Lembro-me, sobretudo, de Magalhães (não, não falo do computador, coitado), quando episodicamente ele tentava falar: logo logo logo o interrompia o companaheiro, repetindo uma entrada qualquer, as vezes que fossem precisas, até o outro ser vencido e se sentir amordaçado, compelido a falar na hora tardia da esmola.
Outro dia passei pelo programa do CÍRCULO e fiquei pasmado ao ver um recem saído de Ministro, arfante e simpático, a dar explicações e a justificar a famosa compra do (agora sim) Magalhães: e logo o nosso Pacheco, com o Xavier contristado à espera da sua rábula, se lançou como gato a bofes para desmontar toda uma enorme e artificiosa manobra económica, a forma de comprar o aparelho, o embuste dos programas do próprio computador, tudo péssimo, feito para o terceiro mundo e fabricar mais gente analfabeta. Aqui fiquei um bocadinho perplexo: então as pessoas do terceiro mundo podem receber coisas de embuste, aparentemente porque, na sua menor capacidade de entender, só é devido aos outros, na Europa, o direito a programas bem feitos, dignos de uma escola verdadeira? Parece, pela conversa, que nem aqui se deveria devassar o espaço educativo com aquele princípio tecnológico, piroso e terceiro mundista. Pela boca morre o peixe. E o peixe engole, na água, o oxigénio dela - e não sabe nada de Teoria da Educação.
Resolvi então investigar na VESPA qual o pecado cometido pelo historiador bizarro, enovelante, que vai para a última fila da Assembleia da República e de lá aparece na televisão, ou dizendo uma verdade sinuosa e ponto final, ou refastelando-se no banco, a cabeça inclinada e um sorriso sardónico nos lábios. É, além do mais, e se calhar mais, um personagem que talvez o Eça gostasse de conhecer, escrevendo-o depois num romance que começaria em Moscovo e se desenrolaria no Alto do Pina, em Lisboa, antes, muito antes do PREC. e do ABRUPTO.

Diz o articulista do Diário de Notícias (12.12.2009):
«Se dúvidas restassem sobre a matriz estalinista de Pacheco Pereira e a sua evidente queda para a reescrita da história, o seu Ponto Contraponto na Sic-Notícias dissipa-as. Na última edição, a 6 deste mês, o que era suposto ser mais um programa de análise dos media, foi, tão-só, o tempo de que o "historiador" precisa para desfiar a sua agenda de ajustes de contas pessoais.
Cada programa é utilizado para disparar as mais diversas desonestidades intelectuais contra os seus inimigos, estejam eles fora ou dentro do PSD, fora ou dentro das redacções. Foi o que aconteceu com a análise feita à brochra distribuída por todos os jornais no dia em que entrou em vigor o Tratado de Lisboa. A versão portuguesa de um folheto, cujo conteúdo é certamente discutível, e que foi publicado no mesmo dia nos 27 Estados membros da U.E., foi alvo da fúria de Pacheco que o classificou como um documento de propaganda do Governo do PS pago com o dinheiro dos contribuintes nacionais. Mais adiante, no mesmo programa, quis comparar o DN e o Público, para dizer que, infelizmente, os dois jornais "estão cada vez mais iguais". Socorria-se Pacheco da capa das revistas respectivas, que ambos os jornais publicam aos domingos. Uma capa de publicidade! Exemplo que demonstra que, por mais que Pacheco tenha abandonado há muito o trilho de Estaline, o ex-ditador soviético nunca saíu de dentro de Pacheco...»
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a isto chamaria eu uma gravidez de risco

4 comentários:

Miguel Baganha disse...

Qual manifesto anti-Dantas, qual quê... isto sim, é um Manifesto!

jawaa disse...

Foi um prazer «ouvi-lo», tem razão o Miguel!
Eu já tenho dificuldade em acompanhar estes «senhores» que se julgam detentores da verdade.
E tenho muita pena, acredite, que o nosso PR (em quem não votei, mas que o aceito como democrata que me prezo de ser) não dê um murro na mesa e estabeleça um prazo brevíssimo aos senhores da Justiça (PGR e Presidente do Supremo) para que ponham as cartas na mesa sobre o que há de verdade e mentira sobre quem nos governa. Todos dizem que sim mas que também,tdos dizem coisas diferentes sobre o mesmo, alguém MENTE.
Cabe ao PR repor rapidamente a verdade dos factos, para o país poder avançar com base em alguma coisa credível, para que todos empurrem no mesmo sentido uma barca que cada vez balança mais. Desconfiar de tudo e de todos dá direitos a quem os não tem, nomeadamente ao atiçar da fogueira pelos media.
Ele não cumpre a sua função de defensor da Constituição, de árbitro dos poderes da nossa democracia, assim não vale!

Nuno de Sousa disse...

Sempre agradável a passagem por aqui faço e encontrar a clarividência saudável, como neste artigo bem releva, fora de “ditames” da normalização dos dias.

A "luxuriante" normalidade vigente, simulando-se de natural, ofusca o fluxo do dia-a-dia, criando uma camada invisível e impenetrável, deixa-nos atados aos artifícios dos brilhos da superfície, impedindo-nos de ver claro para além do festim luxuriante do devir dos dias.
Pelo que ponho por vezes a questão: Isto deve-se a ao uso da liberdade ou a falta dela? Estranho, se a falta dela. Mas, então, que "regime oculto" em práticas dissimulados de liberdade impede o seu uso? E com que propósito se faz poder estabelecendo-se como normalização do possível?

f disse...

Óptima análise. Parabéns. Quanto ao Pacheco, penso que não consegue ficar na sombra. O que ele parece querer é ser o novo líder das opiniões, a referência dos frustrados de qualquer tendência, o homem que acciona a máquina trituradora.