foto inicial: Diário de Notícias
Tantas vezes, entre a notícias de cimento e flores, nos julgámos aqui com algum direito à indignação pelas palavras de João Jardim, mordendo aqueles que em qualquer hora poderiam estar a dar-lhe a mão. Agora sobreveio a tragédia, a ira da Natureza, uma ira cega mas que tem a sua lógica, e as mãos mortas tiveram de superar, com dignidade, o reboliço revisteiro do Continente e da Madeira.
Leio e transcrevo pontos relevantes de um texto de Violante Saramago, alguém que que há trinta anos se converteu a viver naquela ilha, justamente no Funchal. A frase que lhe destacarm do texto é esclarecedora: «Não se pode transformar ribeiros em caminhos estreitos». Ao descrever os primeiros dados do desastre, Violante escreve: «tudo isto estava anunciado, só faltava a data. Anunciado?» Expliquemos um pouco mais: «Não se podem transformar ribeiros de 12 a 14 metros de leito em caminhos de cimento em que água corre a valocidades vertiginosas. Não se podem onstruir rotundas sobre ribeiras. Tudo isto tinha de rebentar. E não falamos de apenas uma, são três ribeiras que desaguam no Funchal. Alguém imagina cimentar o Tejo?» Assim, «tudo isto correu pior do que poderia ter acontecido. Nãp se aprendeu nada com a catástrofe de 1993 e daqui a uns anos vai voltar a acontecer. As construções foram feitas de forma caótica». Concluindo a parte principal do seu texto, Violante Saramago: «Custa-me que não tenha tido a hombridade de repensar o ordenamento (refre.se a João Jardim). A Madeira é atingida ciclicamente. Não foi nenhum castigo divino e não é só uma força da Natureza, que só tem um sentido: os bairros de lata e os mais desfavorecidos. Não há nenhum ordenamento e esta palavra devia começar a fazer parte da consciência de Alberto João Jardim».
Seja como for, agora na Madeira e como vai acontecendo um pouco por toda a parte, em termos desproporcionados, uma súbita tromba de água desabou sobre a ilha e fez ateradoramente o que a força da gravidade ordenava. Simplesmente 50 cm por mero quadrado ultrapassa a mais atrevida tempestade. E tudo desabou das montanhas, ultrapassando a estreiteza dos caminhos, derrubando casas, vias rodoviárias, mitos e muitos carros levados numa torrente de facto impressionante, alguns ja sem dono pela morte que quebrou dezenas de vidas humanas. É para essas vítimas que devem orientar-se as orações daqueles que crêem nesse apelo.
E também, num tempo das mais aberrantes quezílias partidárias, casos sombrios e mal abordados, tudo dentro da crise e da lassidão dos costumes, é justo realçar os políticos do governo que se dirigiram rapidamente ao Funchal, inteirando-se de tudo, e começandoa esboçar um plano de auxílio e reconstrução, o qual já está plenamente a funcionar. Apoiando tudo e esclarecendo tudo, na base da sua experiência da Ilha, João Jardim esteve bem.
1 comentário:
E tem algum fundamento, ao que parece, o facto de não ter sido declarado o «estado de calamidade», para assegurar que as seguradoras não se desculpem com a calamidade que realmente aconteceu. E a Festa da Flor, que vem aí.
Afinal a nossa ilha teve resposta condigna e congratulo-me com isso, trabalha-se noite e dia.
Mas porque é tão difícil os governantes darem um passo atrás e reconhecerem os erros cometidos, não recusando uma nova aprendizagem?
E não refiro apenas Alberto João Jardim.
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