sábado, junho 09, 2012

PORTUGAL, ARRUMADINHO E ENCARCERADINHO

um pormenor de de como se constrói em Portugal

Eu não faço a menor ideia de quanto custou o mosteiro dos Jerónimos. Mas sei como esta construção cega, casinhas de papel, geminadas como um enorme lego e ditas para habitação, venda ou arrendamento, custam os olhos da cara e varrem do horizonte tudo o que são, no mundo civilizado, as regras de ocupação e ordenamento do território. Os Jerónimos são parte indefectível da nossa história, cultura e identidade. E sei, por outro lado, que esta imagem nos traduz uma concepção inhumana do negócio imobiliário, numa irredutível avalanche contra a regras urbanas, o sentido de civilização e os direitos humanos. É assim que uma alucinada emigração para as grandes cidades e para o litoral as-simetriza esquizofreneticamente os meios e a implantação dos conceitos sobre a estabilidade humanizada do espaço, no mais grotesco engaiolamento de seres que mal conseguem sair desta «cidade branca» e regressar a ela a horas capazes de permitirem um fim de dia em família, jantar sem pressas, convívio com os filhos, incluindo o acesso à alegria e à ajuda dos que, por vezes, fogem da escola sob a crueldade vandalizadora das relações entre colegas, onde, pelo contrário, deviam usufruir de bem estar, na formação equilibrada da identidade e noção de cidadania.

1 comentário:

Miguel Baganha disse...

O texto que acabo de ler é, lamentavalmente, o retrato hiper-realista do mundo global, João.

A desorganização, a indisciplina, as «assimetrias esquizofrenéticas» são as "regras" básicas e fundamentais das sociedades modernas: o caos urbano tornou-se, convenientemente, numa realidade antropológica para o "bom funcionamento" dos falsos paradigmas.

É vital e urgente que se criem novos conceitos dentro e fora dos meios urbanos, respeitando a identidade e hábitos culturais de cada povo, de forma a reorganizar o Homem no sentido daquilo que é realmente necessário e não em mitos vindos sabe-se lá de onde.