sábado, agosto 11, 2012

FABRICO DE MENINOS MORTOS PARA MÃES CEGAS

olhem primeiro para estas crianças:
estarão a descansar, algumas a dormir
ou todas mortas por serem fictícias?

Não é fácil aceitar tudo o que as grandes indústrias das falsas necessidades nos impingem, desde um porta-chaves com horas e sinais sonoros incorporados até crianças fictícias para ajudar mães cegas de amor ou de frustração, talvez apenas maníacas dos jogos da moda. Colocam à nossa disposição brancas de Neve e Bruxas, Batmans e Super Homens, livros electrónicos e telemóveis que cantam as nossas canções preferidas. E porque não bebés de vinil, realistas, hiperrealistas, à escala real, acabados de nascer (mortos) ou sorrindo e susceptíveis de lavar (sem vida)? A fantasia das nossas cada vez mais comuns falências chega a este limite de non sense, produzindo filhos inviáveis que certas senhoras estéreis ou saudosas do seu próprio corpo compram e tratam a fingir, vestindo-os como se fossem passear em carrinhos no jardim do bairro. A invenção pagável do homem chegou ao ponto cego de superar Deus, manipulando os homens e as mulheres até se enganarem com falsos filhos que vestem, fazendo ressoar o seu coração a pilhas, para que os falsos iludidos se deleitem com maiores ilusões. As crianças que morrem lá longe, ou ali à esquina, podiam fazer melhor encenação; e a segurança social que as sequestra e que não incentiva a sua adopção, em processos bem semelhantes aos da Inquisição, melhor seria que enterrasse os bonecos, ursos e bonecas de borracha, vestidos com trapos e meias rotas.
Entre os artigos que saíram tratando este ímpio fenómeno, um deles diz: «Trocam-lhes fraldas, dão-lhes biberões em dias de frio e investem em cadeirinhas de segurança para os poderem transportar de carro.» Uma senhora diz no seu blogue: «A minha bebezinha é a coisa mais linda do meu mundo.» O amor desta mulher brasileira, a caminho dos 50 anos e com dois filhos adultos exprime-se agora através do seu Bebé de vinil, que veste e trata com desvelo: «Os meus filhos ficaram mais felizes e mais iluminados depois desta bebé».
Esta barbaridade sem nome, que explica muitos desvios psicológicos vindos da nossa colossal civilização de embustes e objectivos dissolvidos no dinheiro e na futilidade, chega assim a um novo pico de loucura, como se não bastassem as odiosas e incultas barbies. Agora, pela técnica reborn, um novo sucesso  entra nos bolsos do mundo das frivolidades e das neuroses coloridas, entre meninos e meninas pretos ou brancos, a dormir ou mortos à partida.
Que é que andamos a fazer às pessoas e com a sua cada vez maior falência irracional?

3 comentários:

Maria João Franco disse...

Lugares do desamor?
Holocausto do avesso?

Viagem ao fundo do Homem?

jawaa disse...

Não há limites para a insanidade do mundo em que vivemos.
Felizmente nós temos um limite.

Anónimo disse...

As exigências e pressões da vida contemporânea são diferentemente entendidas por cada um e não admira que os jovens casais pensem muitas vezes antes de terem filhos biológicos ou, no caso, filhos reais. Os medos modernos afastam as pessoas de compromissos, do mero envolvimento social, a maior parte das vezes por falta de preparação/imaturidade emocional. A adoção de crianças é muito burocrática, alegadamente para defender as crianças, e eu não gostava de ver uma criança de carne e osso nas mãos dessas pessoas adultas que se relacionam com bonecos como se fossem crianças vivas. Acho doentio, tal como detestei a “moda tamagotchi”, do animal digital de estimação. Quando Rocha de Sousa pergunta o que estão a fazer às pessoas, deverá estar a lembrar-se das célebres experiências com macacos fêmea, às quais o filho biológico foi substituído por um fantoche de pelo para monitorizarem as reações maternas. E pensará igualmente no repulsivo caso dos bebés fumadores (perseguidas nos “países desenvolvidos”, as tabaqueiras procuraram outros mercados: http://youtu.be/RNf_9nngKxs), ou nas crianças soldado (http://youtu.be/sGmgEUEIW_k) que antes de serem crianças são combatentes da revolução, seja ela qual for e seja isso o que for, e finalmente (?) nos casos generalizados de exploração e abusos infantis (http://youtu.be/CQswJT7qOKI) – grande parte destes tentados ou cometidos precisamente onde fazem menos sentido, no seio da família (mas também na escola e na catequese).
Certo é que, em muitos (mesmo muitos) países do século XXI, a criança é mais maltratada que todos os Oliver Twist do século XIX, uma histórica que fez correr rios de lágrimas ao longo de quase 200 anos. E se planeiam recorrer à religião para atenuar medos ou dores, vejam o documentário “Religulous” (2008): http://youtu.be/y9nqZKeflG0

Sérgio Reis