domingo, julho 05, 2015

LI E DESEJEI TER DITO ESTAS PALAVRAS

 
O exemplo de uma civilização agora desentendida na sua tradição para as concepções actuais da realidade comunitária e das democracias


Miguel Sousa Tavares escreveu a propósito da situação na Grécia:

«Faço minha a pergunta de Martin Wolf no Financial Times: se eu fosse grego, como votaria amanhã? A pergunta não tem uma resposta boa porque ninguém sabe o que se seguirá, quer ganhe o sim quer  ganhe o não. Ninguém sabe o que fará o errático Governo grego, que tão depressa faz discursos inflamados contra os credores, como logo a seguir aceita todas as suas exigências. E ninguém sabe até onde irá a vontade primitiva dos credores, pois só isso os move: do ponto de vista negocial, eles já colocaram à Grécia de joelhos, com excepção de uns míseros pontos de diferença no IVA para  as ilhas e mais uns cortes em algumas pensões de reforma. Mas, pior ainda, ninguém sabe ao certo o que esta gente quer fazer da Europa. Ou mesmo se a querem.  


A Europa que eu vi formar-se e abrir as portas a Portugal era dirigida por gente como Willy Brandt, Helmut Schmidt, François Mitterrand, Olof Palme, Harold Wilson, James Callaghan, Bettino Craxi, Felipe González, Mário Soares. Todos eles tinham uma ideia de Europa onde se espalhavam os melhores valores da civilização europeia, como um todo, e oculta da grande finança para expulsar do euro os que só enfraquecem a moeda; há quem pense que se trata antes de uma vendetta histórica da direita sobre décadas de predomíno intelectual e político da esquerda e uma oportunidade imperdível de aplicar a sua agenda em termos irreversíveis. Mas provavelmente é tudo menos grandioso do que isso: apenas uma terrível combinação entre ignorância e insensibilidade. Fixemos os seus nomes para memória futura: Merkel, Schäuble, Dijsselbloem, Lagarde, Junker, Rajoy, Passos Coelho, e alguns outros personagens menores.»
                   

e então há quem pergunte
QUEM É ESTA GENTE?


2 comentários:

Miguel Baganha disse...

E assim se faz História. Mas não foi sempre assim, no meio de actos mais ou menos acertados, humanos e desumanos, numa gestão maniqueísta desde o princípio dos tempos, que a História do Homem se foi escrevendo?

Palavras, messiânicas ou não, não passam de palavras.

Como diria o meu pai, num dos seus belos poemas:

«Palavra
Tem significado de palavra.

Criamos a palavra,
Não para que ela
Nos diga o que pensamos
Ao sentir…
Mas sim para traduzir
O erro que criamos
Ao falar.»

Ruy de Portocarrero - Hora Interrompida, 1961

Maria João Franco disse...

Miguel, para além do mais, um belíssimo poema de seu PAI.