segunda-feira, julho 10, 2006

O MEIO E O MODO


fig1 fig 2

A propósito dos problemas postos pelas novas tecnologias, a constituição de um meio que atravessa a realidade virtual e pode estabelecer-se nesse mesmo meio, como coisa ou modo, isso não faz desaparecer, nem imutilizar, outros meios, os tradicionais, ou a mistura desse com os outros. A caixa do campo digital que o computador coloca à nosa disposição para vários tipos de registos é um meio elementar de trabalho com o qual, em todo o caso, podemos desenhar e pintar simulando quase por inteiro a manualidade (ver fig 2). Por esta relação, imitando ou libertando a imagem inicial (ver fig. 1) que se trata de um quadro a óleo, podemos observar até que ponto a mudança de meio muda o modo, isto é, a forma, ou se deixa aproximar dela. Esta questão é muito importante no domínio das disciplinas de índole artística, pois a permanência dos antigos e tradicionais meios de operar, dos quais sairam pinturas naturalistas ou violentas no caso expressionista, é uma questão consistente. Não se trata de tornar inúteis os meios entretanto conhecidos, nem a Hitória morreu, como pretenderam alguns, e muito menos a Arte. Vão surgindo novos meios ou processos de manejar os materiais, o que alarga o espectro visual e cultural do nosso espaço. Muitas dessa proposições são arte pública, povoa a realidade urbana, tornando-a mais significativa e habitável.
No exemplo destas duas figuras semelhantes, dois meios diferentes permitiram, por modos similares, obter figuras igualmente idênticas. Não se trata de dizer que isto tem de acontecer ou deve acontecer. A pintura feita a computador mostra diferenças formais advindas das técnica e intrínseca ao meio, mas a outra também não coincide com a realidade conhecida - um homem e um porco, em atitudes terminais, vindos não se sabe donde nem porquê, caíram ali, é uma espécie de metáfora que o pintor inventou. Toda a arte, de resto, passa quase sempre pelo imaginário, mesmo quando imita algum objecto que nos é próximo ou muito familiar. As semelhanças existem, inclusive quando não as sentimos logo. Mas as diferenças de meio para meio, de modo para modo, são incontroláveis. Cada meio tem uma identidade própria

1 comentário:

Choninha disse...

A Daniela (naturalissima) recomendou-me o seu blogue. Já tinha tentado "ver" o Desenhamento mas sem sucesso. Hoje consegui. Infelizmente não tenho agora tempo para o ler, com atenção, percorri-o apenas com o olhar. Volto depois. Até lá.