sábado, novembro 18, 2006

MEMÓRIA RURAL NA LINHA FÉRREA



A nossa viagem pelos testemunhos do passado, entre utensílios comuns e patrimónios quase lendários, implica um projecto cultural sem preconceitos, alinhado pela longa parábola que o tempo parece descrever. Num velho estaleiro de ferramentas agrícolas, este velho carro de tracção animal oferece-nos a beleza da idade, dos materiais, do design que os formava e funcionalizava. Penso que estas imagens não são para esquecer

Com este intencional enquadramento do rodado de um suporte de contentores, desenhado para combóios de mercadorias, estabelecemos uma medida de tempo que não chega a um século e contudo já nos parece que o ferro envelheceu, que foi abandonado aqui. O envelhecimento das coisas parece acontecer um pouco a par do nosso próprio envelhecimento.
Prefiro sentar-me no carro de madeira, meio desmanchado. Foi feito para pessoas como eu e não para contentores das ferrovias.


fotos de Rocha de Sousa




7 comentários:

naturalissima disse...

Esta é uma linguagem da qual me identifico bastante, pela sua sensibilidade histórica e com uma carga humana quase escassa!
Senti uma certa nostalgia!
Evidencio a minha admiração pelas fotografias magníficas aqui editadas!

Tio, gostei e muito...

Um beijinho
Daniela

Isabel disse...

Anda por aí grande confusão com a ideia do que é avanço cultural.
É bom ver valorizar os testemunhos do passado, encontar neles mais do que beleza e contributo histórico.
Há um lado humano que a esses deve ser associado e que tu fizete de uma forma bonita, ao comparar o seu envelhecimento com o nosso... e depois com esta frase:" Prefiro sentar-me num carro de madeira meio desmanchado. Foi feito para pessoas como eu e não para contentores das ferrovias."
A verdade é que os testemunhos do nosso passado foram feitos por pessoas e para pessoas... são criações dos nossos homens, usados pelos nossos homens e que os homens de hoje devem lembrar e valorizar sempre.

Obrigada pelo teu texto e pelas maravilhosas fotos.

Isabel

P. Guerreiro disse...

Das poucas recordações que tenho do meu avô a maior parte delas centra-se no "carro de bestas", como ele lhe chamava, pintado a duas cores, amarelo e verde. Sentado no banco em cima de uma velha almofada via, orgulhoso e sobranceiro, o mundo. Dessa posição superior lembro-me de ter sido muito feliz e de guardar essa imagem como tributo ao meu avô.
Boas as fotografias assim como a reflexão.

Miguel Baganha disse...

Caro amigo Rocha de Sousa, agradou-me o apontamento sobre a evolução tecnológica que aqui nos deixa; principalmente por referir uma época, onde os recursos utilizados nas mais diversas áreas eram maioritariamente artesanais.

Hoje, num mundo assustadoramente industrializado, urge lembrar que no passado, o Homem foi capaz de realizar autênticas proezas a nível de engenharia e arquitectura, sem o auxilio de "maquinaria pesada" a que chamam de tecnologia de ponta...

Tecnologia de ponta...será ela evolução???

-Gostei de fazer esta viagem ao passado onde tudo era mais artístico...um passado que felizmente está ainda bem patente na sua memória, e na de mais alguns.

Deixo-lhe um abraço, agradecendo uma vez mais os comentários que deixou no meu espaço.

P.S. ainda não encontrei a disponibilidade necessária para lêr o seu livro...será com o maior prazer, que na devida altura lhe darei a minha modesta opinião.

Miguel Baganha

Isabel disse...

Vim agradecer-lhe a sua visita ao meu sitiozinho, foi um verdadeiro prazer recebe-lo por lá.
Eu encantei-me por aqui e continuarei a visita-lo. Espero tambem continuar a receber as suas visitas. Gosto de aprender com os comentários que me deixam. Gostei de aprender consigo.

Até breve.

Isabel

jawaa disse...

De regresso, encontrei-me logo ali, junto às rodinhas de ferro.. lá vai mais de meio século.
Bem haja por me recordar a minha cidade que nasceu por obra e graça do CFB.

veritas disse...

Olá!

Quero deixar os meus cumprimentos. Gostei dos pormenores fotográficos.

Um abraço. Voltarei.