quinta-feira, março 15, 2007

«OFERENDA ESQUECIDA» JORGE PIMHEIRO

«Homenagem e Josefa de Óbidos» I

«O Jogo da Macaca III», 2004 II

«O Sacrifício de Isaac», 2002 III
obras do pintor Jorge Pinheiro


DIVULGAÇÃO DE ARTISTAS PORTUGUESES
Na arte de Jorge Pinheiro, muitas vezes uma só pintura corresponde à vastidão englobante de uma série proposicional, pois coexiste consigo um corpo de desenhos. O qual, mais do que uma prévia via para encontrar a causa (e também morada) final -- espécie de conceito metafísico carregado de imagens -- é, em si mesmo, imagem que tenta explicar imagens, servindo-se estas de figuras para explicar figuras. Trazem consigo um limite de realização última; coisa comum, quase sempre, senão sempre, ao óleo que corporiza várias partes ou as categorias de um pensamento acerca de pensamentos corporizados numa pintura e nos estudos desenhados que, de um modo necessário, a ela conduziram. Como um fechamento, como coisa venerada e eleita por um, por vezes vasto, conjunto de partes (ou de categorias), o quadro surge sob a forma de objecto dotado de poder. Um poder real, não imaginário. O objectivo, lançador de pontes sobre veios de subjectividade que guarda e preserva no seio da sua linguagem, que vai tomando a forma de desenho.
I Na «Homenagem a Josefa de Óbidos» essa figura de mulher resulta de uma emanação de forte luminosidade. Há no seu corpo uma transparência que vem do esplendor escarlate, de um vermelhão mesmo, do éter, da atmosfera celeste envolvente. Como que em protecção da pintora, segura, uma figura feminina alada a que poderemos chamar Fama, um imenso chapéu de sol aberto. (...) A Fama ergue na mão esquerda uma festiva coroa de louros, em que tremeluzem uma fita verde e uma outra vermelha. A Fama está sobre uma coluna, de capitel esférico.
II Uma teatralização ocorre em «O Jogo da Macaca III». Por detrás de um cenário projectado, que na pintura organiza um jogo de transparências, riscou-se o desenho infantil de um homem de chapéu, de um avião e de um lobo prestes ao ataque. Charlot e o rapaz espreitam num extremo desse cenário. Observam somente a dor e com ela, com o seu material probatório, constróem a existência de uma memória.
III Sobre um fundo negro, figuras de vestes contemporâneas ligadas ao conflito israelo-palestiniano, movem-se entre um grito de terror e o sacrifício. Sobre um altar de pedra, como aquele que Abraão erigiu no alto da montanha, disposta a lenha em redor, vai ter lugar o holocausto. Não se vê a faca que infligirá o sacrifício, mas a mulher, figura que traz consigo a velocidade da morte, é quem grita com um soar metálico: «Abraão». Este responde-lhe: «Estou aqui, Senhor.» A voz voltou a gritar: «Deixa o teu filho. Não lhe faças mal. Como não me recusaste tão grande sacrifício, sei que o teu coração é perfeito.»
Dos textos publicados numa brochura da Galeria Palmira Susa, em abordagem à maior parte da obra de Jorge Pinheiro João Miguel Fernandes Jorge.

1 comentário:

naturalissima disse...

De Jorge Pinheiro, lembro-me de ter visto com um agradável sentimento, parte da sua obra, num catálogo que o tio tem em sua casa.
Aqui, ao vir pela sua mão, foi como levantar o pano de cena e ficar com a respiração suspensa.

Espantosa OBRA! Fiquei arrepiada, ao percorrer os pormenores dos quadros. Viajar para dentro de uma atmosfera angustiante e gritante no seu conteúdo, maginfica nas cores, luzes, sombras, movimentos VIVOS!

Não se deve escolher dos tr~es o emlhor... mas tocou-me especialmente "O Sacrifício de Isaac"!

Tiomeu, agradeço imenso, por este momento, aproveitando, já agora para dizer que tem sido impecável com os comentários feitos no meu blog. Tem me ajudado a crescer.

Beijinho
sobrinhasua
Daniela