«A cena é tórrida, uma escultural estudante sueca convida o professor de arqueologia para jantar.Ao longo das aulas, a criatura já tinha espantado o professor com os seus dotes e generosos decotes. Durante a comezaina, a sensual nórdica olha nos olhos o professor e diz-lhe ter uma fantasia gastronómica. 'Quero fazer uma sopa de peixe com leite das minhas mamas', repetiu ela, como se dissesse a coisa mais natural do mundo. Colocou a mão no seio esquerdo e espremeu-o de modo tal que o mamilo espreitou pela borda do decote. 'Gostava de provar?' Tomás sentiu uma erecção gigantesca a formar-se-lhe nas calças.»
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Codex 632
Dizem os jornalistas da Focus (entre outros) que esta é, provavelmente, a passagem mais conhecida do livro Codex 632, do locutor José Rodrigues dos Santos. Os críticos, injustamente, chamaram-lhe a pior sena de amor de sempre. Alguns alvitram que o arqueólogo, que já conhecia a rapariga, naturalmente, tinha sobretudo uma predilecção pelas suas nádegas. Para o caso, tanto faz, estamos na Idade das Trevas, tempo em que a mediatização e a calculada provocação levam estes livros a vender 400.000 exemplares, o que dá bem a medida para onde caminhamos todos, embalados pela «fórmula do sucesso». Fala-se muitos das fortunas dos políticos e dos gestores, mas esta espécie de venda da alma (pré-literária) por tais processos deveria obrigar os editores a publicarem com um bocado de mais ética e pudor.
Aqui há dois meses, deixei numa editora de referência um original nos termos em que o editor dizia estar mais interessado. Tratara-me sempre com luxuosa simpatia e, não tendo coragem para publicar «Angola 61», teve pelo menos o mérito de propor a obra à extinta Contexto, ao Manuel de Brito, homem que percebeu que o texto, contando situações reais, era literariamente bom e por isso falível. Mas publicou com desvelo. Na outra editora, que mostrara preferir coisas mais ensaísticas, apresentei «A Culpa de Deus», logo recusado porque era complexo e tinha uma escrita difícil para o público. Sempre com a lembrança do ensaio, acabei por voltar áquela casa de grande zelo ensaístico (contabilístico por ter colaborado nas calculadas travessuras do Rodriges) e deixei lá a «Culpa de Deus», enfim publicado por gente mais ecológica (oferta com dedicatória) e uma carta propondo uma peça de carácter ensaístico, com trechos autobiográficos, «Coincidências Voluntárias», de acordo com o que sempre me tinha dito. Recebi dois dias depois o original devolvido e uma espécie de reprimenda: «você só me mete em sarilhos, este tipo de livros não se vende e ten hoje aqui uma casa com empregados cuja vida depende da empresa, a vida deles e dos filhos»...etc. «O senhor editor ainda me disse que os livros eram grandes, tinha lá tempo para ler, nem sequer o livro oferecido sabia se teria capacidade para o ler.»
O que é que se responde a uma carta destas? Quem é este senhor que uma vez me passeia pela editora, predisposto a publicar um livro muito elogiado por um professor da universidade de Los Angelos, e agora já nem lê, portanto está incapacitado de gerir uma editora, nem só de assessores se sustentam os deuses.
O meu caso é desconhecido (ou quase) excepto os livros que publiquei sem código nem evocações de Da Vinci. Mas a promiscuidade nesta área, o tráfico de infuências, as ideologias do dinheiro, tudo isso não vale um par de mamas. Mais valia republicar a tradução do Miller. Se a espectacularidade, a todos os níveis, afunda toda a boa poesia portuguesa, literatura, ensaio, música verdadeira, ciência, então é porque nem os 3% nos salva. Vale tudo, na Idade das Trevas.
4 comentários:
Venho convidar-te a brindar comigo amanhã 18/10... É dia de festa lá no meu cantinho...
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Onde estou? quem sou eu?...para onde vou...de onde vim?...
Este estado amnésico, onde a incerteza existencial me assola, e me coloca numa catatonia dos sentidos revela um pathos socio-cultural, cujos padrões ou conceitos de literatura da sociedade moderna ou da arte em geral, são o maior foco infeccioso.
Será um pathos irreversível?...nããã, tenho a certeza de que um bom gaspacho de Camus-como entrada-, seguido dum Sartre ao molho tártaro, finalizando com uma Bavaroise de Wilde e tudo isto docemente acompanhado por um delicioso vintage Château Lafite Rachmaninoff enquanto contemplo a obra de Domenico Theotokopoulos será a panaceia certa.
EstimadoJoãotionossocaso, caso este menu seja do seu inteiro agrado, V.Ex fica desde já convidado para me acompanhar nesta soirée que se adivinha de efeito culturalmente regenerador.
( Gostei da elegância utilizada nesta crítica, é que, com luva branca a bofetada tem outra classe... )
Um abraço saudoso,
Portocarrero Baganha...ou seja,
Eu
Para complementar o que escreve, esta semana, as duas melhores e mais lidas revistas semanais portuguesas acabam de me chegar a casa com duas capas de referência:
Publicidade, com direito a fotos de primeiro plano de... José Rodrigues dos Santos e Miguel Sousa Tavares.
De cabeça fria: escrever para publicar, não me parece agradável, a minha letra mais pequenina perderia logo o acento.
Alguém me recomendou muito um dos seus livros, tecendo-lhe muitos elogios. Talvez mo emprestem para ler.
Como tem passado?
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