quinta-feira, dezembro 27, 2007

A GUERRA DOS MUNDOS




A ficção científica, quer no domínio da literatura quer no âmbito do cinema, é um campo no qual o nosso imaginário reune sonhos, anseios, apelos de superação tecnológica, a aventura da expansão do homem no espaço, em parte o mesmo que aconteceu na própria terra, em ordem à descoberta de novos mundos, eventualmente de outras gentes. Mas as escalas (já colossais) da época dos Descobrimentos logrados por Portugal, eram, apesar de tudo, conquistáveis. No espaço cósmico o problema põe-se de outra maneira e o Mundo já teve a oportunidade de assistir ao vencimento da distância da Terra à Lua, numa nave tripulada por homens, façanha que se repetiu em todo o Projecto Apolo e permitiu encarar como eventualmente possível atingir outros astros, porventura com base em forças de impulso maiores e não só quase exclusivamente dependentes das leis gravitacionais.
Muito antes desta visão das coisas, Júlio Verne foi pioneiro, abrindo largos caminhos para autores como Bradbury, Cooper, H. G. Welles. A obra deste último, largamente aproveitada pelo cinema nos anos 50 e já no século XXI, torna arrebatadora a emergência de civilizações poderosas, vindas do espaço, em geral imbuídas do espírito de conquista e ocupação de novos astros - nada que não se assemelhe às viagens que fizeram o homem aportar à Índia, ao Brasil, à América do Sul, dizimando as gentes e a grandeza de crenças que os povos locais alimentavam, Maias, Incas, Índios. A GUERRA DOS MUNDOS, de H.G. Wells, mostra uma civilização hostil que procura arrasar toda a construção humana, a fim de aqui se instalar, fundamentalmente em virtude dos seus habitats estarem moribundos. O filme dos anos cinquenta é invulgarmente bem inventado e desenhado para a época e deixa-nos, de forma indelével, uma assombrada imagem de insegurança. Recentemente, Spielberg, numa das suas mais seguras realizações, seguindo de perto as hipóteses do género e do próprio livro, conseque tornar visível, na própria bruma da percepção e do medo, sob a noite e as vagas de pânico, a emergência do escondimento de seres incorporados em máquinas (algo biológicas) de grande porte, assentes em tripés como pernas de monstros remotíssimos, embora senhores de uma orientação pragmática e cabeças colossais, insuperáveis pelos meios terrestres, que tudo destruíam de forma metódica, quase majestática. O design de todos estes equipamentos, a movimentação, as radiações pulverizantes, tudo acontece no filme de Spielberg como se estivéssemos a ver na televisão uma ctástrofe em várias frentes, estradas destruídas, milhares de mortos, cidades imensas reduzidas a escombros.
Na sua impotência, o homem usa todos os expedientes para sobreviver, o que, a médio prazo, seria impossível. Mas o Universo encerra também uma lógica ofensiva e defensiva, ecosistemas inalienáveis. Sem defesas naturais no nosso meio, alimentando-se de tudo e dos corpos humanos que captava na maior das humilhações, os grupos activos dos alienígeos contrairam doenças graves e irreversíveis, a morte pela peste, numa simbiose entre figurinhas perversas e equipamentos biónicos tão altos como a Torre Eiffel. Ninguém se livra, ao ver este filme, perante imagens insuperáveis, entre o horror e a plasticidade, da imensa tragédia do ataque às torres gémeas, em Nova Iorque. O horror que o cinema tem pintado em obras como aquelas parece decorrer do fundo perverso da nossa própria mente.

















Os sobreviventes desta extraordinária prova de vida no Universo, espalhando-se e reorgani- zando-se pelo planeta, muitos deles certamente com a esperança de um comportamento mais preventiva e criadora, entregaram as suas derivas de sonho, de recuperação, à nova paisaem e às novas gerações.

1 comentário:

jawaa disse...

Não precisaríamos de uma experiência destas para repor uma nova consciência do bem que temos?