terça-feira, março 04, 2008

ARTISTAS PORTUGUESES CONTEMPORÂNEOS | Pedro Chorão


É provável que a História da pintura contemporânea portuguesa tenha sido escrita um pouco sobre o joelho. A rara escrita de Pedro Chorão, arte abstracta de elevado grau de despojamento e cultura gestual, aliás consagrada em muitos estudos até hoje, acaba por vezes nas bolsas de ostracismo ou indiferença características dos caprichos da nossa aprendizagem. Nos anos 80, sob a estridência da crítica de vanguarda (nova crítica, aliás velha à partida) arrasava todos os autores quanto podia, artistas como Chorão, Dourdil, Resende, entre outros, apesar de a Júlio Pomar e Paula Rego ter sido concedido o atravessamento da cortina de ferro. Ainda vivemos nessa fronteira, enquanto os novos curadores escolhem 50 anos de pintura portuguesa a sua belo gosto, sempre ou quase sempre a partir dos anos oitenta e mediatizando adolescentes como figuras de proa, segundo a sua distorcida cultura prospectiva e museológica. Mas observemos agora Pedro Chorão, nesta altura com uma exposição em Lisboa, trabalhador incansável das artes e porventura de uma forma muio rara, no próprio panorama internacional, dado o grande despojamento que a caracteriza as suas propostas plásticas, esde representações gráficas e breves até à evanescência dos gestos gravados, liquefeitos na tela, entre cores terrosas
e ultimamente nos azuis de diferentes aberturas ao espaço, numa espécie gráfica do amanhecer. Em 1976, Chorão inscrevia um A tombado e grafológico numa das suas obras feitas de cinzas pálidos, de vastanhos quentes, de negros sucintos. O A é a primeira letra do nosso alfabeto. Inicia palavras como Abril, Alentejo ou Alma. O gesto solto, a tinta líquida, a cor seca, a escrita à flor da luz, signos, colagens e afloramentos figurativos -- eis alguns dados caracterizadores da pintura de Pedro Chorão, agora, ontem, talvez amanhã. Com A. É impossível, num espaço como este e perante a curta expectativa dos leitores, dizer uma página apenas sobre o artista, página do livro que escrevi sobre ele, nos anos 80, e que, embora marcado por capítulos sintéticos, ainda somava 110 páginas. Mal entendido pela crítica (actividade que se tornou académica na sua colagem à puberdade da invenção estética), Pedro Chorão associa-se a Sísifo, na perspectiva das semelhanças que envia para a cúpula do saber, e desenvolve, nessa espécie de destino do fazer plástico, o lirismo de uma poética da contingência: uma viagem que, apesar da sua lógica interna ou de um projecto, nos ensina a variação das probabilidades do acontecer por cada escolha e em cada encruzilhada.


4 comentários:

jawaa disse...

Está visto que quem avalia nem sempre o faz com todos os dados, com a competência que outros teriam, e o resultado é injusto para muitos.

croqui disse...

a injustiça é uma das principais características no mundo da arte!

Carlos Mascarenhas disse...

Preciso muito de rever e recontactar o Pedro.
tm. 918107337

Anónimo disse...

deveriam falar mais de artistas como Kim Prisu, que é um grande artista português da escola das novas figurações francesa dos anos 80....
quem avalia as o que é arte contemporânea ou não é... boa tarde