Na oficina do Frederico havia um caixote a abarrotar de velas para motores de explosão. Mas eram velas mortas, sujas, cuja derradeira serventia não me ocorre. Sei apenas que o Joaquim, mestre electricista, tinha sempre as mãos oleosas e por vezes com cortes que limpava e tratava numa bacia miserável, como todas as bacias destes lugares onde se desvendam entranhas, lâminas e e velhos ferros recicláveis. O Joaquim juntava velas destas, mortas e sujas, na bancada onde pousava dezenas de ferramentas metálicas. Quando elas cresciam em demasia, carro a carro, revisão a revisão, ele pegava as velas inúteis na cova das duas mãos juntas e despejava-as no caixote. O resultado plástico desse lixo sempre me fascinou.
quarta-feira, abril 30, 2008
quinta-feira, abril 10, 2008
ARTISTAS PORTUGUESES CONTEMPORÂNEOS | Eduardo Nery
Não é possível tratar aqui a obra de Eduardo Nery como o fiz para outros autores igualmente significativos. Em quase todos eles, e apesar de algumas derivas, o caminho tem uma certa continuidade. Ora a continuidade de Nery é de diferente natureza: é como se ele, mum amplo trabalho multidisciplinar, se tivesse cindido em heterónimos. Só que, no que se refere ao poeta Fernando Pessoa, os heterónimos têm personalidades e destinos próprios, de substancial alternativa. Em Nery pintor há o geómetra, o designer e o arquitecto, para não falar numa espécie de ardiloso especulador sobre a percepção visual. Tanto nesse domínio como nas obras plásticas integradas na arquitectura, os princípios ordenadores da forma são idênticos, têm quase a mesma raiz. Apesar da qualidade dos projectos de Nery para colorir arquitectura, dinamizar empenas e fachadas, revestir interiores, entre outras propostas, a linha geral da respectiva conduta autoral inclui sempre óbvios racords entre várias sequências e diferentes problemas. É uma prova de grande importância, que não basta ilustrar em álbuns, publicações isoladas de prestígio, mas antes ser investigada e estudada em Escolas Superiores de Arte, as nossas faculdades de Belas-Artes, ainda na urgência de convencer as Universidades Portuguesas de que o país dispõe de um espírito raro, quer do ponto vista estético, quer das disciplinas que percorre e onde cria ensinando, autor a quem presto esta singela homenagem, contra a indiferença e o esquecimento, na altura em que os estudos de arte atingiram a Universidade e se impertigam de volta de títulos em inglês, no fio estendido pela novidade aqui e além, no próprio instante que podem também fazer-se com o nosso património vivo.
Digo isto, em suma, sem qualquer rasteiro macionalismo nem vertigens xenófobas.
Eduardo Nery: além do rigor gráfico-pictórico, o imagináro fantástico da fotografia
Eduardo Nery: aspectos da obra pictórica e valor experimental
Como veremos noutros capítulos a seguir, a sensível diferença entre estas pinturas e outros procedimentos artísticos, em Eduardo Nery, são sempre hipóteses formais muito bem logradas, onde o rigor da instauração tem tudo a ver com os temas sobre o espaço, as diferentes projecções que nele se fazem, arquitecturas desenhadas e demonstradas, percepções em desafio, pontos expressivos do movimento, a gravidade e a auência dela, as coisas, enfim, numa aparente demonstração dentro ou fora dos impulsos do imaginário.
A experiência do bidimensional e do tridimensional aparece tratada em efeitos ópticos de perspectiva sobre a tela, mas em que o verdadeiro relevo da moldura ironiza a simulação do trompe l'oeil.
A experiência do bidimensional e do tridimensional aparece tratada em efeitos ópticos de perspectiva sobre a tela, mas em que o verdadeiro relevo da moldura ironiza a simulação do trompe l'oeil.
Eduardo Nery: aspectos da sua obra em azulejo

Em todos estes pequenos capítulos, a imensa produção de Nery em muitos deles, com formas inusitadas e de importante perfil estético, é só aflorada, não garante senão uma breve aproximação à sua obra multidisciplinar, sempre coerente com uma rigorosa noção de espaço, estruturação pela geometria, em singulares armadilhas ao processo perceptivo e sobretudo perante o módulo de repetição variável, bem como no`âmbito do uso do azulejo nesse sentido, em especial através de uma requintada exploração da sua teoria modular.
Eduardo Nery: obras de tapeçaria no seu melhor entendimento, incluindo a solução op
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