terça-feira, julho 01, 2008

A DIFÍCIL ARTE DE SER COMENTADOR


Não me sinto especialmente ligado aos chamados comentadores políticos (e afins) da televisão. E o que me faz publicar a fotografia do ministro Jaime Silva, omitindo a do prof. Marcelo Rebelo de Sousa, é o facto daquele membro do governo ter sido colocado bem perto da guilhotina. Escapou até agora, ao que parece, porque não há, entre nós, nem guilhotinas nem pena de morte.
Sou um observador vulgar dos acontecimentos políticos, não percebo porque é que os governos são todos tão maus, nem entendo muitos critérios jornalísticos, a completa anarquia da maior parte dos debates televisivos. Sou político porque sou cidadão. E hoje, aliás, o que me convoca para este espaço é mais uma questão relativa à deontologia dos redactores de jornais e a componente ética dos comentadores que nos visitam sem qualquer respeito por nós.
Num pequeno texto de Leonete Botelho, editado no «Público» de há dias, é dada a notícia de que Jaime Silva tem sido criticado em surdina por deputados do PS. O problema parece prender-se, depois de outros desaires, com algumas declarações do ministro da Agricultura e Pescas sobre «as supostas orientações políticas da CAP e da CNA», o que lhe teria trazido dissabores, comentários mordazes, a sua colocação na lista dos remodeláveis.
Esta pequena nota de entrada contextualizante ao que se segue, serve sobretudo para se sentir o modo de avaliações que se processa entre nós, entre pontas contundentes e sem qualquer análise de fundo ao que cada interveniente diz ou aponta programaticamente, tanto mais que essas questões, segundo me parece, deveriam ser explicitadas diante do público e discutidas de forma pedagógica. Fora isso, declaro que não venho avaliar nem julgar o ministro mal-amado, a sua perigosidade para o desastre nacional, a qualidade do seu jeito para o cargo que ocupa. Venho, isso sim, como cidadão e consumidor de informação audio-visual, fazer uma chamada de atenção para as declaracões cada vez mais incómodas da rubrica de Marcelo Rebelo de Sousa na televisão. Lembro-me de o apreciar desde longa data, apesar de algumas ginásticas menos correctas politicamente, mas, da última vez, tenho de considerar que a sua intervenção, em especial no que se referia àquele ministro, ultrapassou qualquer domínio de decência, de análise justificada, tudo atirado gesticuladamente para o ar com uma total falta de cortesia relativamente a quem o ouvia. Fiquei sabendo que «o ministro é a pessoa mais inculta do mundo», que nem vale a pena saber o que diz, porque é «completamente incompetente», além de poder levar com mais adjectivos decapitantes, como de resto aconteceu.
E eu, pergunto: a imprensa não escalpeliza esta competência do comentador político? Isto não é mais importante do que um cigarro fumado a bordo de um avião oficial a caminho da Venezuela? O que é preciso Marcelo Rebelo de Sousa dizer mais, aos sacões, cada vez com menos ordem e pior inteligibilidade, para que se faça a análise pública desse fenómeno, dado o lugar conferido ao professor, o programa especialmente tratado que lhe concedem, o que ele diz e como diz? Isto é tolerável, na sua completa falta de ética, ou há processos e pessoas que se guardam na gaveta das impunidades? Não teria sido possível, a um mestre do direito, prolixo aliás, desenvolver comentários bem medidos, bem explicados e sem aquela abusiva falta de respeito? O que é que está a acontecer na parcialidade partidária do professor, respeitável em si mas desaconselhável num programa de televisão conduzido daquela maneira? O comentário politicamente empenhado deve ter um lugar próprio e não se ocultar no nome. Há felizmente dois ou três exemplos do que resta no tornado português.
E, por mais estranho que pareça, calhou ter a oportunidade de ouvir o tal ministro a responder aos jornalistas sobre o incidente daquelas declarações. Para além de relativizir o programa como de entretenimento, sintetizou o problema e a sua posição com meia dúzia de frases claras, adequadas e respeitadoras.

1 comentário:

jawaa disse...

Também me sinto cidadã, não apolítica, pois. Há muito deixei de ouvir o Professor, nem sempre isento nas suas reflexões pouco «conversadas» antes, com o dito travesseiro, mas não dispenso ir lendo os jornais.
A revista NS do DN, de há 8 dias precisamente, publicou uma entrevista com um ex-vereador da Câmara de Lx., Manuel João Ramos, professor no ISCTE que me deixou sem respiração.
Os nossos governantes NÃO SABEM LER, não sabem ESCUTAR?
Deus nos acuda! - Será que Ele está lá?