segunda-feira, julho 07, 2008

A PRESIDENTA DA FUNDAÇÃO JOSÉ SARAMAGO


Pilar del Rio, mulher de José Saramago, concedeu uma interessante entrevista ao jornal «Diário de Notícias». Ficou a perceber-se que se trata de uma personalidade carregada de auto-estima e que não tem medida para relativizar aquilo de que gosta. Quer ser considerada e nomeada como Presidenta da Fundação José Saramago porque é mulher. Dizem-lhe que a palavra não existe. Mas ela sabe que tem de existir e aponta o caso das mulheres que são chamadas para um ministério: todos as tratam por ministras. A política é um campo onde ela se expressa pela vanguarda e pela mais carismática imobilidade. Vota à esquerda, em Espanha, e uma vez por outra no PSOE. E em Portugal, como seria? Não hesita: Votaria no Partido Comunista. Os jornalistas fazem o que agrada às empresas. Pensa que os jornalistas não têm qualquer capacidade para ajudar a mudar o mundo. Quem poderá mudar o mundo são os seres humanos com capacidade para isso. Não se sabe se e como acontecerá. Pilar continua jornalista porque aprendeu a ler aos sete anos e sentiu sobre si a «revelação» de que queria ser jornalista. Não há jornalismo neutro. Um momento genial de Fidel de Castro quando esteve em Portugal: ele observava que os jornalistas, em redor, pareciam todos democratas. Descartando-se de perguntas de escasso interesse, Castro bombardeou assim os jornalistas: quantos anos estudaram jornalismo? É uma carreira universitária? Cobram muito? E a resposta dos jornalistas foi a seguinte: «Estamos num país democrático».
(Não lembra ao diabo, realmente)
Pilar del Rio tem muito mais pica: para ela, na Europa, todos os governantes que governam para seu benefício próprio e não para o povo são democratas? Berlusconi é um democrata? Bush é um democrata? Quem massacra um povo como o do Iraque é um democrata? Perguntas que vão desaguar, a terminar, nas especialidades de Fidel. Pilar, aliás, gosta de Hugo Chávez, embora não fosse a pessoa com quem tomaria café. Virtudes sim, defeitos à parte. Seja como for, Chávez é a pessoa que está a pôr água e luz nas casas onde não havia, faz escolas e preocupa-se com a saúde.
Ela pensa-se de esquerda. Votaria à esquerda. Não gosta de uma Europa onde pontificam senhores como Berlusconi e Sarkozy. E falando de Zapatero e Sócrates, Pilar disse que não são consideráveis porque vão ser isolados. «Quem manda é essa coisa tão patética e ridícula chamada Berlusconi» Pessoas assim irão fazer o possível por isolar os partidos socialistas.
Um pouco mais adiante, a vibrante Maria del Pilar diz que Zapatero é esperto e que soube rodear-se de mulheres, entes que (obviamente) trabalham mais do que os homens, melhor e em várias coisas de cada vez. Saramago? «Saramago gosta de mulheres» Aliás, perguntada sobre o casamento de homosexuais, diz que «é muito pior e mais complicado para a vida matrimonial os homens com barriga». A propósito: que presidente para os Estados Unidos? «Um negro». Dizendo que Hillary está cheia de ira e de raiva. «As pessoas deixaram-se levar pelo discurso muito bonito e poético de Obama»
(Quem diria?)
A Caminho foi comprada pelo império Leya. Não é desconfortável para Saramago? «Montar um escâmdalo porque a Leya comprou a Caminho parece-me um pouco provinciano.» A Fundação seguirá o critério de Saramago, o espírito crítico, mas sem negócio. Existem projectos, aberturas a publicações de escritores desconhecidos. «Não. Porque Saramago ainda tem vários séculos de vida». Gosta de estar orgulhosamente só? Pergunta errada porque Pilar é «a pessoa mais orgulhosamente acompanhada que existe no mundo». Acredita em Deus? «Não, porquê?» Nunca foi à missa? «Fui quando tinha de ir porque a minha mão me obrigava, porque me obrigava a sociedade, porque me obrigava a norma políticamente correcta e porque nos diziam que tínhamos de crer em Deus porque se não acreditássemos íamos para o inferno e o inferno era a ameaça que nos controlava.» Não Ficou chocada quando leu O Evangelho segundo Jesus Cristo?

«Não! Por Deus?»

Em Portugal só os falsos amigos é que ficaram chocados. Há problemas de tradução, catelhano é uma coisa, português outra. Mas, no plano político, zelará pela melhor tradução possível, pelo politicamente correcto. «Se a igreja Católica não tem problemas de defender o que defende, de dizer que as pessoas têm de morrer sem cuidados paliativos e todas essas coisas que vão contra o senso comum...» Diz-se que Maria del Pilar foi responsável por levar José Saramago para Espanha. «Claro que não. Foi o governo Cavaco Silva. Arranje outra razão». A Fundação José Saramago entende-se numa perspectiva ecológica. Isso importa à Presidenta? «Sim, mas a Presidenta assume o espírito da Fundação, que é o espírito que Saramago passa. Como iríamos viver tranquilamente a ler estpendos livros se o mundo está feito numa merda? Eu não posso ler rodeada de porcaria».
(É aceitável)
Que acha do próximo livro do seu marido?
«É um livro saramaguiano, cem por cento saramaguiano»

2 comentários:

Júlia Coutinho disse...

pois... deixem a mulher ser presidenta, já que isso a fará sentir-se mais importante...
Pois que lhe importa a Leya ter comprado a Caminho? No inicio ainda o ouvi dizer que lhe parecia mal...que parecia uma divisão de classes (a questão da feira do livro com pavilhões desiguais) mas logo arrepiou caminho e agora é ver o nosso nobel feliz por ter um "patrão" rico...
Muito obrigada pelos seus escritos sempre tão contundentes e lúcidos.

jawaa disse...

Lá com o «presidenta» eu concordo, pois então! Se há ministra e juíza, por que não presidenta?
Ela não brinca em serviço!
Só não concordo com a história de que Pilar não é nome português. Então não temos a nossa Serra do Pilar cantada por Rui Veloso e há uma cantiguinha dos tempos antigos que dizia:
Vejo a Serra do Pilar
E sinto ressuscitar
Bem as saudades de outrora...

E sei que há quem tenha por graça Maria do Pilar, nome bem castiço principalmente no Norte.