segunda-feira, agosto 18, 2008

ANA TERESA: SÉRIE FOTOGRÁFICA NARCISA

foto Maria Teresa Vicente série Marcisa double life

As estratégias auto-representativas estiveram desde sempre ligadas à criação artística, com especial ênfase nos últimos quarenta anos. Desde as grutas de Altamira às representações egípcias, à escultura grega, a representação de si próprio ou do Outro, parece estar intrinsecamente ligada à génese da arte.
A obsessão actual com a corporalidade, com a relação entre o sujeito e a sua imagem, não é paradigma das artes plásticas, podendo ser encontrada tanto na literatura como na dança contemporânea. Na arte contemporânea podemos observar que preside um certo imaginário intrínseco de criação de um mundo próprio, o qual já não é mero espelho do mundo, obrigado a reflectir fielmente o que o rodeia, mimético, com uma estética que permita aceder a níveis metafísicos superiores mas sim a um mundo fragmentado, que gera novas visões, um relativismo de prspectivas, elegendo o corpo como tema que permite uma reflexão sobre o estilhaçamento do Eu e sobre a sua fragilidade. O espelho surge então como objecto que favorece a imaginação, o sonho. A transparência do espelho é comparável à superfície da água que, no mito de Narciso, «enuncia que o desejo de retorno uterino, quer o desejo de fusão no Uno, e a forma como estes coincidem com a morte». *
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*texto da própria Maria Teresa Vicente e itação de um ensaio de Margarida Medeiros
Uma outra questão é a narrativa ambígua que emana destas fotografias, quase de micro-narrativas dúbias, já que por vezes estas assumem um caráter quase poético, mas nas quais a tensão e a estranheza patentes se revelam nos pormenores e na presença, implícita ou não, de um segundo sujeito. É no indizível que a narativa ganha força, na construção e composição da imagem, bem como nas relações sugeridas entre os vários objectos e sujeitos que poviam estas imagens. Por não haver um sentido claro, cabe ao espectador a cumplicidade da produção de um significado.







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1 comentário:

jawaa disse...

As primeiras imagens podem sugerir-me uma narrativa, juntas ou cada uma de per si; a de baixo é para mim menos clara.
A severidade deste post, parece querer apagar a «alegria» dos anteriores...