segunda-feira, novembro 10, 2008

COSMOGRAFIA DO DESLUMBRAMENTO E DO LIXO

SPACEJUNK, animação de Miguel Soares

Há cerca de cinquenta ou sessenta anos a revista «Colliers» já publicava, pelo imaginário de van Braun, largos conjuntos de projectos dedicados às viagens no espaço cósmico, ou pelo menos entre os planetas mais próximos do Sistema Solar. Alguns desses projectos inspiraram, por fraccionamento, as verdadeiras pistas das primeiras cápsulas tripuladas (com vantagem para os soviéticos, nessa altura) e as possíveis viagens entre planetas. A prudência tecnológica, e as próprias limitações orçamentais, conduziram ao estudo de sucessivos rastreios comandados à distância, usando satélites artificiais capazes de orbitarem a Lua, Venus ou Marte, fase em que se acedeu a importantes conhecimentos sobre esses astros, tendo em conta cartografias decisivas e detecção dos componentes da armosfera, do solo, de uma grande variedade, aliás, de acções robóticas relativas a espectros químicos, por exemplo, cujos resultados eram enviados para a Terra. Pelo uso posterior, ou a par destes métodos, de sondas com meios de aterragem, movimentação e pesquisa, hoje já se pode defender que conhecemos praticamente todo o planeta Marte, além de estarmos cada vez mais informados sobre Vénus, Mercúrio, Júpiter ou Saturno, com exploração paralela dos vários satélies desses astros. De resto, ao lado desta programação que acabou por se estender até ao limite do Sistema Solar, além de sondas atiradas para o infinito, através da nossa Galáxia, o homem foi cumprindo um trabalho de avanço até à Lua, acabando por fazê-lo por intermédio do Projecto Apolo e de sucessivas viagens com astronautas que não só alunaram como trabalharam na superfície do nosso satélite.

Todo este conjunto de acções no espaço exterior à atmosfera terrestre, incluindo uma possível viagem até à superfície de Marte, precisa cada vez mais, no território do nsso planeta e em estações orbitais de carácter experimental e logístico, com astronautas permamentes, trocados em tempo próprio, o que se preparou, agora numa colaboração entre os mais avançados países ligados à exploração do espaço, com instalações entretanto já caducadas. Passou-se para a junção modular de nova concepção, habitáculos com gente a bordo, em rotação, sobretudo pela criação das recentes naves mediadoras, «Vai-vem». Essas naves de ida e vinda transportam vários astronautas, possindo um grande porão, apropriado, para carregamento de partes diversas, muito material de construção ou de sobrevivência, em ordem a cumpir as fases estruturantes da Estação em órbita, à qual atracam os cargueiros/mensageiros, cujos tripulantes convivem com os «residentes», fazendo, por intermédio de um grande braço móvel das naves mediadoras, o transbordo das mercadorias desse ponto para lugares estratégicos, na proximidade do ponto de montagem. Ao longo de todo este tempo, várias décadas, os estrategas de diferentes especialidades, passaram a controlar uma imensa rede de satélites robóticos que giram em torno da Terra, segundo diversas rotas, permitindo alertas de defesa, redes de comunicação e vigilância, a par de outras vias que são mais votados a experiências de retorno.

A imagem aqui publicada, de grande realismo, «imita» certas fotografias tiradas no espaço e em circunstâncias semelhantes. Este género de estações eram as «anunciadas» na «Colliers», nos anos cinquentam, e cujo modelo Kubrick usou no seu filme «2001, odisseia no espaço». Quase tudo, nesse filme, fazia parte de uma invenção decalcada em projectos «possíveis». Mas as chamadas Plataformas de Anel foram por enquanto abandonadas. Tarkoski realizou o seu filme «Solaris» num cenário a condizer com esse tipo de instalação cósmica, embora procurando, entre ruínas e lixo abandonado, desenvolver profundas reflexões sobre o homem, sua existência e situação no Universo. A figuração plástica que nos propõe Miguel Soares reveste-se, para além da sua singularidade enquanto espectáculo, a um tempo histórico do futuro no qual Plaraformas com esta confiuguração anelar, meio construídas ou meios desconstruídas teriam uso. Pode tratar-se de um desastre futuro, lixo em volta da constrção arruinada, assim destinada a vogar no silêncio até qualquer possível aproximação e queda na Terra. Mas as fases de construção chegam a parecer espectáculos assim. Os astronautas engenheiros não pousam as suas «caixas de ferramentas» numa mesa a seu lado, mas apenas no vazio e perto de si. Daqui e dali se recolhem peças, ferramentas, cabos, ligando o que há para ligar, encaixes, desperdícios de facto, consolidação dia a dia, semana a semana, ano após ano. E o que é mais inquitetante é o facto de uma rota orbital diversificada estar hoje carregada de satélites artificiais, restos de naves e de peças, caixas provisórias, tudo na mesma linha de comportamento que foi enchendo o nosso habitat dos mais diversos lixos, vulgares ou cada vez mais perigosos. Os mesmos erros além do horizonte. E talvez um dia, num local longínquo, colonizado pelo homem, espécie superior mas de difícil adaptação a uma profunda mudança de sentido e medida, dado a esta à sua mania de crescimentos apocalípticos.

1 comentário:

naturalissima disse...

Será que estamos a viver a era da mudança drástica da consciência do Homem a nível politico e social e, do eco-sistema?
Coisa esta que se fala já há tantos anos...Será que é tarde demais?

muito bom. gostei tio meu.
até já
:-)
danielablue